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foco
Poder de compra maior dita vendas em alta
Fatores como aumento do crédito e salários mais altos impulsionam aquisição de usados, dizem analistas
DE SÃO PAULO
Em janeiro do ano passado, o zelador Mauro Lima Silva, 35, realizou seu grande
sonho: comprou seu primeiro automóvel, um Chevrolet
Vectra 2.0 ano 1997.
"Aquele do modelo novo
mais antigo", orgulha-se.
Com o que sobrou da carta
de crédito de um consórcio,
ainda adquiriu um pequeno
terreno em Franco da Rocha
(Grande São Paulo), onde
agora constrói uma casa.
Sem celular e micro-ondas, o zelador diz que a chegada do carro mudou a vida
dos filhos e da mulher, que
não trabalha. "Nos fins de semana, a gente se arruma e sai
para passear de carrão."
PODER DE COMPRA
Na avaliação de especialistas, a explosão nas vendas
de veículos nos últimos cinco
anos deve-se, em parte, ao
aumento do poder de consumo da população.
Pesquisa da Cetelem (financeira do grupo francês
BNP Paribas) e da Ipsos
aponta que neste período
houve uma mudança radical
do retrato social brasileiro.
Hoje a classe C representa a
metade da população, ante
os 35% das D e E -o inverso
do registrado em 2005.
Para Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia
da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), essa transformação é explicada em partes
pela forte queda na taxa de
natalidade desde meados da
década de 1980.
"A oferta ilimitada de trabalho chegou ao fim, e os novos empregos passaram a
oferecer salários mais altos.
Cenário típico das economias
desenvolvidas", diz Nakano.
MAIS CRÉDITO
O crescimento econômico,
a maior disponibilidade de
crédito e a queda nos juros
também contribuíram. A
oferta de crédito no país, por
exemplo, passou de um nível
inferior a 30% do PIB no início 2002 para mais de 40%.
Entre os consumidores da
classe C, cuja renda familiar
varia de R$ 804 a R$ 1.114, a
pretensão de compra de um
carro foi o que teve o maior
percentual de crescimento
na pesquisa, passando de
14% para 17%. Gastos com
lazer e viagem, por exemplo,
foram de 26% para 28%.
Para o economista Walter
Belluzzo Júnior, da USP, a diminuição temporária do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros
zero derrubou também o preço dos usados, facilitando a
aquisição de um automóvel.
É de olho nessa redução
que o técnico Francisco Maciel, 25, planeja trocar sua
moto Honda CG 150 por um
carro nos próximos meses.
"O banco me ofereceu um
empréstimo de R$ 23 mil,
mas prefiro me endividar menos e comprar um Gol usado.
Mesmo assim, se eu voltar
"montado" para a Paraíba,
meus pais pensarão que eu
venci como trabalhador."
(FELIPE NÓBREGA)
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