São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Criadores do "Achados e Perdidos" se inspiram no grupo inglês Monty Python
TV do Paraná faz programa com R$ 10

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"O MELHOR programa sem estilo nenhum da televisão brasileira." É o que diz o slogan de "Achados e Perdidos", humorístico semanal (sábados, às 23h) transmitido pela TV Independência, retransmissora paranaense da Rede Record. Criado e encenado pela trupe paranaense Mauro Rockenbach e os Abduzidos, que existe há três anos, o programa apregoa ser, também, o mais barato da TV brasileira.
Para ter uma idéia, sua primeira transmissão, levada ao ar em 4 de dezembro de 99, custou R$ 10. O dinheiro foi usado em duas latas de tinta para cobrir duas tapadeiras de cenário, tomadas da produção de outro programa, e para comprar um peixe para o esquete do "homem que vira peixe".
Hoje a atração custa em média R$ 500 por programa. Os gastos com elenco, figurino e criação são do grupo. A única receita é proveniente da inserção de merchandising dentro do programa. A renda desses anunciantes fixos é dividida entre a emissora e o grupo, e é o que paga o cachê dos artistas -que, ao mesmo tempo, fazem propaganda de seus espetáculos teatrais no ar. Já a emissora arca com os custos de captação, edição e exibição.
A edição, aliás, só serve para as reportagens de rua feitas por Edy Silva. O resto do programa não é editado, mas exibido como é gravado. Isso, além de cortar custos, contribui para uma "espontaneidade" defendida por Rockenbach, 39, e sua trupe. Em nome da característica, também não existe texto escrito, só um roteiro para a entrada dos quadros.
"Hoje trabalhamos dentro de uma TV aberta e temos que seguir o que tem a ver com a Record. Se fosse outra emissora, teria outra cara. Se estivéssemos em São Paulo, ou em rede nacional, seria outra realidade. Mas a gente não ia querer perder a espontaneidade."
O quadro de Edy Silva -o ator, anão, tem a alcunha de "repórter para pequenos assuntos"- é gravado nas manhãs de quarta-feira, geralmente na rua 15 de Novembro, um calçadão do centro de Curitiba, onde ele sonda a opinião pública sobre assuntos cotidianos. Por exemplo, no programa do dia 22 de abril, perguntava se "o Brasil foi achado ou perdido?"; no do dia 29, a pergunta era sobre o salário mínimo: "Trabalhar por R$ 151 enobrece ou empobrece o homem?".
Dentro do estúdio, todos os atores, fãs incondicionais do nonsense da trupe britânica Monty Python, se revezam em sátiras como Ana Bolacha Maria & o Moreno José, padre Q Medo, "Linha Indireta" e Vânia Volúpia, que dá dicas de sexo e comportamento no estilo do programa "Erótica", da MTV. Além de paródias, há ainda o segurança e repórter policial Luizinho Chave de Cadeia; afinal "todo programa desses tem de ter um repórter policial", diz Rockenbach.
Entre os oito integrantes, a única mulher é Cleuza Silva, a Tiazinha do Café, que serve a bebida com uma máscara; os outros oito são homens que, volta e meia, se vestem de mulher, "na linha do põe uma peruca, passa um batom e depois vira outra coisa" -bem "trash", como define Rockenbach.
Para fazer números musicais, o programa já recebeu os cariocas do Pedro Luís e a Parede e a banda baiana Penélope. Hoje, segundo o apresentador, "Achados e Perdidos" tem uma fila de espera de 50 bandas do Sul.
E a trupe não cansa. Eles têm na gaveta mais de 30 quadros, criados coletivamente. Para todos, o grupo segue um lema: "Humor se faz com a cara, não com a bunda" -eles não usam, por princípio, palavrões nem levam ao ar situações constrangedoras, como "pegadinhas".
"Na TV brasileira tem muita purpurina, muita luz e brilho, mas faltam outras coisas. Tem de ter mais massa crítica."



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