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Por trás dos juros
Escondida em encargo baixo, Taxa de Abertura de Crédito custa até R$ 1.000 e não tem teto
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
"TAC não inclusa." Essa é a
frase mais lida naquelas letras
minúsculas entremeadas no pé
dos anúncios de automóveis.
O que poucos sabem, porém,
é que essa Taxa de Abertura de
Crédito, sem piso ou teto estabelecido pelo Banco Central, é
variável e usada para mascarar
a taxa de juros mensal.
"Como não há intervenção
do BC, as revendas elevam a
TAC e "derrubam" a taxa mensal", explica Daniel Ghovatto,
professor de planejamento de
vendas do curso de pós-graduação da FEI (Fundação Educacional Inaciana).
Ghovatto diz ainda que, em
geral, na iminência da compra,
as pessoas ficam muito entusiasmadas e não fazem conta.
"O brasileiro só quer saber se
a parcela cabe no seu bolso.
Manipular a TAC não é ilegal,
nem se trata de má-fé dos vendedores. É apenas uma ferramenta de marketing para confundir o consumidor."
Um vendedor da Mitsubishi,
que preferiu não se identificar,
diz que a TAC é parte da comissão de venda dos funcionários.
"Quando vemos que o cliente
está muito empolgado e não irá
reparar nas taxas, "jogamos" a
TAC lá no alto", conta.
Em outra revenda, uma simulação de financiamento de
um Ford EcoSport revela que a
TAC varia com a instituição financeira, e não com o modelo
ou o valor do carro arrendado.
Pelo banco Safra, a TAC fica
em R$ 800, R$ 200 a mais do
que no Ford. No Itaú, que controla a carteira de clientes do
banco Fiat, ela cai para R$ 590.
Descontos
A contadora Vera Lúcia Silva,
43, comprou um EcoSport este
ano e pagou R$ 590 para abrir o
crédito, mas não sabia que a
TAC variava com o banco.
"Fiquei decepcionada quando soube que uma amiga tinha
negociado e pagado uma TAC
de R$ 450 no Bradesco", diz.
"Dependendo da relação do
cliente com o banco, ele consegue taxas bem mais baixas",
afirma Victor Bialski, gerente
de vendas e marketing do Ford
Credit. A Finasa, que tem um
acordo operacional com a Ford,
cobra de R$ 400 a R$ 800.
Essa variação também ocorre de acordo com a região e com
a competição dos mercados locais. "Uma região mais pobre
tem TAC mais baixa", afirma.
Ele diz que 99,9% das TAC
são diluídas no financiamento.
"O consumidor dá, além do carro usado, o dinheiro que tem.
Parcelar a TAC é a única saída."
O fato de os juros mensais incidirem sobre a TAC não incomoda a todos. "Pagar R$ 10 a
mais na prestação não faz muita diferença. Mesmo que, no
fim dos 60 meses, uma TAC de
R$ 600 vire R$ 1.000", conclui.
Com ROSANGELA DE MOURA , colaboração
para a Folha
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