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PORNOGRAFIA ON LINE 2
A página virtual "Anjos Proibidos" traz manifesto dos que "se sentem atraídos por meninos"
Site desnuda mundo dos "boylovers"
ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local
"Boa tarde... Os meninos estão
brincando agora?"
Passava um pouco das 17h45
quando, na última quinta-feira, a
pergunta, de aparência inocente,
invadiu a tela do computador que
navegava pela Internet .
Era a porta de entrada para o site
"Anjos Proibidos". O conjunto de
textos e imagens que surgiu então
trouxe à tona um mundo muito
peculiar, ditado por regras que
contrariam leis e condutas sociais
em vigor no Brasil.
Lá habitam os "boylovers" (ou
BLs) -expressão que a página virtual emprestou do inglês para designar "as pessoas que se sentem
atraídas por meninos, seja essa
atração de natureza física, sexual
ou emocional".
O termo é estrangeiro, mas praticamente todo o conteúdo do site
está em português.
Encontram-se ali dois tipos de
textos, quase sempre sem erros
gramaticais: os que funcionam como um manifesto e os que fazem as
vezes de guia cultural.
Os primeiros recorrem à linguagem típica dos panfletos -didática, redundante e indignada. Tentam explicar o que os BLs pensam e
de que modo agem. Também reivindicam o direito de "tal minoria"
se organizar em associações semelhantes às "da Dinamarca e EUA",
se expressar e exercer suas inclinações com liberdade.
A outra categoria de textos dá dicas de filmes, músicas, livros e sites
norte-americanos que abordam,
intencionalmente ou não, o universo de interesse dos "boylovers".
Introduz, ainda, uma galeria
com 170 fotos e pinturas que exibem meninos famosos (o baterista
Zac Hanson, por exemplo) e anônimos, nunca sem roupa nem em
circunstâncias pornográficas.
O autor da página se identifica
apenas como Julian. A Polícia Civil
de Bragança Paulista afirma que,
por trás do pseudônimo, se esconde o biólogo e monitor de acampamento Leonardo Chaim, preso no
interior de São Paulo há 11 dias sob
a acusação de pedofilia. Ele teria
admitido, durante depoimentos,
que criou o site.
No entanto, seu advogado, Paulo
Celso Bastos e Souza, não confirma a versão policial. Mesmo assim,
e-mails de internautas mandados
para a página logo depois da prisão
tratam Julian como Chaim.
O nome do site - "Anjos Proibidos"- coincide com o do livro
que o fotógrafo Fábio Cabral lançou em 1991, retratando meninas e
adolescentes seminuas.
A página de Julian está no ar pelo
menos desde setembro de 1997 e já
recebeu 92.769 visitas. As informações constam de textos colhidos
dentro do próprio site na última
quinta-feira.
Até ontem, continuava funcionando, embora sem as costumeiras atualizações mensais. Um comunicado do autor avisava: "Nos
próximos meses, vou sair de férias.
Dezembro, janeiro... talvez fevereiro... heheh... Vou mexer sim na página, mas não mensalmente como
estava fazendo."
A onomatopéia "heheh" é uma
marca de Julian. Aparece em muitos pontos do site e lembra a risadinha sarcástica de Beavis e Butt-Head, personagens de um dos desenhos animados mais populares
entre adolescentes.
Outra marca do autor é o tom
confessional. Julian aproveita a página para comungar detalhes de
suas vivências como "boylover".
Manifesta, até, o desejo de reunir
os relatos em livro.
Diz que tem 26 anos, que nasceu
em São Paulo e que desfrutou de
uma infância feliz. "Com 11 anos",
conta, "tudo aconteceu. Eu comecei a reparar no Marquinhos, um
menino da escola. Ele era bonito, e
as brincadeiras de passar a mão
ocorriam o tempo todo."
Mais adiante, revela que se iniciou sexualmente aos 16 anos, com
um primo de 11. Ensina como se
deve agir para "ganhar" uma
criança e reitera: "Essa página é
uma homenagem aos seres mais
perfeitos do universo, os meninos.
Sem eles, minha vida não faria sentido. São ternos, puros e carinhosos, verdadeiros anjos que cruzam
nosso caminho".
Em diversas partes do site, Julian
diferencia "boylovers" de pedófilos e molestadores:
* "Os "boylovers' procuram ter,
sobretudo, uma relação saudável e
feliz com o garoto. (...) Mesmo que
sintam desejo sexual, só irão expressá-lo no momento certo,
quando o menino puder compreender e apenas se o menino
consentir."
* "Os pedófilos buscam principalmente um relacionamento sexual, mas ainda assim de uma maneira a respeitar a criança, sem forçá-la a nada."
* "Molestadores utilizam a violência. (...) Suas ações são condenadas por toda a sociedade, inclusive pelos dois grupos anteriores."
Com base em tais definições, Julian expõe o código de ética dos
BLs. E argumenta que, se os "boylovers" atuam de modo pacífico,
não existe nenhum motivo justo
para sofrerem tanta repressão.
Condena, assim, os "ataques"
que recebem da imprensa, dos psicólogos e das instituições defensoras dos direitos infantis.
"Em épocas passadas, hereges,
judeus, homossexuais e outros
grupos foram o alvo preferido de
perseguições tipo "caça à bruxa'",
escreve. "Atualmente, isso acontece com os boylovers."
Julian adverte, ainda, que não há
como esconder as crianças dos
BLs. "O "boylover' está mais perto
do que se pode imaginar. (...) Direciona sua vida no sentido de sempre ficar ao lado dos meninos.
Muitos são professores, outros são
técnicos de times infantis."
Na quinta-feira, o fórum de debates que o site costuma abrir para
quem deseja opinar sobre o assunto trazia 44 mensagens, todas assinadas com pseudônimos. A maioria absoluta abordava a prisão do
biólogo Chaim. Diziam se tratar de
Julian.
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