free-lance para a Folha

da Reportagem Local

A Folha apurou que a Volkswagen conhece o problema no câmbio do Gol há um ano. O kit para consertá-lo foi desenvolvido em junho passado, mas ela não comunicou o fato aos proprietários.
Segundo o mecânico Silvio Ricardo Candido, que já teve três clientes em sua oficina reclamando do defeito, o desgaste dos sincronizadores se deve ao tipo de material utilizado na fabricação.
Em um dos casos, Candido detectou problemas no coxim do câmbio, peça que o fixa à carroceria do carro. Como estava cedendo, ele acabou interferindo no correto engate das marchas.
Nos outros dois casos, porém, o problema foi de desgaste dos anéis sincronizadores, que deveriam ter vida útil igual à das outras peças do câmbio.
A Folha também apurou que a solução do problema pela Volkswagen foi demorada e demandou nova usinagem do aço usado na fabricação das peças.
Ricardo Morishita Wada, 30, diretor de programas especiais do Procon, disse que, toda vez em que ocorrer um risco à saúde ou à segurança do consumidor, o "recall" se torna obrigatório pelo Código de Defesa do Consumidor.
Segundo o advogado, deputado federal e ex-presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), José Roberto Batochio,55, o defeito pode ser aparentemente simples, mas coloca o motorista em risco. "E se ele precisar sair de algum lugar rapidamente, por exemplo, de uma linha férrea, e a marcha escapar?"
"A falta do "recall" implica violação ao código, o que, segundo o artigo 64, dá detenção de seis meses a dois anos e multa", diz.
O controle de qualidade da empresa pode fazer uma chamada voluntária quando o vício está relacionado à qualidade do produto, mas não implica nenhum prejuízo ao consumidor.

Providências
Segundo Wada, do Procon, nada pode ser colocado no mercado pelo fornecedor quando ele sabe -ou deveria saber- que esse produto apresenta alto grau de nocividade ou periculosidade.
""No caso de se tratar de um "recall" obrigatório e se houve o descumprimento da obrigação prevista no artigo, vamos cobrar providências da montadora."
Existem implicações também na esfera do Código Civil. Os carros com problema tiveram vício oculto, o que pode ocasionar a devolução do bem -no caso, do valor pago pelo cliente.
A VW, entretanto, pode argumentar que essa é uma característica do produto, o que pode auxiliá-la na esfera jurídica, mas prejudicá-la com o consumidor.

Imagem
Enquanto o problema não é solucionado oficialmente pela montadora, é um dos pilares que sustentam a boa imagem da Volks no Brasil -a de fabricar carros que praticamente não têm problemas mecânicos- que está em jogo.
No que depender dos clientes insatisfeitos, essa imagem está comprometida. Francisco Alberto Serpe, proprietário de um Gol 1.0 16V, que utiliza como táxi, detectou o defeito no câmbio logo nos primeiros dias de uso.
""Você engata a primeira, e ela pula fora, o motorista pensa que engatou a marcha, mas ela não está engatada e dá um tranco, ficando no ponto morto."
Serpe comentou que, no passado, o câmbio e principalmente o trambulador (ligação entre a alavanca de câmbio e o mecanismo de mudança de marcha) dos carros da Volkswagen eram alguns dos pontos altos da marca.
""Modificaram o câmbio para pior. Se eu reclamar, vou acabar escutando que eu não sei engatar a marcha. Tenho mais de 40 anos como motorista e conheço mecânica, como eu não saberia trocar marchas?" (RM e GHR)


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