São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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IPI

I mposto sobre Produtos Industrializados está com alíquota intermediária de 15% que barateia carros acima de 1.0 até 2.0

P rojetos aposentados no país, como o do VW Gol 1.6, voltam à linha de montagem e às concessionárias

I novações não se limitam aos motores, mas chegam a versões, caso do Ford ka Action, 1.6 que custa R$ 17.990

Nova tributação suscita dança de motores

LUÍS PEREZ
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Além de reduzir um pouco o preço dos carros "mil" e um tantão o de carros acima de 1.000 cm³ até 2.000 cm³ de cilindrada, as novas alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) motivaram a criação ou a volta de modelos que já estavam banidos da linha de montagem. Eles começam agora a chegar às lojas.
Exemplo mais evidente é o retorno do motor 1.6 de 92 cv (cavalos) para os Volkswagen Gol e Parati, que haviam sido aposentados pelo 1.0 16V Turbo de 112 cv. "Já tínhamos o motor 1.6 "de prateleira". Achamos essa mudança positiva, uma vez que possibilita maior sinergia com a exportação [outros países não compram automóveis com motor 1.0]", afirma Thomas Buckup, 52, gerente de marketing de produtos da VW.
Tal mudança motivou o consumidor a procurar carros com motorizações mais generosas do que as oferecidas pelos 1.0. Os dados mais recentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) demonstram que, desde a determinação das novas alíquotas, a venda de carros 1.0 já caiu de 77% do mercado em julho para 67,2% em agosto e 58,6% em setembro.
"Para nós, esse número vai ficar abaixo dos 50%", aposta Buckup. Tal palpite é compartilhado com o diretor de marketing da General Motors, Eduardo Andrade, 32.
"Isso corrige uma distorção do mercado", afirma o diretor, para quem os não-"populares" compactos venderam 47% a mais entre agosto e setembro.
Outro "efeito retorno" foi confirmado pelo presidente da própria GM do Brasil, Walter Wieland: o Vectra com motor 2.0 de 116 cv deve começar a ser vendido ainda neste mês. Segundo a Folha apurou, a montadora não bateu o martelo, mas cogita até equipar o compacto Celta (cujo motor é 1.0 de 70 cv) com propulsor 1.4.
Deve estar chegando às revendas Fiat o Marea ELX (versão de acabamento que só era oferecida com motor 2.4) com motor 1.8. A montadora está propagandeando também o Palio 1.3 Fire, agora com oito válvulas -propulsor mais barato do que o 16V, na linha desde março de 2000.

Venda triplicada
Tanto a redução quanto a chegada dos novos modelos são motivo de comemoração para concessionários. O Chevrolet Corsa Classic Sedan (1.6 de carroceria antiga) teve 409 unidades vendidas em agosto. Em setembro, foram 1.211 (quase três vezes).
Entre as montadoras que registraram pico de redução (10%), está a Ford, que aproveitou para lançar a versão Action do Ka, com motor 1.6 de 95 cv, por R$ 17.990. "É o primeiro filho do novo IPI", diz Oswaldo Ramos, 35, gerente de marketing de automóveis.
Para ele, em vez de canibalizar versões equipadas, como o Ka XR (R$ 24.790), que tem o mesmo motor, a empresa vai tentar "puxar" a venda de um com o outro.
"O Ka Action com ar e direção sai por R$ 21,1 mil. Nós o "vestimos" de esportivo para diferenciá-lo. Vamos aproveitar também para vender o XR em promoção, por R$ 23 mil", explica Ramos.
Ex-donos de "populares" estão comemorando o fato de poder subir ladeira sem a sensação de ter de "engatar meia marcha".
"Comprei um 1.6 porque o 1.0 é muito fraquinho. Não passa confiança para ultrapassar ou em subidas", conta Maria Helena Gomes, 58, dona de uma butique em Perdizes, bairro da zona oeste de São Paulo conhecido pela sua topografia em sobe-e-desce. "É o quarto ou quinto 1.6 que compro. Ainda bem que ele voltou."
Nem todo mundo, porém, ficou feliz com a redução. Principalmente os que, por um triz, não foram beneficiados por ela, como a advogada Graziela Ferreira Ledesma, 31, que pagou R$ 34,8 mil por um Astra Sedan no dia 29 de julho, às vésperas da redução.
"O vendedor deu desconto de uns R$ 1.300. Achei pequeno, se comparado com o que teria com o novo IPI", afirma. "Dei um certo azar, mas não é o caso de ficar chateada. Afinal, era uma situação que não dependia de quem estava me vendendo o carro."


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