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Minha História Bernd Mayländer, 40

RESUMO Enquanto Michael Schumacher dava entrevistas nos boxes, os monitores de TV mostravam outro alemão em um Mercedes prateado devorando o circuito de Interlagos antes da abertura dos treinos do GP do Brasil de 2011, que acontece neste domingo. Um piloto que está em todas as corridas e, quando entra na pista, ninguém pode ultrapassá-lo. Desde 2000, Bernd Mayländer, 40, dirige o safety car da F1.

Sempre na frente

(...) Torço para não ter de trabalhar. Se vou para a pista, é porque algo de errado aconteceu (...) Posso liderar a corrida inteira, mas não receberei a bandeirada final(...) Fico feliz em dizer que, em 12 anos, nunca bati com um carro de segurança

RICARDO RIBEIRO
DE SÃO PAULO

Sou piloto profissional desde o final dos anos 1980 e passei por competições como Formula Ford, Porsche Cup, DTM e FIA GT. Recebi o convite da FIA [Federação Internacional de Automobilismo] em 2000, e desde então dirijo o safety car da F1.

A pressão é diferente. Na corrida, o piloto tem que ir em frente e não precisa pensar no que acontece atrás dele. No comando do safety car é outra história.

Quando recebo pelo rádio uma ordem do controle de prova para entrar na pista é porque algo está comprometendo a segurança dos pilotos. Pode ser um acidente ou uma chuva mais forte.

Também devo reportar à organização as condições da pista, como visibilidade ou força do temporal.

As decisões precisam ser tomadas com muita rapidez na F1. Tudo acontece em alta velocidade. Preciso estar preparado e fazer o meu trabalho. Não dirijo para ganhar a corrida. Dirijo para torná-la mais segura, pensando nos carros que vêm atrás.

Sou eu que passo antes de todos em partes da pista com muita água, e nunca se sabe o que pode acontecer. Convivo com o inesperado.

VELOCIDADE

Dirijo sempre no limite para que os pilotos atrás de mim não caiam no sono. Se a velocidade diminui muito, pneus e freios esfriam e motores superaquecem. É um gerenciamento de riscos: ser muito rápido, mas tendo tudo sob controle.

A velocidade depende do traçado e das condições da pista durante a corrida. Em circuitos como Fuji (Japão) e Monza (Itália), chego a atingir 290 km/h nas retas. Os fórmulas ultrapassam os 300 km/h.

Desde 2010, uso a Mercedes SLS AMG. Com 571 cv, é o mais rápido safety car da história. E fico feliz em dizer que, em 12 anos, nunca bati com um carro de segurança.

Os pilotos estão acostumados a trabalhar em harmonia com o safety car, mas quase me acertaram algumas vezes.

Há alguns anos, em Mônaco, eu entrei no túnel, olhei no espelho e pensei: 'Ok, tem dois caras muito perto aí atrás'. Eram Fernando Alonso e Juan Pablo Montoya.

De repente, depois de uma freada forte, eles se tocaram e vi pelo retrovisor um carro levantando voo sobre mim. Felizmente não chegaram a bater no meu SLS.

Eu sempre tenho um co-piloto comigo, que ajuda na comunicação com o controle da corrida e opera o sistema de luzes de aviso do carro. Seu auxílio é importante, pois há muita pressão e muitas perguntas. E é bom ter alguém perto em momentos difíceis na pista. E também nos chatos, que são quando não há nada para fazer.

Eu sempre torço para não ter de trabalhar. Se vou para a pista, é porque algo aconteceu. Prefiro ver a corrida sentado no carro, pela TV.

Meu recorde foi em Montreal (Canadá), neste ano, onde pilotei cerca de 130 quilômetros por causa da chuva.

Em provas assim, acabo chamando a atenção. Vejo algumas vezes meu rosto na tela que vai dentro do carro. Aí penso: 'Ok, apenas sorria'.

Isso não influencia muito. Só penso em fazer meu trabalho o melhor que puder. Eu não sou o tipo de cara que quer ser um superstar.

Se eu estiver na pista na última volta, tenho que entrar nos boxes antes de cruzar a linha de chegada para que o carro líder chegue na frente. Eu posso liderar a corrida inteira, mas não receberei a bandeirada final.

Esse é meu trabalho, e eu gosto dele. Algumas pessoas dizem que é o emprego dos sonhos. Eu posso confirmar que elas estão certas.

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