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CAPA
Lojas cobram R$ 70 para "rebobinar" hodômetro
Infrator assegura que o serviço não deixa marca e é feito no mesmo dia
RICARDO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Indicações de lojas que fazem a adulteração do hodômetro não faltam. A prática é mais
comum do que se imagina e
passa uma falsa impressão de
que o carro é mais novo do que
realmente é.
Na semana passada, a Folha
procurou uma oficina especializada em reparo de painéis,
numa movimentada rua do
centro de São Paulo.
Sem se identificar, a reportagem usou um Chevrolet Celta
usado para ser avaliado, e o
funcionário da loja logo confirmou a prática do serviço.
"Você quer voltar o velocímetro? Cobro R$ 70 o analógico", disparou, sem hesitar.
A reportagem explicou a intenção de reduzir a quilometragem dos atuais 80 mil quilômetros para a metade, a fim de
melhorar o preço na revenda.
O atendente garantiu que a
adulteração não deixaria marcas. "Desmontamos o painel e
fazemos o serviço no mesmo
dia. É impossível perceber [a
adulteração no hodômetro]."
O analógico, mais comum
em carros "populares", é um
simples conjunto de engrenagens. O infrator volta o marcador manualmente com facilidade e recoloca o lacre.
Mas nem os modernos marcadores digitais estão a salvo.
"Voltar o digital custa R$ 100
porque usamos um programa
de computador", diz o infrator.
"Mágica"
Nesse caso, uma pequena
máquina é plugada ao hodômetro e, em seguida, digitada a
quilometragem que se deseja.
Num passe de mágica, o número aparece no visor do carro.
Os mais novos -e importados- estão melhorando a tecnologia e bloqueando o acesso
ao software do painel.
Mas o funcionário da oficina
no centro assegura que não há
sistema inviolável. Apenas alguns "dão mais trabalho" e, por
isso, o preço da fraude aumenta. No novo Toyota Corolla, por
exemplo, "usamos outro programa de computador e fica em
R$ 150", explica.
Para o consultor Cláudio Boriola, especialista em direitos
do consumidor, "antes da compra, consulte um perito para
constatar a vida útil do motor, a
numeração do chassi e o estado
da carroceria", orienta.
Quem vende o carro com o
hodômetro adulterado comete
crime contra as relações de
consumo e pode ser condenado
a prisão de dois a cinco anos.
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