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FIM DA PENA
Chico Anysio volta ao ar "atirando"
Humorista reassume amanhã a "Escolinha do Professor Raimundo" e afirma que, com a sua suspensão, a Globo acabou punindo o público
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
ACABOU a "geladeira". Chico Anysio, 69, que estava suspenso da programação da Globo desde o dia 10 de outubro, volta ao ar amanhã, com a reestréia da "Escolinha do Professor Raimundo". O programa, que será exibido
de segunda a sexta, às 17h, marca o fim
da punição imposta ao comediante, que
havia criticado a direção da emissora, em
uma entrevista à revista "IstoÉ".
O humorista teve seu salário reduzido
em 42% e chegou a conversar com Silvio
Santos sobre uma transferência para o
SBT. A multa rescisória de seu contrato,
que vai até 2004, é de R$ 15 milhões. Mas
o que inviabilizou sua saída da Globo foi,
segundo ele, um acordo entre os donos
de emissoras, que se comprometeram a
não tirar uma estrela da concorrência enquanto estiver vigorando o contrato.
Anysio faz graça ao dizer que inaugurou "esse papo de suspensão". Mas dispara alguns cartuchos. "Ao me suspender, a Globo não puniu apenas a mim, ela
puniu também a quem gosta de mim.
Talvez tenha punido a ela própria", afirma. Durante o afastamento, ele terminou
um livro, "O Canalha", e dois roteiros de
filmes que pretende emplacar nos EUA.
O sr. pensou em sair da Globo, durante o
período de suspensão?
Isso não pode acontecer porque existe
um trato entre eles (os donos de televisão), negócio feito de boca -porque escrito seria ilegal-, de ninguém tirar ninguém de ninguém durante o contrato. E
o meu vai até 2004. Eu poderia ir para o
SBT. Até encontrei com o Silvio (Santos)
em Nova York, e conversamos muito. Ele
é meu amigo desde 1947, quando fizemos teste de locutor juntos, na rádio
Guanabara. O Silvio ganhou, e eu tirei o
segundo lugar. Ele disse: "Anysio, eu não
tiro você porque, se eu fizer isso, eles vão
lá e me tiram o Gugu (Liberato)". Não
pensei em ir para nenhuma (emissora).
Mas houve essa negociação com o Silvio
Santos?
É um namoro que existe desde que ele
comprou o SBT. Mas é um namoro impossível. Até porque eu gosto muito da
Globo, tenho 32 anos de empresa. E
inaugurei esse papo de suspensão. Nunca tinha visto isso.
Foram difíceis os dias de suspensão?
Não. Mas eu tive uma redução de 42%
no salário. Talvez tenha tido que cortar
alguma coisa, mas não sofri.
Como a volta foi negociada?
O Manoel Martins, diretor da Central
Globo de Produção, me telefonou, marcou uma reunião, foi lá e pronto. Só disseram que estavam em dúvida se faziam
a "Escolinha" uma vez por semana ou
diariamente. Preferi diariamente.
O sr. se arrepende das críticas que fez à
direção da emissora?
Não fiz nenhuma crítica à direção. Não
sei porque fui suspenso. Gosto muito da
Marluce (Dias da Silva, diretora-geral da
Globo), ela me trata muito bem.
Mas e sua crítica às contratações de Ana
Maria Braga, Luciano Huck e Serginho
Groisman?
Isso eu tenho direito de fazer, estou numa democracia. Isso não é motivo de
suspensão, disponho do direito de ir e
vir e de pensar e falar. Já procurei saber
os motivos, mas não me interessam, já
passou. Só acho que a Globo, ao me suspender, não puniu apenas a mim, ela
puniu também a quem gosta de mim.
O que o sr. fez durante a suspensão?
Acabei o livro "O Canalha", que vai
sair em abril pela minha editora, Taba, e
terminei o roteiro de dois filmes: "Homeless" e "The Man of the Past".
Por que roteiros em inglês?
Só escrevo filme para americano. Não
adianta escrever para brasileiro. Porque
o Brasil faz oito filmes por ano: três histórias de Nelson Rodrigues, três do Jorge
Amado e duas que o diretor já tem.
Para quem o sr. manda esses roteiros?
Depois de amanhã (na última quinta-feira), um deles, "Big Leo", chega ao Spike Lee. Em maio, vou ter um encontro
com Robert De Niro, vou entregar para
ele "The Analyst". Mas não é para o Robert De Niro filmar. É para dirigir. Eu
quero botar na cabeça dele que ele dirija.
Outro roteiro, "The Widow", está com a
Sally Field. Tenho 35 roteiros.
Algum deles já foi filmado?
Nenhum. Estou esperando o dia de me
abrirem a porta. Eu tenho um filme,
"The Friar", que está com o Sean Connery, pode ser que ele filme. Ele deu uma
entrevista ao Larry King e disse: "Eu
acho que vou fazer um filme de um brasileiro". Levei um susto. Ele começou a
contar a história -de um frade que chega a uma vila de pescadores na Irlanda-, eu quase morri, era o meu!
E o livro, de que trata "O Canalha"?
Conto a história brasileira recente,
desde Dutra até o fim do primeiro mandato do Fernando Henrique. O canalha
é um personagem que participou de tudo de errado que aconteceu no país. Deu
um revólver de presente ao Getúlio
(Vargas) e disse ao Tancredo para não ir
a São Paulo, porque os hospitais de Brasília são ótimos. Mas, se você parar para
pensar, é um livro didático, porque conta a história do Brasil de 1945 até 1998.
E o período do ex-presidente Collor e da
ex-ministra da Economia Zélia Cardoso
de Mello, sua ex-mulher?
Está tudo lá. O plano (econômico) da
Zélia foi ele (o canalha) quem fez.
O que mudou na "Escolinha do Professor Raimundo"?
Tem muita gente nova, como o André
Matos (Fininho), o Athayde Arcoverde
(Sivi), a Glória Portela (Dona Darci), a
Alice Borges (Dona Neura), a Daniela
Valente (Dona Tesinha) e o palhaço Carequinha. Vou poder usar a Claudia Jimenez, embora ela fique só até começar
a próxima novela das sete.
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