São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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NOVELAS EM CRISE
Globo sofre falta de autores


Emissora convoca Aguinaldo Silva menos de um ano depois de "A Indomada" ter saído do ar


ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

A Globo está com dificuldades para escalar o autor da novela que irá substituir "Torre de Babel", a trama das oito da emissora.
A escassez de escritores obrigou a Globo a quebrar o rodízio de autores previamente definido.
A princípio, a atual novela das oito seria de Gilberto Braga ("Dancin'Days" havia sido cotada) e a próxima, de Silvio de Abreu. Como Braga já está escrevendo a minissérie "Labirinto", Aguinaldo Silva e Benedito Ruy Barbosa foram convocados a apresentar sinopses.
Barbosa, de "O Rei do Gado", só deveria voltar ao ar em 99. "Cada autor tem a sua vez e eu só devo entregar uma sinopse no início de 99", diz.
Silva escreveu "A Indomada", que terminou em outubro de 97. Para convencê-lo a apresentar uma sinopse, a direção da Globo fez uma promessa que Silva considera sedutora: a novela seria dirigida por Daniel Filho.
O quadro de autores para o horário conta ainda com Glória Perez e Lauro César Muniz. Todos têm algum problema.
Glória escreverá a próxima novela das seis. Muniz saiu do ar em janeiro de 98, após escrever duas novelas em seguida, "Quem É Você" (96) e "Zazá" (97).
Sobraram Manoel Carlos, que acabou de escrever "Por Amor", e Sílvio de Abreu, que escreve "Torre de Babel".

Renovação
A renovação de nomes é lenta. Escrever novelas é considerado difícil pelos próprios autores.
Segundo Aguinaldo Silva, que escreveu "Pedra Sobre Pedra" e "Tieta", o autor precisa ter "capacidade de renúncia".
Quando descobrem que terão que abrir mão de um ano de suas vidas, os aspirantes desistem. "Escrever novelas exige 10% de talento e 90% de obsessão."
Dias Gomes, autor de "Roque Santeiro" e da minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos", desabafa: "É muito desgastante. Espero não ter que fazer novelas nunca mais", diz.
Segundo Lauro César Muniz, que escreveu "O Salvador da Pátria" e "Roda de Fogo", o público de novela das oito quer densidade dramática e uma trama atual.
"Esse horário é o coração da programação. A pressão é enorme", conta.
Mas Muniz diz que não há escassez. No passado, era pior. "Houve época em que havia, praticamente, Janete Clair e eu."
Para Manoel Carlos, sempre houve escassez.
Ricardo Linhares, que prepara a próxima novela das sete, com o nome temporário de "Terra do Sol", é a maior promessa para o time de autores de novelas das oito da Globo.
Linhares se esquiva. "Preciso comer muito feijão-com-arroz ainda."
Já Alcides Nogueira, que auxilia Sílvio de Abreu a partir do capítulo 30 de "Torre de Babel", diz que o rótulo de autor de novela das oito não funciona. Segundo ele, horário diferente é o das sete.
"Os autores das oito costumam se dar muito bem na faixa das seis também. O público é muito parecido", afirma.
Para Glória Perez, não há dúvidas sobre uma escassez geral. Não só no horário das oito como em todos os outros. "A prova é que, por falta de autores, vou escrever a próxima novela das seis", conta.



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