São José dos Campos, Domingo, 4 de julho de 1999

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Festival de Inverno faz 30 anos e erudito perde espaço para a MPB

KARINA OGO
da Folha Vale

O Festival de Inverno de Campos do Jordão deste ano comemora 30 anos de história em processo de descaracterização de seus objetivos oficiais. A música erudita perde cada vez mais espaço para a MPB.
O decreto estadual 18.436, publicado em fevereiro de 82, afirma que o festival "terá como objetivo básico o desenvolvimento de atividades ligadas à musica erudita", entre outros pontos, inclusive a obrigatoriedade de o evento ser realizado em Campos do Jordão e em julho.
Segundo Arakaki Masakazu, 74, diretor do Palácio Boa Vista -local em que o festival ocorreu em suas primeiras edições- entre 69 e 94, o evento perdeu sua característica inicial. Ele participou diretamente da organização e da promoção do festival até 84.
De acordo com Masakazu, a maior diferença percebida no decorrer dos anos foi a diversificação dos estilos de música. Apesar de reconhecer a sua importância, a apresentação de cantores como Gilberto Gil, uma das principais atrações do evento neste ano, fugiriam do propósito do festival.
"Isso significa que as manifestações que não são eruditas contrariam a lei", disse o ex-diretor do Palácio Boa Vista, casa de inverno dos governadores de São Paulo.
O número de representantes da MPB tem aumentado nos últimos anos. Além de Gil, que se apresenta no dia 23, outros nomes da MPB incluídos na programação deste ano são os de Cris Delanno, Mônica Salmaso e Rosa Passos.
Em 98, estiveram no festival Antonio Nóbrega e Arrigo Barnabé.
O advogado Pedro Paulo Filho, 61, autor de seis livros sobre Campos, também acompanhou os primeiros anos do evento.
"Houve uma mudança grande no decorrer dos anos. A diversidade de pensamento dos secretários da Cultura também levam a isso. Na tentativa de dar maior dinâmica, o evento acaba perdendo a tradição", afirmou Paulo Filho.
Neste ano, um dos enfoques do festival será a música popular, devido aos 500 anos do Descobrimento do Brasil, comemorado em 2000.
"As duas vertentes, favorável ou desfavorável às características do evento, sempre vão existir. Todos têm seus argumentos", disse o coordenador artístico do festival, o oboísta e integrante da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Arcadio Minczuk.

Economia
A falta de artistas conhecidos internacionalmente e o número de bolsistas neste festival são apontados como consequências da crise econômica. A Telesp Celular, patrocinadora do evento, está investindo R$ 1,8 milhão no festival.
Entre as atrações estrangeiras presentes no ano passado em Campos do Jordão, estiveram a soprano norte-americana Kathleen Battle, a pianista espanhola Alicia de Larrocha e o violinista russo Boris Belkin.



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