São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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COMPLICADA E PERFEITINHA
Mariana Ximenes mistura personagens do cinema e de livros para compor o perfil da maliciosa Bionda da novela de Carlos Lombardi
Freira de "Andando..." vira rebelde em "Uga Uga"

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Depois de interpretar uma recatada freirinha em "Andando nas Nuvens", Mariana Ximenes aparece em "Uga-Uga" como uma mulher rebelde e maliciosa


ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO

A PALAVRA "metódica" é uma boa opção para definir a atriz Mariana Ximenes, 19, a Bionda da novela "Uga Uga", da Globo.
Em meio a várias modelos e aspirantes a atrizes em busca da fama fácil, Mariana faz questão de impor diversas regras ao seu cotidiano e faz alguns sacrifícios. O maior deles no momento é exercitar-se diariamente com um personal trainer.
A atriz adora praticar esportes como capoeira, basquete e futebol, mas afirma que odeia malhar, embora entenda que é um sacrifício necessário.
Há também atividades das quais ela gosta e que incorpora à sua agenda para que não deixe de praticá-las na sua rotina atual, de muita correria.
Assim, ler jornais e livros se tornou uma obrigação diária, e Mariana vai, sempre que pode, ao cinema e ao teatro. Ela faz questão de dizer que "um ator deve ter esses hábitos para se renovar".
Paulistana criada na Vila Mariana, a atriz se transferiu para o Rio aos 17 anos e já se considera integrada ao cotidiano carioca. Depois de um ano morando sozinha, divide com a mãe um apartamento em São Conrado (zona sul do Rio).
Seu dia é dividido entre as gravações de "Uga Uga", aulas de empostação de voz e ensaios para a peça "A Rosa Tatuada", baseada na obra de Tennessee Williams, na qual contracenará com Louise Cardoso. Quando encontra tempo, namora o ator André Dias, que qualifica como "compreensivo" com agenda lotada.
Como resultado de tudo isso, a atriz fala com muita intimidade sobre cinema, literatura e teatro e gosta de conversar ao som da trilha sonora do filme "Paris, Texas", de Wim Wenders. Leia a seguir alguns trechos de sua entrevista à Folha:

Depois da contida Celi, de "Andando nas Nuvens", sua nova personagem em "Uga Uga", a Bionda, é uma mudança radical. Como você se preparou para isso?
Fiz um trabalho de composição. A Celi era meiga, introvertida, falava devagar. A Bionda é maliciosa. É uma rebelde consciente. Fiz megahair e comecei a malhar diariamente, o que é um sacrifício, porque adoro esporte, mas odeio malhação. Já fiz capoeira e joguei basquete e futebol. Além disso, vi alguns filmes e fui pegando tipos. Por exemplo, peguei um pouco da Patrícia Arquette no filme "Stigmata" e me inspirei também em "Corra Lola Corra". Sou uma menina, tenho muito o que aprender, mas tento fazer um trabalho de composição. Juntei o que aprendi com as experiências no teatro e nos livros. Troco informações, junto intuição e a paixão pela profissão. O maior obstáculo foi enfrentar as dificuldades de morar sozinha no Rio aos 17 anos. Tive liberdade com muita responsabilidade, porque cumpria os horários.

É preciso muita disciplina para manter a concentração nessas condições?
Sou metódica. Não vejo noticiário na TV, leio jornais todos os dias. Nem à novela eu assisto, por falta de tempo. Gravo para ver um dia. Leio jornais porque acho que artista tem de ler jornal sempre. Porque todo dia acontece uma coisa que te modifica, que te influencia de alguma forma. Procuro ler livros sempre, e falta de tempo não é desculpa. Dou um jeito de ler quando estou fazendo o meu cabelo, por exemplo.

Você citou referências de filmes para a composição dos personagens. Gosta muito de cinema?
Sou uma cinéfila. Adoro o cinema europeu e de outros países. Amei "Antes da Chuva" e "Gosto de Cereja". Gosto daquela placidez, dos planos longos. Acho natural. Em "Antes da Chuva", fiquei fascinada pela história da Macedônia, pela fé deles. Em "Buena Vista Social Club", do Wim Wenders, me impressionam os closes dos artistas, aqueles olhares nos quais você pode vagar e ver toda a vida da pessoa em um segundo. Comprei os CDs e gosto muito de ouvi-los.

Por que a preferência pelo cinema europeu?
Gosto do cinema norte-americano também, mas eles meio que esqueceram aquela simplicidade. Não a colocam mais em primeiro plano. "Matrix", por exemplo, eu adorei, não sou preconceituosa, mas é um exemplo de filme que eles levam para o lado da tecnologia. A gente não pode perder o que é básico e puro. Como "...E o Vento Levou". É uma superprodução da época, mas fala das relações entre as pessoas, e você vê que há o trabalho do ator. Em "1900", com o Gérard Depardieu, são quatro horas de filme. Eles não fazem aquela concessão ao comercial de fazer o filme forçado, com duas horas. Mas isso não quer dizer que filmes que seguem alguns critérios convencionais não possam ser interessantes. "Beleza Americana" é um filmaço. Gostei também daquela comédia romântica bobinha e bonitinha, "Notting Hill", com a Julia Roberts.

De onde vem todo esse interesse por literatura e cinema?
Quando falei em ser atriz pela primeira vez, tinha 6 anos. Óbvio que ninguém leva a sério uma menina de 6 anos, nem eu mesma levava. Com 7, meu pai disse: "Você quer ser atriz? Tome isso aqui". Era uma coleção da obra de Monteiro Lobato. Aquilo parecia uma bíblia. Uns livros verdes, grossões. Acabei lendo e fui tomando gosto pela leitura. Aí, uma vez, passou "...E o Vento Levou" na TV. Eu tinha 10 ou 12 anos, lembro que meus pais tinham saído, e eu fiquei com a minha empregada em casa. Eu a enganei e fiquei até de madrugada assistindo. Em 98, prestei vestibular para cinema, mas não consegui começar o curso. Não tenho a pretensão de ser diretora de cinema, adoro representar. Acho que quis fazer cinema mais para tentar entender o funcionamento.

E você já esteve em alguma produção cinematográfica?
Fiz um longa chamado "Um Sonho no Caroço do Abacate". Era uma co-produção Brasil e EUA. Atuei com o Elliot Gould e aquela moça de "O Poderoso Chefão" e da série "Rocky", a Talia Shire.

Você veio morar no Rio sozinha muito jovem. Como fez para enfrentar o assédio dos fãs e as dificuldades de estar só?
Eu já tinha vivido isso antes, em menor escala, por conta dos meus outros trabalhos. Já tinha feito mais de 200 comerciais, um "Você Decide" e o primeiro especial de "Sandy e Junior", na Globo, além da novela "Fascinação", no SBT. Encaro isso como o reconhecimento do meu trabalho. O grande público é o maior crítico da gente. Se você cria empatia, é um bom indício.



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