São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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SINAL FECHADO
"Ponto" é concorrido

Ambulantes expulsam assaltantes de semáforo

free-lance para a Folha

Claudinei preferiu não dar seu nome completo. Casado, com cinco filhos, diz ganhar R$ 400 por mês vendendo jornais. Procura fazer de tudo para, com os outros ambulantes que dividem "oficialmente" o local -o cruzamento da rua Pedroso de Morais com a avenida Rebouças, região sudoeste-, preservar o "ponto".
"Numa ocasião, um rapaz começou a fazer assaltos aqui nessa esquina, e nós o mandamos embora", diz Claudinei. "Não queremos que ninguém atrapalhe nosso negócio", afirma. Há 22 anos no mesmo local, ele fez amizade com dezenas de motoristas.
Como semáforos também são fonte de renda, tomar conta de um dos 4.600 cruzamentos com semáforos de São Paulo -ou seja, ser dono de um "ponto", principalmente em um bairro nobre- pode ser um fator decisivo para enfrentar o desemprego.
No cruzamento da avenida Brasil com a rua Colômbia (região sudoeste de São Paulo), Roberto dos Santos e Neide da Costa Santos ocupam o local e são respeitados por outros possíveis vendedores. Eles moram em uma favela na cidade de Santo André (20 km ao sul de São Paulo).
Roberto trabalhava como padeiro e está sem emprego há quatro anos, quando decidiu ser ambulante de semáforo. Ele é ajudado pelo seu filho Davi, de 11 anos. Cada um consegue juntar entre R$ 30 e R$ 40 por dia.
Neide já trabalhou como faxineira e como funcionária de um hotel. Há oito anos, ela passou a vender refrigerantes, sanduíches e água nesse cruzamento.

"Humilhante"
Ela afirma que gostaria de não precisar trabalhar dessa forma. "Por mim, deixaria esse trabalho, que é humilhante. Muitas pessoas me tratam com desprezo e indiferença." Seus filhos a ajudam nas vendas, ainda que isso prejudique os estudos. "Eu preferiria que eles pudessem só estudar, mas as dificuldades econômicas me obrigam a trazê-los."
Curiosamente, existe uma lei municipal que impede a atuação de vendedores nos cruzamentos paulistanos. Ela foi criada há dois anos, com o objetivo de impedir a ocorrência de assaltos nos semáforos. O desemprego fez com que essa lei na prática nunca fosse respeitada. (CHRISTIAN MARRA)


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