São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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VIDA DURA

Obrigados a ficar mais de dez horas em pé, meninos e meninas reclamam de calor, de calosidades e de enxaqueca

Modelos ganham salário, cantadas e calos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Você vem junto com o carro?" Essa é uma das cantadas mais ouvidas pelas mulheres e homens que trabalham como recepcionistas nos estandes do Salão de São Paulo. "A gente disfarça. Dá um sorriso sem graça", conta Nívea Gonçalves, 18, recepcionista no estande da General Motors.
Entre outras reclamações, estão o calor e o salto dos sapatos. "Vou ficar 12 horas em pé com um sapato menor que o meu pé, que já está inchado", reclama Francieli Santos, 18, da Ford. A modelo Amália Munhoz, 19, da BMW, que fica sob holofotes, apresentou alergia nos braços de tanto suar.
"As meninas dos estandes são as que sofrem mais com a alta temperatura. Desde dor de cabeça até calosidade nos pés", diagnostica Alessandro Abreu, médico responsável pelo pronto-socorro instalado no Anhembi.
"As roupas são desconfortáveis e, se estivéssemos com um salto mais baixo, por exemplo, ficaríamos mais descontraídas e atenderíamos melhor o público. Além disso, temos de chegar três horas antes para a maquiagem, o que é um exagero", diz uma modelo que preferiu não se identificar.
Luciana Teixeira, 20, da SsangYong, afirma que já sofreu muito com sapatos de números menores ou maiores e agora chega para trabalhar prevenida. "Geralmente trago um sapato de casa, para não ter problemas."
No que diz respeito a cantadas, muitas contam que os homens pensam que são garotas de programa. Segundo elas, algumas, que realmente fazem programas, criaram a fama.

Homens
Está cada vez menos raro ver modelos masculinos ciceroneando visitantes no salão. Antigamente, a proporção era de 20 meninas para 5 meninos. Hoje há estandes, como o da Citroën, em que a divisão está meio a meio.
"No outro salão trabalhei como garçom e neste fui chamado para atuar na recepção. Apesar de já estar acostumado com feiras, tive de fazer treinamento para aprender tudo sobre os carros", explica Weldes Micheletto, 26, modelo da Citroën.
Na maior parte, os homens ainda servem como apoio das mulheres na hora de explicar melhor algum detalhe ou sanar as dúvidas de um visitante. Mas quem em geral faz a apresentação inicial do carro ainda são as garotas.
"Eles preferem falar com elas", afirma Ivan Mezalira, 20, que está trabalhando pela primeira vez no salão, junto com sua irmã, Ana Rita Mezalira, 18. Ambos estão no estande da Jaguar.
Como acontece com as mulheres, os homens também recebem cantadas das visitantes, mas eles dizem que estão preparados para encarar a situação.
"Chegou uma mulher perguntando sobre o carro e, depois que expliquei, ela disse que eu era bonito", conta Cristian Boolin, 20, modelo da Citroën.
Segundo Mezalira, em um outro evento, uma mulher deu um cartão de crédito para ele gastar "quanto quisesse". Sua irmã confirma a história.
A Volkswagen optou por contratar estudantes universitários para trabalhar como recepcionistas. Ao todo são cem estagiários, entre homens e mulheres, que participaram de um treinamento de um mês dentro da fábrica para estarem preparados na hora de apresentar os carros.
"Eu faço engenharia na Unip e para mim é mais fácil falar sobre esse assunto", explica Carlos Henrique Felippe, 25, estudante. Ele afirma também que está bem preparado para tirar todas as dúvidas sobre os carros. (GN e LS)


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