São Paulo, domingo, 30 de julho de 2000


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PERFIL / ANA PAULA PADRÃO

Após se aventurar pelo Afeganistão, a jornalista Ana Paula Padrão enfrenta outro desafio a partir do dia 7: substituir Lilian Witte Fibe no "Jornal da Globo". Nascida em Brasília há 34 anos, é repórter há 15 e já foi correspondente em Nova York e Londres. Filha de uma locutora de rádio e de um advogado, chegou a ser professora de balé, mas desistiu da carreira por causa da notícia. "Trabalhei muito para chegar onde estou", diz.

ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

O que muda no "Jornal da Globo" com a sua estréia como apresentadora?
Olha, ninguém quer reinventar a pólvora. O que queremos é fazer um jornal que seja visualmente mais moderno, com um conteúdo um pouco mais denso. Mas continua sendo um jornal de notícias, já que as pessoas querem chegar em casa e ver as novidades do dia, saber do que aconteceu.
O que significa ser mais denso?
Quem não viu o "Jornal Nacional" quer ver notícia. Elas têm de estar no ar -e vão estar. Mas quem já viu outro jornal e leu os periódicos do dia quer um pouco mais. Esse espectador quer uma explicação melhor, um passo a mais na notícia, uma nova notícia... e isso é o que tentaremos fazer no "Jornal da Globo".
Mas vai haver mudanças estruturais significativas?
Isso tem de ir sendo feito aos poucos. Tenho primeiro de conhecer bem a cabeça das pessoas com as quais vou trabalhar, e elas têm de ir se adequando ao novo projeto do jornal.
Você sempre foi mais repórter do que apresentadora. E agora? Vai se afastar um pouco da reportagem?
De jeito nenhum. É uma questão de perfil, não tem saída. Não sou apresentadora, nunca fui. Sou repórter, apuradora. E vou estar apurando todos os dias. Claro que nos primeiros tempos vou ter de me preocupar mais com a forma do jornal, com a equipe etc. Mas nunca vou deixar de apurar. É isso que sei e o que gosto de fazer. Vou inclusive sair para fazer reportagens. O que, aliás, está dentro do projeto de fazer um jornal itinerante, que esteja mais na rua, que seja mais quente.
Surgiu assim a idéia de levá-lo para Sydney? Haverá uma cobertura especial da Olimpíada para seu jornal?
Sim, é essa a idéia de itinerante. Vou apresentar o jornal de Sydney, sempre com notícias quentes. Nesse ponto, seremos o jornalístico da Globo mais privilegiado em relação ao fuso horário. Daremos notícias de esporte, claro, mas manteremos uma equipe em São Paulo tocando o restante do jornal.
Diferentemente de outros jornais, você vai para o "Jornal da Globo" como editora-executiva e não como editora-chefe, cargo ocupado agora por Ricardo Mello..
Nossa equipe está trabalhando muito em grupo, tudo é discutido, com todos. Hierarquicamente respondo a um editor-chefe, claro, com quem aliás me dou muito bem... Não tenho problema com o poder, não estou interessada em poder, mas sim no jornal que vai ao ar.
A Lilian Witte Fibe acabou de fechar contrato com um site. Você se interessa por Internet, pensa em investir nisso?
Nesse momento, todas as minhas energias estão concentradas no "Jornal da Globo". E, se eu tiver de pensar em Internet, será um projeto voltado para ela.
Qual a maior dificuldade de um correspondente? É chegar a um país desconhecido, sem fonte alguma?
Tudo é entender a cabeça das pessoas. Se você conhece a cabeça de um ministro a ponto de saber que ele não seria capaz de tomar tal atitude, você está muito mais perto da notícia. Isso serve para um político em Brasília ou um refugiado em Kosovo. Acredito que o jornalista é uma pessoa que chega a um lugar, entende o que está acontecendo e transmite isso.
Mas não é cansativo mudar tanto de cidade, até de país, como aconteceu com você nos últimos anos?
Adoro mudanças, desafios. E sou muito prática. Por exemplo, aluguei meu novo apartamento em São Paulo em uma manhã. Embarco em setembro para Sydney, e não dava para adiar a estréia do jornal. Então tive de me virar.
Como você começou na TV?
Nunca tive intenção de fazer TV, sempre quis trabalhar em jornal. Quando estava na faculdade, fazia uns frilas para a revista "Senhor", e o editor de lá ficava me dizendo que eu tinha rosto e voz para a TV. Até que, no fim de 86, esse mesmo editor me apresentou ao chefe da retransmissora da extinta Manchete em Brasília. Fiz um teste e, no dia seguinte, fui contratada. Menos de seis meses depois, a Globo me chamou... e foi isso.
O que você se orgulha de ter feito profissionalmente no Brasil?
Foi ajudar a levar a economia para a rua, torná-la mais compreensível. Sempre firmei minha carreira nisso, de fazer com que a economia fosse algo visualmente agradável na TV, que as pessoas entendessem que ela ocupa um papel fundamental na vida delas. Sinto-me privilegiada de ter feito a cobertura jornalística dos planos econômicos, de ter colaborado para melhorar a vida das pessoas nesse sentido.



BLITZ
Nome: Ana Paula de Vasconcelos Padrão
Data e local de nascimento: 25 de novembro de 1965, em Brasília
Principais trabalhos na TV: Reportagens para "Fantástico", "Jornal Nacional", entre outras atrações da Globo




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