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David Blaine, do Fantástico, nas ruas de Nova York

ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO

ANTES da chegada da TV aos lares, uma das típicas diversões familiares era o circo, que sempre tinha como atração de destaque o mágico. Na era do circo eletrônico da TV não parece ser diferente, e cada vez mais as principais emissoras recorrem ao velho truque de usar mágicos para chamar atenção da audiência.
Até a católica Rede Vida tem um programa, o "Rinaldi Magic Show", onde a principal atração são truques de um mágico. A onda, que começou a esquentar com os quadros de Mister M no "Fantástico", na Globo, no ano passado, já foi ensaiada antes com números de mágicos famosos como David Copperfield, Siegfried & Roy e Lance Burton.
Mas desta vez diversos programas de destaque contrataram seus mágicos para tentar o difícil truque da multiplicação da audiência.
Os pesos-pesados nessa guerra são Mister M, que em um passe de mágica mudou de canal e agora engrossa as fileiras do "Domingo Legal", de Gugu Liberato, no SBT, e David Blaine, que surgiu no "Fantástico" e acaba de gravar alguns quadros para serem exibidos no "Domingão do Faustão".
Leonard Montano, 43, o homem por trás da máscara de Mister M, se adaptou aos novos tempos. Quando veio pela primeira vez ao Brasil causou protestos dos mágicos brasileiros e foi até entrevistado por Cid Moreira no "Fantástico", chegando a responder a perguntas como "Mister M, você é espada?".
Agora, no programa de Gugu, passou pelo Brasil quase sem ser notado e não sabe nem se poderá continuar usando o nome Mister M. Na última quarta, a Globo emitiu nota oficial afirmando que o nome é seu e que Montano deveria usar a alcunha Mágico Mascarado, tradução do nome escolhido por ele em inglês, Masked Magician.
Para chamar a atenção para si, resolveu atacar frontalmente seu concorrente ao ensinar o apresentador a fazer o truque da levitação de David Blaine, que fora mostrado no "Fantástico".
Revelar truques de David Blaine só prova que, no momento, ele é o mágico a ser seguido. Ele surgiu há três anos em um especial para a rede ABC, dos EUA, chamado "Street Magic" (Mágica das Ruas, em português).
Blaine, 25, se tornou popular porque ia contra a corrente. Enquanto os mágicos se esmeravam em, a cada momento, fazer ilusões mais grandiosas, ele foi para as ruas fazer truques aparentemente simples. Nada de palcos preparados cuidadosamente e belas assistentes. Tudo se resume a ele, a câmera e a pessoa para quem ele faz os truques.
"Eu trouxe a mágica para as pessoas. Elas sabem que não precisam mais comprar aparelhos de US$ 750 mil para fazer mágicas", disse em entrevista à Folha, por telefone, de seu escritório em Nova York. No ano passado, para promover o especial que seria exibido em abril, ficou uma semana dentro de um buraco sem comida e com uma quantidade racionada de água. O truque foi chamado por ele de "Enterrado Vivo".
Em novembro ele lança um novo especial e, também para promovê-lo, será congelado vivo por três dias, sem comida nem água. Depois, "se sobreviver", ele brinca, volta ao Brasil.
A Globo resolveu apostar mais em Blaine. A equipe de produção do "Domingão do Faustão" gastou mais de R$ 30 mil para ter o mágico em quadros que devem ser exibidos no programa quando os truques que foram comprados acabarem.
O mágico foi levado para as ruas de diversas cidades brasileiras, entre elas São Paulo e Salvador, e fez seus truques para brasileiros. Ele achou a experiência interessante e teve a oportunidade de experimentar a popularidade instantânea de quem aparece na TV brasileira. "Quando cheguei, ninguém sabia quem eu era. Bastaram algumas entrevistas na TV e, em menos de uma semana, precisamos usar seguranças e fugimos de multidões", diverte-se Blaine.
Essa popularidade extrema é o principal alvo do mágico brasileiro Eriko Trevensoli, 26. Ele viu o especial de Blaine no ano passado e tentou vender para alguma emissora no final do ano passado a idéia de fazer mágicas de rua.
Só a produção do "Programa do Ratinho" topou. "Fizemos algumas gravações, mas as pessoas estavam muito resistentes, porque era a época do auge das pegadinhas. Os quadros não ficaram legais e nunca foram ao ar", diz o mágico.
Mas, com o sucesso dos quadros de Blaine na Globo, Ratinho não hesitou e chamou Trevensoli novamente. Agora ele tem um quadro semanal no qual faz mágicas nas ruas, exatamente como o norte-americano.
"Não copio os truques, faço mágicas que são criações minhas. Apenas usei a idéia dele, que é brilhante, como uma forma de chamar a atenção para o meu trabalho", diz.
Com a popularidade que conseguiu no "Programa do Ratinho" Trevensoli espera ganhar algum dinheiro com um show que está montando e conseguir patrocínio para fazer uma grande ilusão: o desaparecimento de uma réplica de caravela que está exposta desde 1972 na lagoa do Taquaral, em Campinas.
Ele gostaria de levar as imagens desse truque para um grande encontro de mágicos que acontecerá em Portugal no mês que vem, com presença confirmada de David Blaine.
Quem aproveitou a onda, mas resolveu não copiar Blaine, foi o mágico Lipan Jr., 28, que se apresenta diariamente no "Eliana & Alegria", da Rede Record.
Ele é um dos únicos mágicos que até se arrisca a admitir que a chegada de Mister M incentivou o aumento do interesse do público por mágica. "Não aprovo o que ele fez, mas tenho que reconhecer que a procura por meus shows aumentou em uns 30% depois que ele apareceu", diz Lipan.
Em seu quadro diário, Lipan ensina mágicas simples para crianças e faz algumas grandes ilusões. Mas ele não está no programa de Eliana por acaso: há duas semanas, passou a ser agenciado pelo mesmo empresário da apresentadora, Marcos Quintela, o que é mais um sintoma de que mágica, na TV, ou nos palcos, passou a ser um bom negócio.


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