São Paulo, Domingo, 02 de Janeiro de 2000


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CONSUMIDOR
Volkswagen reconhece o problema no engate da primeira e da segunda marcha
Novo Gol traz defeito no câmbio

Greg Sallibian/Folha Imagem
Carlos Eduardo Guimarães Padovani com seu VW Gol 1.0 16V, que aguardava solução para o defeito no câmbio há quatro meses


ROSANGELA DE MOURA
free-lance para a Folha

GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Reportagem Local

Os câmbios que equipam a linha Volkswagen Gol, chamada Geração 3, lançada em maio do ano passado e que já vendeu cerca de 3 milhões de unidades, apresentam um defeito crônico.
O problema aparece no engate da primeira e da segunda marcha -a primeira parece estar engatada, mas escapa, e a segunda é difícil de engatar. Embora tenha admitido o defeito internamente, a Volks não fala em fazer "recall".
Só os consumidores que não se conformaram em ouvir como resposta a justificativa de que não sabem dirigir ou de que o carro não tinha defeito -sina de vários entrevistados pela Folha que insistiram em buscar explicação para o defeito- é que receberam satisfação, mas sem que tivessem seu problema resolvido.
Um deles foi Carlos Eduardo Guimarães Padovani, que comprou um Gol 1.0 16V na revenda Primo Rossi, em setembro do ano passado, e até hoje não conseguiu solucionar a série de defeitos que o carro apresenta.
""Nos primeiros dias de uso, notei barulho e vibração na suspensão e dificuldade de engatar a primeira marcha, que às vezes escapa, além de a passagem da primeira para a segunda ser pesada."
Padovani conta que o carro passou por cinco revisões na Primo Rossi, uma na Brasilwagen e outra na Vipa, foi para a fábrica e sempre voltou com o mesmo problema. Ele então recorreu ao Procon, houve uma conciliação, e o carro foi levado à Sopave.

"Kit solução"
Foi nessa última concessionária que o cliente soube que a Volkswagen havia desenvolvido um kit especialmente para tentar solucionar o problema no câmbio, o que também não adiantou. ""Esse kit é um atestado de incompetência do fabricante", diz o cliente.
A Folha apurou que, após muitas queixas de clientes, o setor de engenharia da fábrica investigou o caso, constatou a imperfeição no câmbio e desenvolveu um kit que supostamente resolveria o problema, com a troca dos sincronizadores da primeira e da segunda marcha (veja quadro), que teriam desgaste prematuro.
Sincronizadores são peças do câmbio que evitam o engate errado e a famosa "arranhada", que nada mais é do que o choque entre as engrenagens das marchas quando elas não se encaixam perfeitamente, o que estraga os dentes dessas engrenagens.
Antigamente as caixas de câmbio não eram equipadas com sincronizadores, e as marchas precisavam ser trocadas "no tempo", ou seja, no momento exato para evitar o engate incorreto.
Fábio Marchi é outro proprietário de Gol que está tentando um conserto para o câmbio do carro desde julho do ano passado, quando adquiriu o modelo 1.0 16V na concessionária União.
""Desde o início, o câmbio é duro, raspa e até pula. O carro chegou a ser vistoriado por um técnico da VW, que disse não ter constatado a irregularidade. Mas a revenda reconheceu o defeito, trocou o componente, e o carro saiu igual", relata Marchi.
Marcio Teixeira, que também adquiriu um Gol 1.0 16V no ano passado, conta que, depois de muita insistência, conseguiu que fosse trocado o câmbio, mas o problema persiste.
"Até hoje tento solucionar o caso, mas parece que aqui no Brasil não dão tanta importância para os consumidores", desabafa.

Família Gol
O defeito afeta inclusive outros veículos da família Gol, como a perua Parati e a picape Saveiro. A Folha constatou o empecilho durante avaliação de um Gol 1.6 Geração 3, em agosto de 1999.
Lançado três meses antes, era encarado, no início, como uma grande novidade -incorporava atrativos do Golf, do design ao interior-, o que hoje é questionado. De qualquer forma, a montadora afirmou ter investido US$ 200 milhões na reformulação.
Ex-líder de mercado no Brasil -perdeu no último ano para a Fiat-, a VW tem no Gol, lançado há 13 anos, seu carro-chefe -é o mais importante veículo da montadora no país, depois do Fusca.
Os problemas já são tema de uma investigação do Procon, que contabiliza algumas reclamações.


Colaborou Luís Perez, editor interino de Veículos


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