São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dona Flor 2000

Estréia terça-feira na Rede Globo a minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos", que traz para os dias atuais a história de Jorge Amado ambientada originalmente nos anos 30 e 40, em Salvador; produção, com 20 capítulos, tem a missão de combater a ascensão da audiência de "Ratinho Livre" (da Record) e "Márcia" (do SBT)

Divulgação
Edson Celulari, Giulia Gam e Marco Nanini em cena de "Dona Flor e Seus Dois Maridos"


da Reportagem Local

Temperada com sexo e realismo fantástico, a minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos" estréia nesta terça, às 22h, na Rede Globo, com a missão de combater a migração de audiência da emissora para a Record e para o SBT.
A minissérie de 20 capítulos, adaptada por Dias Gomes do livro de Jorge Amado, terá um episódio especial na terça, com 80 minutos de duração. A obra original, ambientada na Bahia dos anos 30 e 40, foi atualizada e se passa no final dos anos 90.
"Dona Flor e Seus Dois Maridos" mostra o envolvimento da professora de culinária Florípedes Paiva (Giulia Gam), a Dona Flor, com os maridos Vadinho (Edson Celulari) e Teodoro (Marco Nanini).
A história traz uma solução "mágica" para o adultério. Insatisfeita com o atual parceiro, o metódico farmacêutico Teodoro -que só faz sexo duas vezes por semana, com bis aos sábados-, a ex-viúva Flor consegue trazer de volta o primeiro marido, o boêmio Vadinho, viciado em jogos.
Vadinho é uma criação da mente de Flor. Só ela o vê, sempre nu, pelas ruas de Salvador ou dividindo a cama com Teodoro.
"O desfecho da história é revolucionário, principalmente do ponto de vista feminino", analisa o ator Edson Celulari, para quem "em cada linha do romance de Jorge Amado há sensualidade, misturada com tragédia e humor".
Celulari afirma que Vadinho e Teodoro, embora antagônicos, funcionam como complementos para Dona Flor. No primeiro, ela encontra a sexualidade. No outro, a segurança.
O ator afirma que se inspirou em Caetano Veloso para compor Vadinho. "O dengo dele foi o meu referencial", diz, acrescentando que a minissérie não se esforça em reproduzir o sotaque baiano -"ficaria carregado"-, e que prioriza a fala quase cantada.
"A minissérie tem o charme, o gingado e o cheiro do baiano", afirma Celulari, que gravou cenas externas, de uma procissão na ladeira do Pelourinho, em Salvador, usando apenas um tapa-sexo, diante de 350 figurantes.

Mudanças
Embora a Globo assinale a "fidelidade" à obra de Jorge Amado, foram introduzidas diversas mudanças, entre elas a temporal.
Diferentemente do filme homônimo de Bruno Barreto, de 1976, Vadinho não morre vestido de mulher, durante o Carnaval baiano. Na versão da minissérie, o personagem sofre um ataque cardíaco fatal, em pleno desfile do bloco Filhos de Afoxé, usando fantasia masculina.
A minissérie também deu maior relevância a personagens secundários do livro -e até esquecidos pelo filme.
O bicheiro Calabrês (Otávio Augusto), por exemplo, ganhou família e até um rival, Neca do Abaeté (Lúcio Mauro).
Segundo a sinopse de "Dona Flor", a minissérie acrescentou violência à trama, enfocando a ascensão dos bicheiros, que, na época em que se passa a história original, não eram reprimidos, porque o jogo era legal.
A minissérie criou também um cassino clandestino, o Novo Tabaris. É lá que Vadinho faz suas apostas, que se encontram bicheiros, bandidos e boêmios.
É no cassino também onde a personagem Marilda (Thalma de Freitas), amiga de Flor, inicia sua carreira de cantora, interpretando sucessos atuais da música baiana. A baiana Daniela Mercury faz uma ponta na minissérie, cantando "Feijão de Corda".
Outra inovação foi o redimensionamento da personagem Noêmia (Cláudia Liz). Noêmia ganhou família. É filha de um banqueiro que vai à falência, prejudicando vários personagens. Qualquer semelhança com a quebra do banco baiano Econômico não será mera semelhança.
(DANIEL CASTRO)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.