São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

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CONFLITO NA TELA

Adrenalina motiva jornalista na guerra

Para profissionais da TV, estar presente em acontecimentos históricos justifica o risco de vida

CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

SANGUE FRIO e muita ousadia compõem a receita para repórteres e cinegrafistas de TV que se aventuram por um país em conflito -o que pode voltar a ocorrer caso os EUA decidam atacar o Afeganistão, desencadeando uma guerra. Para quem já trabalhou num campo de batalha, a adrenalina e a emoção de estar "presenciando a história" parecem compensar os riscos.
"Gosto dessas coberturas, têm adrenalina. Claro que o medo sempre está lá, mas faz parte. Sem ele, um câmera se arrisca demais, e aí é morte na certa", diz o cinegrafista Sérgio Gilz, que cobriu guerras no Kuait, Líbano e em Sarajevo, entre outras. "E os câmeras são os que mais correm perigo, pois estão sempre na frente e são mais visados, já que captam imagens muitas vezes proibidas. Em Sarajevo, os guerrilheiros chegavam a pagar US$ 500 por um cinegrafista morto."
Imagens indesejadas -pelo menos para as partes em guerra- costumam ser o elemento que acentua o perigo para as equipes de TV. "No Afeganistão, andávamos com as fitas gravadas amarradas na cintura, com medo de perdê-las", conta Ana Paula Padrão, da Globo, que também esteve em Kosovo.
Além do constante risco de vida, outros fatores, como falta de comida, energia elétrica, e, muitas vezes, a impossibilidade de descanso contribuem para o estresse nesse tipo de cobertura. "Na guerra do Golfo, cheguei a ficar quatro dias sem dormir. De tão cansado, entrei no ar, por telefone, no "Jornal da Globo" e não me concentrava. Repetia a mesma coisa sem parar, não lembrava o nome de um ministro e ficava dizendo: "Espera aí que eu vou me lembrar". E isso ao vivo", conta o repórter Carlos Dorneles.
Há também a dificuldade de se conseguir notícias. "Sempre há um cerceamento", diz Luiz Carlos Azenha, que cobriu a invasão americana no Panamá, nos anos 80, para a TV Manchete. Mas ser brasileiro pode ajudar. "As pessoas simpatizam com a gente, falam de futebol, nos consideram neutros. Aí fica mais fácil conseguir informação", diz o repórter Ernesto Paglia, que esteve no conflito entre Irã e Iraque.


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