São José dos Campos, Quinta, 29 de outubro de 1998

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INFÂNCIA ROUBADA
Bairros de Campinas têm 835 menores de 5 anos com desnutrição; famílias estão racionando comida
Pesquisa revela 'bolsões' de desnutrição

da Reportagem Local

Campinas concentra hoje pelo menos seis "bolsões" de miséria com índice de desnutrição de 22,8% entre crianças de até 5 anos.
As áreas têm um total de 3.662 crianças nessa faixa etária e 835 delas estão desnutridas.
A média de desnutrição registrada em Campinas é de 2,5% quando se considera toda a população.
Os bolsões ficam no Jardim Campina Grande (região noroeste), áreas rurais da região leste, Vila Padre Anchieta (região norte), Parque Jambeiro (sul), DIC-1 (Distrito Industrial de Campinas), na região sudoeste, e Jardim São Domingos (região sul).
Os dados foram revelados em uma pesquisa do Departamento de Nutrição da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica).
A coordenadora do projeto, a professora Erly Catarina de Moura, 44, disse que o índice é alarmante. "São pessoas que vivem em estado de pobreza absoluta."
Nos bolsões, a média de desnutrição considerada mais grave é de 1,5%. Já a desnutrição moderada nas seis áreas é de 21,3%, segundo a pesquisadora.
A desnutrição é mais grave quando a criança tem falta de vitaminas e minerais e sua estrutura muscular é afetada. A moderada ocorre na falta de calorias.

À margem
A professora disse que nos bolsões de pobreza famílias vivem em miséria absoluta e à margem dos serviços de saúde pública.
Segundo ela, há casos de mães que misturam água ao leite para que o produto seja suficiente para todos os filhos, mas o alimento perde seu teor nutritivo. Muitas famílias também têm que dividir uma porção de comida entre vários integrantes.
Os três filhos do operário desempregado Moacir Dias dos Santos, 34, tiveram desnutrição. Ele está sem emprego há um ano. "A gente só compra comida quando tem dinheiro garantido com algum "bico' na cidade."
A dona-de-casa Neuza Maria Gerônimo dos Santos, mãe de Érica Gerônimo dos Santos, 10, Jefferson, 8, e Erilaine, 5, disse que sempre serve arroz e feijão para a família, mas é obrigada a racionar a quantidade.
A pesquisadora disse que os dados do levantamento foram enviados à Secretaria Municipal da Saúde para que as famílias sejam acompanhadas pela rede.
A secretaria informou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem um programa de combate à desnutrição, mas não forneceu dados do projeto.



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