São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

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Land Rover Discovery completa 20 anos, e Série 1, quase 61

Dirigir um jipe criado após a 2ª Guerra Mundial faz Celta e Mille parecerem carros de luxo

Fotos Fabiano Severo/Folha Imagem
No jardim do castelo de Eastnor, na Inglaterra, Série1 1949 mostra linhas quadradas que estão até hoje no Defender

FABIANO SEVERO
ENVIADO ESPECIAL A LEDBURY (INGLATERRA)

Guiar um carro da década de 40 é sempre uma experiência de vida. Às vezes boa, às vezes não. Foi assim com um Série 1, o primeiro Land Rover da dinastia com exatos 60 anos.
De longe, ele era o primeiro de uma fila de jipes ingleses feitos para a guerra, mas nunca entraram em um campo de batalha. Nasceram e moraram na fábrica de Solihull (Inglaterra), construída após o bombardeio à planta de Coventry.
Ao lado do Série 1, entusiastas aguardam para ensinar o motorista de hoje a guiar o carro de ontem. Se não, nada feito.
Não daria para achar sequer a maçaneta. Aliás, ela nem existe -há um triângulo de pano na porta para permitir que sua mão invada o interior e procure uma alavanca no forro da porta.
Esta, porém, é rebatível. Se você abri-la e não segurá-la, ela vira ao contrário e não volta, como porta de geladeira velha.
Dentro do galipão, um olhar via como era difícil a vida em 1949. O banco de mola é duro e o encosto, nem se fala. Não chega a 1 mm de espuma real e apóia apenas a lombar.
Erick Smith, instrutor, mostra o local da chave. À esquerda, é claro -a direção é à direita.
Pé na embreagem e "vroom", o motor 1.6 de parcos 50 cv acorda de primeira. Nem parece um alternador sexagenário.

Chove chuva
Visualmente, só os pedais estão na ordem de costume -o acelerador é do tamanho de uma borracha escolar. O resto é invertido, inclusive o câmbio.
Câmbio? É difícil pensar que o braço esquerdo terá força para engatar a primeira das quatro marchas. Uma dica: "Tente forçar a alavanca para a esquerda e achar a primeira". Feito!
Pior seria para engatar a segunda. O sistema da época não trazia sincronizador entre as primeiras marchas. Era preciso passar o ponto morto e, em seguida, tentar a sorte na marra.
Uma pequena arranhada e já está. Em segunda, dá para sentir o vento invadindo os vãos do para-brisa rebatível. Tudo treme: banco, lona, volante.
Terceira e quarta entram e o jipão já atinge 25 milhas por hora. Psicologicamente, parece bem mais do que 40 km/h.
É muito para os tambores, quase figurantes na arte de frear. "Pise com força no pedal", avisa o instrutor, receoso por um cruzamento à frente.
Só de pensar em reduzir as marchas já dá saudade da velha Caloi 10. Smith sugere que a reduzida seja engatada. Ele levanta o tapete ao lado do túnel do cardã e puxa um pino, tipo granada. Coisa de filme do 007!
Um tranco e um ruído na caixa indicam que o diferencial está acoplado. Pesada, a primeira poderia quase escalar algo.
Mas foram pingos de chuva que abalaram o Série 1. Uma caixa preta no pé do para-brisa guarda o sistema de acionamento dos limpadores. O botão gira e volta para fazer a pobre e única borrachinha funcionar.
Um barulho irritante toma conta da cabine já barulhenta. O que poderia prejudicar o passeio, só o apimentou. Ainda mais ao lembrar que o atual Defender, que um dia foi brasileiro, não é lá tão diferente assim.


O jornalista viajou a convite da Land Rover, que cedeu o Série 1 para avaliação


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