São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Poder de compra maior dita vendas em alta

Fatores como aumento do crédito e salários mais altos impulsionam aquisição de usados, dizem analistas

DE SÃO PAULO

Em janeiro do ano passado, o zelador Mauro Lima Silva, 35, realizou seu grande sonho: comprou seu primeiro automóvel, um Chevrolet Vectra 2.0 ano 1997.
"Aquele do modelo novo mais antigo", orgulha-se. Com o que sobrou da carta de crédito de um consórcio, ainda adquiriu um pequeno terreno em Franco da Rocha (Grande São Paulo), onde agora constrói uma casa.
Sem celular e micro-ondas, o zelador diz que a chegada do carro mudou a vida dos filhos e da mulher, que não trabalha. "Nos fins de semana, a gente se arruma e sai para passear de carrão."

PODER DE COMPRA
Na avaliação de especialistas, a explosão nas vendas de veículos nos últimos cinco anos deve-se, em parte, ao aumento do poder de consumo da população.
Pesquisa da Cetelem (financeira do grupo francês BNP Paribas) e da Ipsos aponta que neste período houve uma mudança radical do retrato social brasileiro. Hoje a classe C representa a metade da população, ante os 35% das D e E -o inverso do registrado em 2005.
Para Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), essa transformação é explicada em partes pela forte queda na taxa de natalidade desde meados da década de 1980.
"A oferta ilimitada de trabalho chegou ao fim, e os novos empregos passaram a oferecer salários mais altos. Cenário típico das economias desenvolvidas", diz Nakano.

MAIS CRÉDITO
O crescimento econômico, a maior disponibilidade de crédito e a queda nos juros também contribuíram. A oferta de crédito no país, por exemplo, passou de um nível inferior a 30% do PIB no início 2002 para mais de 40%.
Entre os consumidores da classe C, cuja renda familiar varia de R$ 804 a R$ 1.114, a pretensão de compra de um carro foi o que teve o maior percentual de crescimento na pesquisa, passando de 14% para 17%. Gastos com lazer e viagem, por exemplo, foram de 26% para 28%.
Para o economista Walter Belluzzo Júnior, da USP, a diminuição temporária do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros zero derrubou também o preço dos usados, facilitando a aquisição de um automóvel.
É de olho nessa redução que o técnico Francisco Maciel, 25, planeja trocar sua moto Honda CG 150 por um carro nos próximos meses.
"O banco me ofereceu um empréstimo de R$ 23 mil, mas prefiro me endividar menos e comprar um Gol usado. Mesmo assim, se eu voltar "montado" para a Paraíba, meus pais pensarão que eu venci como trabalhador."
(FELIPE NÓBREGA)


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