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Flávio Silvino dá um toque de realismo ao personagem Paulo, pois ambos sofreram acidentes e lutam para se recuperar; Manoel Carlos criou o personagem especialmente para o ator

CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O TELESPECTADOR hipocondríaco deve estar se deliciando. Na novela das oito da Globo, "Laços de Família", pode não haver grandes vilões, mas o que não falta é hospital, médico, remédios. De um simples mal-estar a uma internação na UTI, é difícil achar uma semana na novela que não traga ocorrências médicas.
O drama do galã Edu (Reynaldo Gianecchini) -que há alguns capítulos caiu do cavalo e perdeu os movimentos e a sensibilidade do pescoço para baixo e, depois de uma cirurgia na coluna, está em fase de recuperação- é apenas mais um da longa lista de acidentes e doenças que tem recheado a trama.
Logo no primeiro capítulo, há menos de dois meses, a protagonista Helena (Vera Fischer) bate seu carro no de Edu -que, por sinal, acaba de se formar em medicina. Os dois, que mais tarde iriam se apaixonar, vão direto para a clínica médica de um amigo de Edu: Helena leva pontos na testa, pois bateu a cabeça.
Corta para o Rio Grande do Sul, onde Aléssio (Fernando Torres), pai da mesma Helena, agoniza numa cama, com os dias contados por causa de um câncer no pulmão, enquanto expulsa de seu quarto médicos que querem lhe dar injeções.
De volta para o Rio de Janeiro, um pobre homem, Viriato (Zé Victor Castiel), sofre -e, consequentemente, sua mulher junto- com um problema de impotência sexual.
Ele faz tratamento com o médico Laerte, também expert em tratar algumas doenças com acupuntura, o que encanta o recém-formado doutor Edu.
Viriato e sua mulher, alguns capítulos mais tarde, têm de enfrentar um problema ainda pior: a filha Raquel (Carla Diaz) é atropelada, precisa ser operada e fica internada alguns dias na UTI, entre a vida e a morte. Sorte melhor teve Clara (Regiane Alves), nora de Helena, que também foi atropelada, com a filha no colo, mas apenas quebrou uma perna.
Enquanto isso, Paulo, outra vítima de um acidente, faz sessões de fisioterapia para tentar recuperar todos seus movimentos e habilidades -papel inspirado no drama real do ator que o interpreta, Flávio Silvino, que há alguns anos também sofreu um acidente e ainda está se recuperando.
""Laços de Família" está com uma trama muito linear, sem grandes reviravoltas por enquanto, e as doenças e os acidentes estão servindo como os vilões da novela. Mas isso já está ficando um pouco exagerado. Se continuar desse jeito, em pouco tempo a medicina vai ser a temática predominante na trama da novela", afirma a professora Maria de Lourdes Motter, uma das coordenadoras do Núcleo de Telenovelas da USP (Universidade de São Paulo).
De fato, o telespectador já está ficando "entendido" em procedimentos médicos, pois o que não tem faltado são falas como a do médico que trata de Edu: "Com o impacto da queda, alguns ligamentos foram rompidos, e a coluna ficou frouxa, instável. Faremos uma cirurgia para retirar um disco entre uma vértebra e outra, vamos fazer um enxerto no local e pôr uma placa de titânio, para colocar novamente a coluna no lugar."
O autor da novela, Manoel Carlos -famoso por suas histórias que tratam da "vida cotidiana", como ele mesmo diz-, se defende. "Minhas novelas pretendem sempre contar fragmentos das vidas de várias pessoas. São pequenos e grandes dramas e comédias da vida. E, com isso, os desastres, os divórcios, os casamentos, as doenças, os nascimentos e as mortes não podem ficar excluídos", diz.
"Um velho de quase 80 anos morre de câncer. Alguma novidade? Uma criança é atropelada numa rua do Leblon, onde os sinais não são obedecidos. Não é natural? Tenho um haras como cenário fixo da novela, onde desde o primeiro capítulo as pessoas cavalgam. É estranho que uma dessas pessoas caia do cavalo? Isso tudo não serve para substituir nem vilões nem nada. Minhas novelas são assim. Existem vilões nas minhas histórias, mas não o tempo todo. Tenho horror a qualquer maniqueísmo."

Polêmica
De qualquer forma, quem ainda está saudável em "Laços de Família" que se cuide. O personagem Danilo (Alexandre Borges), por exemplo, vive se queixando de dor nas costas -e a mulher (Marieta Severo) insiste em que ele vá ver um médico, para não acabar como o amigo Rodrigo, que nunca havia feito exame de próstata e acabou tendo de ser operado.
Mas o pior ainda está por vir. Camila, vivida por Carolina Dieckmann, descobrirá em breve que tem leucemia, desencadeando um novo drama e uma polêmica na trama. Bem que dona Ema (Walderez de Barros) -ela mesma sempre de cama, tomando vários remédios por causa de sua pressão alta- vive avisando que a menina não tem uma aparência saudável...
A leucemia de Camila deve fazer a disputa com sua mãe pelo amor de Edu perder um pouco de força na trama, pelo menos por hora.
Desesperada em encontrar um doador de medula para a filha -o único modo de salvá-la-, Helena revelará que Pedro (José Mayer) é o pai de Camila e vai propor a ele que os dois tenham um novo bebê, para ser um possível doador.
"A leucemia de Camila vai causar polêmica e levantar problemas éticos, sim. Minha intenção é contar uma história, e a história que eu resolvi contar tem esses fatos. Tenho certeza que o público vai acompanhar com grande interesse", afirma Manoel Carlos.


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