São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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"POPULAR"
Confortável e bem-acabado, hatchback da Renault tem o pior desempenho entre os 1.0 brasileiros
Novo Clio só desaponta quando anda

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos

Exigente nos detalhes de acabamento, preocupado com segurança, titular de uma conta bancária razoavelmente saudável e dono de uma paciência de Jó. Esse é o perfil do cliente que se pode deixar seduzir pelo novo Renault Clio.
Testes realizados pela Folha e pelo Instituto Mauá de Tecnologia mostram que esse hatchback feito no Paraná tem trunfos para disputar uma fatia de mercado entre os "populares".
Começando pelo lado de fora. É possível questionar um ou outro detalhe das linhas do carro -em especial as da traseira, que ganhou uma protuberância arredondada na altura do porta-malas. Mas isso é só questão de gosto.
Não há pormenores que possam estimular controvérsias a respeito da contemporaneidade do design. Os traços que saíram das pranchetas dos engenheiros franceses formam um conjunto compacto e harmonioso.
Abertas as portas, o motorista entra em contato com o que o carro tem de melhor. Trata-se de um acabamento que prima pelo equilíbrio na distribuição dos elementos no painel e na utilização discreta de cores e texturas.
Isso acontece apesar de a estampa do tecido que reveste os bancos parecer um tanto extravagante numa primeira olhada. Mas duas semanas não foram suficientes para que as formas sinuosas das estampas gerassem enjôo.
Desperta especial atenção no painel da unidade testada (a RN, topo de linha entre os Clio 1.0) o toca-CDs mais recatado de que se tem notícia. Só há os botões indispensáveis. O dial foi transferido para um mostrador instalado na parte central e alta do painel.

Ginástica
Levando-se em consideração a categoria na qual está inserido, o novo Clio só fica devendo em conforto quando a direção hidráulica e os acionadores dos vidros elétricos viram assunto.
A ausência da primeira obriga o motorista a exercitar os bíceps nas manobras com o automóvel parado. Por sua vez, a posição dos acionadores (instalados na parte inferior do console central) estimula flexões abdominais todas as vezes em que são tocados.
Esses inconvenientes podem ser explicados pela política do "cobertor curto", utilizada para manter o preço do carro competitivo, fator fundamental para sobreviver entre os "populares".
Assim, caso os acionadores fossem instalados nas portas, seriam necessários mais metros de fio. Foi posta de lado a direção hidráulica para, em compensação, o carro ser dotado de airbags (bolsas de ar que inflam em casos de colisão) para motorista e passageiro no banco da frente.
Com isso, a montadora tenta atrair o consumidor que, além de fortalecer o muque, espera sair de um acidente sem cicatrizes. Se essa estratégia vai dar certo, só os próximos boletins da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) poderão responder.
Quando é posto em movimento, o carro revela uma suspensão que preserva os ocupantes dos sacolejos mais violentos do piso e uma aptidão para enfrentar curvas passando ao motorista uma sensação de segurança.

Na pista
Tudo bem que o consumidor de carros "populares" nem sonhe encontrar um bólido escondido sob o pedal do acelerador. Mas o Clio exagera demais na paciência que exige de quem o conduz.
No teste, o carro levou 18,65 segundos para chegar aos 100 km/h partindo da imobilidade. É o pior tempo entre os "populares" nacionais (veja quadro nesta página) e com uma agravante: no caso do Clio, as medições foram feitas ao nível do mar, local onde os motores revelam o máximo de seu vigor ou a carência dele.
Essa deficiência dispensa o uso do cronômetro para se manifestar. No sábado retrasado, a ladeira da alameda Ministro Rocha Azevedo, em São Paulo, foi cenário de uma disputa informal. Com o pé cravado no assoalho do Clio, a reportagem da Folha foi ultrapassada por um velho Gol Plus 1.0.
Fora essa situação extrema, o Clio mostra um desempenho sem muitos transtornos no trânsito urbano. Com sua relação de marchas curta, o câmbio faz o possível para tirar agilidade do motor de 59 cv (cavalos) do hatchback.
Mas, na estrada, a coisa fica mais complicada. As ultrapassagens devem ser feitas com boa margem de manobra, mesmo com dois atributos que o carro tem para otimizar o desempenho.
O primeiro deles é a manutenção do giro alto quando há redução de quinta para quarta marcha. O outro desativa o ar-condicionado quando o motorista leva o curso do acelerador até o fim.


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