São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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SINAL FECHADO
Para especialistas, só de parar no semáforo motorista sofre desgaste emocional

Cruzamentos de São Paulo são fonte de renda e medo

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Vista aérea do cruzamento da avenida Henrique Schaumann com Rebouças, onde há grande concentração de ambulantes


CHRISTIAN MARRA
free-lance para a Folha

Cada vez que um semáforo fica vermelho, o que se vê nos principais cruzamentos de São Paulo não é apenas a obediência a ele. Para alguns, sinal fechado significa a esperança de reforçar o orçamento familiar ou levantar contribuições para instituições filantrópicas. Para outros, é também ocasião para a prática de assaltos e roubos, gerando tensão e medo entre os motoristas, que já sofrem com o trânsito pesado.
Encontrar pessoas que já foram vítimas de assaltos em semáforos, ou que tenham amigos e conhecidos que passaram pela experiência, não é tarefa complicada. "Já me levaram o celular e R$ 30", diz o estudante de publicidade Carlos Eduardo Alves Muniz.
"Há poucos dias, quase fui assaltado novamente, no cruzamento da Teodoro Sampaio com a Henrique Schaumann. Um menor que lavou meu vidro me apontou o estilete, mas escapei."
Ao seguir abordando os motoristas na avenida Henrique Schaumann, a reportagem da Folha reuniu facilmente outros relatos: "Já fui assaltada por menores em semáforos umas cinco vezes", afirma Ana Paula Soares, pós-graduanda em administração.

Ileso
No mesmo local, o engenheiro civil Ney Lemos Brandão declarou nunca ter sido assaltado em cruzamentos, uma sorte que sua mulher não teve: "Ela só precisou entregar o celular", diz Brandão. Ele aponta sua receita para evitar esse perigo: "O negócio é fechar todos os vidros e prestar atenção ao movimento", afirma.
Ficar atento a pessoas ao redor é uma saída indicada pelos especialistas em direção defensiva, que auxilia a evitar acidentes e a abordagem de "amigos do alheio". A distração ajuda por tirar a capacidade de prevenção de ataques e, quando isso se fizer necessário, de reação calculada do motorista. Distraído, ele é fácil de assustar.
Às vezes, a atitude de alerta pode levar a um excesso de desconfiança. Muitos motoristas temem os vendedores ambulantes dos semáforos, achando que se tratam de assaltantes disfarçados. O registro de casos desse tipo reforçam as suspeitas.

Desconfiança
"Nunca sei se estão só vendendo produtos ou se estão observando meu carro em busca de algo para roubar", diz o empresário Adalberto Rodrigues, referindo-se aos ambulantes.
O medo de assaltos ainda leva os motoristas a fazer sacrifícios para fugir dos perigos. Além de manter a atenção, fechar os vidros é uma ação comum, embora seja desagradável para quem não dispõe de ar-condicionado no carro.
"Só ando com os vidros fechados", diz a motorista Maria do Carmo. "Sou obrigada a sofrer com esse calor para não ser roubada".
A própria atitude de estar alerta durante paradas em semáforos é uma fonte de desgaste emocional. Segundo psicólogos ouvidos pela reportagem, trata-se de um elemento a mais para causar tensões nervosas nas pessoas, que já passam mal com engarrafamentos e atrasos nos compromissos.

Colaborou a Reportagem Local


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