São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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Cidade dos segredos

Em Arjeplog, no norte da Suécia, lagos congelam no inverno e viram pistas para teste de sistemas e de carros que serão lançados nos próximos anos

Fabiano Severo/Folhapress
A 35°C negativos, os lagos congelam, mas é preciso ao menos 50 cm de gelo para o carro não parar na água

FABIANO SEVERO
ENVIADO ESPECIAL A ARJEPLOG (SUÉCIA)

Axel Wust, 32, tem o emprego que qualquer fã de carro pediu a Deus. É piloto de teste da BMW e viaja o mundo guiando os carros alemães do deserto do Atacama (Chile) à neve de Arjeplog.
Este povoado, a 930 km ao norte de Estocolmo (Suécia), abriga apenas 3.000 habitantes e é conhecido como a "cidade dos segredos".
De dezembro a março, cerca de 4.000 engenheiros de teste e pilotos invadem a cidade para testar os carros sobre os lagos congelados ""forma-se um metro de gelo sobre as águas, com temperaturas de até 58?C negativos.
"É ótimo para testar sistemas de partida a frio. Afinal, se o motor pegar aqui, pega em qualquer lugar do mundo", afirma o brasileiro André Missagia, engenheiro de teste da Fiat, que mantém um campo de provas no inverno.
Arjeplog também é um bom lugar para calibrar os sistemas de segurança, como freios ABS e ESP (controle de estabilidade).
"Mudamos a calibração de intervenção do ESP de acordo com o carro, mais esportivo ou luxuoso", explica Missagia, enquanto dirige uma Lancia Delta com o novo sistema que contra-esterça o volante sozinho, em saídas de traseira, comuns na neve.
Para isso, as montadoras criam pistas sobre o gelo, para aceleração, frenagem e "handling" (maneabilidade).
Há pistas circulares de diferentes diâmetros e até uma cópia do traçado de Hockenheimring (Alemanha), um dos mais rápidos do mundo.

VIDEOGAME E VODCA
Na neve, porém, não dá para abusar muito. O coeficiente de atrito com o gelo polido é cerca de um décimo comparado com o do asfalto.
Em outras palavras, o carro derrapa a 40 km/h em uma curva que você faria assoviando a 80 km/h no seco.
É o paraíso dos carros com tração traseira, no qual é possível fazer "drift" (derrapagem controlada) na esquina da padaria. Não é à toa que, da Escandinávia, saem grandes pilotos de rali.
"Para divertir, desligamos todos os controles eletrônicos e ficamos horas girando no círculo só olhando pela janela lateral", conta Wust, engenheiro especializado em sistemas eletrônicos.
Nas horas vagas, ele dirige ""acredite. Mas em um cockpit de videogame, instalado no lobby do hotel onde fica.
Ele e os amigos ""também pilotos de teste, às vezes de outras marcas"" fazem apostas com vodca (afinal, é a terra da Absolut). Quem faz a pior volta, vira um "shot".
O curioso é que, à medida que eles vão ficando bêbados, os tempos de volta vão piorando ""e a gozação também.
Após três meses, os pilotos voltam para casa. O difícil é explicar para a família que, no inverno que vem, tem mais.

O jornalista viajou a convite da Fiat


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