São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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peças & acessórios

Pesquisador testa caixa-preta para carros

Protótipo, de 12 cm e R$ 300, tem a função de esclarecer acidentes; carros de luxo já usam sensores do airbag

FELIPE NÓBREGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine a cena: você acaba de bater o carro e, antes de sair de dentro dele para avaliar o estrago, toca seu celular: "Olá, está tudo bem? Você precisa de uma ambulância?".
O telefonema de auxílio é da central de emergência, que acaba de receber de seu carro, via satélite, a informação de que o airbag disparou em plena marginal Tietê, próximo à ponte do Limão (zona norte).
Para Alberto Pulga, gerente de assistência técnica da Audi, em menos de dois anos a maioria dos veículos sofisticados já poderá pedir ajuda e passar dados sobre acidentes.
"Alguns modelos importados já têm caixas-pretas, mas não são conectadas a um sistema local de resgate", diz Pulga.
O que poucos sabem é que, desde meados dos anos 90, nos EUA, a Chevrolet e a Ford já equipam alguns de seus modelos com sistemas que "deduram" como o carro se comportou momentos antes do acidente: velocidade, força de frenagem, afivelamento do cinto.
"Mas esses gravadores estrangeiros custam caro. Cerca de US$ 2.000", estima Rone Antônio de Azeredo, especialista pericial de engenharia.
No Brasil, o Iapa (Instituto de Avaliações e Perícias Automotivas) afirma ter desenvolvido uma caixa-preta que custaria apenas R$ 300. O equipamento seria capaz de informar até se estava chovendo no momento da batida, por exemplo.
Além de funcionar como rastreador, o sistema nacional promete facilitar ou até substituir o trabalho do perito de trânsito. Sensores informariam ao software a gravidade do acidente -a partir de 2010, todo veículo acidentado, por lei, precisará ser periciado; e os que sofrerem grandes danos não poderão voltar a circular.
"Cada modelo tem uma tecnologia estrutural diferente. Bater a 60 km/h com um Fusca é pior do que bater com um Fusion. Usar só dados numéricos para aprovar um veículo poderia ser perigoso", questiona Emerson Feliciano, supervisor de pesquisa e desenvolvimento do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária).

Rastreador
Em tese, umas das maiores interessadas nas caixas-pretas são as seguradoras, que poderiam descobrir, por exemplo, se o condutor realizava manobras arriscadas ou se dirigia em alta velocidade antes do impacto, podendo negar o prêmio.
Na Suíça, em 2006, a seguradora Winterthur oferecia 20% de desconto para quem instalasse uma caixa-preta no carro.
"A eletrônica pode monitorar até o percurso que o veículo faz, incluindo o local e o tempo de parada. Essa intromissão tecnológica, que pode salvar a vida de um acidentado, é a mesma que invade a privacidade da pessoa", compara José Edison Parro, presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
Essa discussão foi parar na Justiça. O Ministério Público Federal ajuizou uma ação contra a obrigatoriedade dos rastreadores veiculares, imposta pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito), por meio da resolução 245/07.
Apesar de a ação estar sub judice, no final do mês passado o Contran estabeleceu o cronograma de implantação do sistema antifurto. Segundo o calendário, as montadoras deverão implantá-lo gradualmente nos carros novos a partir de fevereiro de 2010 e têm até outubro do ano que vem para equipar toda a produção brasileira.


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