São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV NO MUNDO
Para criadores de seriados policiais da TV, seus programas não exercem más influências
Produtores de séries debatem ética

das agências internacionais

Há duas semanas, um debate no Museu da Televisão e do Rádio de Nova York reuniu quatro roteiristas e produtores de alguns dos principais seriados atualmente em exibição pela TV norte-americana.
O tema era "Ética em Episódios" e, enquanto os convidados discutiam a influência do ambiente político, social e moral sobre seu trabalho, uma audiência na sede do museu em Los Angeles assistia a tudo por meio de um telão.
Dick Wolf, o criador de "Lei e Ordem" (exibido no Brasil pelo canal USA), foi questionado sobre quais seriam os assuntos mais espinhosos abordados nos episódios de seu seriado. A resposta veio rápida: "Suicídio de adolescentes", disse.
"Acho que é realmente problemático dizer que a culpa das elevadas estatísticas desse tipo de crime é daquilo que aparece nos seriados de TV, mas considero também um perigo abordar o tema suicídio por causa dessa idéia disseminada entre os jovens de que é OK reproduzir tudo o que se vê na TV. Para eles, quase tudo que passa na televisão é muito atraente, dá vontade de fazer igual", explicou Wolf.
Para o produtor de "Homicide: Life on the Street", Tom Fontana, da rede NBC, a influência dos pais é superior a isso tudo. "É bom que eles acompanhem o que os filhos vêem e, se acharem que é o caso, conversem com as crianças para evitar más influências", afirmou.
Fontana revelou também que dois episódios de seu programa não foram exibidos por causa dos acontecimentos na escola Columbine, do Colorado, onde dois estudantes provocaram um massacre de mais de dez outros. "O que mais me frustra é que, quando nossos episódios foram adiados, os telejornais ficaram no ar falando ininterruptamente a respeito do tiroteio na escola sem nenhum tipo de pressão da direção da emissora. Eles puderam explorar a tragédia, e nós é que fomos considerados os vilões dessa história toda. Nós é que somos acusados de causar essas tais más influências."
Outro debatedor, Steven Bochco, produtor executivo de "Nova York contra o Crime" (exibido aqui no Brasil pela Rede Record e pelo canal Fox), defendeu o conteúdo dos seriados policiais. "Acho que a abordagem dos temas mudou significativamente nos últimos tempos. Nós amadurecemos, somos muito mais responsáveis", disse.
Mas não são só cenas de violência que geram problemas. David E. Kelly (criador de "Chicago Hope" e "Ally McBeal", entre outros) revelou que foi incapaz de usar um coloquialismo para sexo oral em um episódio recente do drama "O Desafio", na mesma época do escândalo da Casa Branca envolvendo a estagiária Monica Lewinsky e o presidente Bill Clinton. O "ambiente moral" estava carregado e o momento exigia seriedade.


Texto Anterior: "Rock e Gol" traz de volta os Sobrinhos
Próximo Texto: Parabólicas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.