São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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HABILITAÇÃO

Para instrutores de pilotagem, alunos não aprendem as manobras básicase arriscam a sua vida e a dos outros

Especialistas reprovam auto-escola

ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

A maioria dos motoristas e motociclistas recém-habilitados chega às ruas sem conhecimentos básicos dos veículos e do trânsito, colocando em risco a sua vida e a dos outros. Não sabem frear, fazer curvas, dirigir na chuva nem mesmo segurar o volante direito.
A avaliação é de especialistas em direção, que apontam falta de interesse e responsabilidade dos condutores, deficiência da legislação e falhas de auto-escolas -agora chamadas de Centros de Formação de Condutores (CFCs)- como principais responsáveis pela situação.
Segundo o instrutor de pilotagem Luiz Fonseca, 44, uma grande omissão do aprendizado entre os jovens motoristas é que não sabem como se portar em trânsito pesado. "Eles são preparados para dirigir sozinhos na rua. Durante as aulas práticas, só circulam por vias tranqüilas. É raro andarem em avenidas", afirma.
Ele atribui isso ao fato de os exames para obter a carteira não exigirem mais. "O circuito para aprovação se resume a umas duas ou três voltas num quarteirão."
Para Leandro Paixão, 25, diretor-operacional da No Risk Company Protection, que também dá aulas de pilotagem de carros e motos, os alunos são treinados só para passar no exame.
"Aprendem a fazer baliza, a respeitar a sinalização, a ligar a seta. Na verdade, não sabem como vão sobreviver na rua. Saem se arriscando, aprendendo no dia-a-dia."
Conforme sua visão, faltam conhecimentos básicos. "Não sabem segurar no volante nem ajustar o banco. Muitas pessoas não conhecem a técnica de frenagem, principalmente em pista molhada, com areia, óleo, buracos e costelas-de-vaca."

Mais aulas
Fonseca considera pequena a carga horária das aulas práticas. Pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os alunos devem fazer 15 horas de direção e 30 horas de estudos teóricos.
A parte teórica tem conteúdo "muito bom" na avaliação do instrutor, mas é "desatualizada" no capítulo de direção defensiva. "Tem informações e metodologia dos anos 70, e não usa números para mostrar os riscos de uma frenagem a 100 km/h, por exemplo."
Kasuo Sakamoto, 52, consultor de trânsito, ex-diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e ex-presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), na época da aprovação do CTB, em 1997, diz que os motoristas precisam ser preparados para dirigir em estradas.
"É necessário aperfeiçoar essa formação. Alguns podem dirigir bem na cidade, mas não têm o mínimo preparo para situações de emergência em rodovias."
Ele aponta um erro comum nas estradas: frear o carro enquanto estão sendo feitas curvas -o que pode ser facilmente observado porque as luzes de freio se acendem. Para Sakamoto, o preparo teórico está melhor que o prático.
Roberto Manzini, 48, psicólogo e diretor do centro de pilotagem que leva seu nome, considera que a culpa não é das escolas. "Elas cumprem o que manda o código. Estão fazendo o papel delas."
Mas isso não significa que seja suficiente. Quem o procura não sabe dirigir em condições adversas (chuva, neblina), fazer ultrapassagens ou curvas em rodovia nem frenagens de emergência.

Motocicletas
As deficiências se expressam de maneira mais grave ainda com motos, por serem bem mais vulneráveis a acidentes.
Shoichi Kado, 48, instrutor de pilotagem de moto "off-road" da escola Radical Sport e ex-chefe do Centro de Pilotagem Honda (1981-1993), diz que falta segurança. De acordo com o instrutor, ninguém ensina como frear, como se posicionar na moto, como fazer desvios de emergência e como se portar no trânsito.
Segundo Leandro Paixão, os limites variam conforme a moto, e o condutor precisa conhecer direito sua máquina. Para isso, deve treinar em áreas fechadas.


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