São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
CLEDORVINO BELINI


Fiat lançarácinco carros e uma picape em 2008

Presidente da Fiat quer uma fatia no bolo de sedãs e picapes médios

Leo Caobelli/Folha Imagem
"Se eu [a Fiat] for líder em todos os segmentos, meu Deus do céu, eu mato todos os concorrentes. A Volkswagen só liderou tanto tempo porque era um mercado de apenas quatro marcas. Hoje são mais de 13. É normal cada um liderar em um determinado segmento."


FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cledorvino Belini está há 35 anos no grupo Fiat e, segundo os cálculos de seu BlackBerry, ainda faltam sete para a sua aposentadoria. Não faz mal. Ele está sorrindo à toa com a liderança da Fiat em 2007 e a chance de crescer mais 17% até dezembro, sem medo da crise americana e do gargalo na fábrica de Betim (MG)
Com camisa de algodão cinza, gola vermelha e logotipos do novo Stilo, Cledorvino Belini, 58, nem parecia trajado como um dos "Capitães da Indústria". "Realmente não me considero um deles."
Estava à vontade, como qualquer presidente de qualquer empresa líder no seu setor. Mas confessa que a concorrência é forte. "Isso, no meu rosto [aponta para um pequeno curativo], foi uma porrada do concorrente. Mas eu bati também."
Na quarta entrevista da série, Belini conta à Folha que o marketing mudou a imagem da Fiat e os investimentos no "Big Brother Brasil", da Rede Globo, e no São Paulo Fashion Week dão bons frutos. Não sem antes pedir licença para colocar um terno alinhado e uma gravata para posar para a foto ao lado.

 

FOLHA - A Fiat foi líder em 2007, produziu 700 mil carros e atingiu 26% de participação no mercado. Mas dados da Fenabrave (federação dos revendedores) apontam que a empresa perdeu a liderança para Volkswagen por dois pontos percentuais na primeira quinzena de janeiro. Por quê?
CLEDORVINO BELINI
- Calma lá. Vamos atualizar esses dados [tira do bolso um BlackBerry]. Pela posição de hoje (dia 22) acumulada, temos 29.569 veículos emplacados e a Volkswagen, 29.448. Isso não diz nada. Temos férias, promoções...

FOLHA - E qual será o crescimento para este ano?
BELINI
- Nossas projeções estão alinhadas com as da Anfavea (associação das montadoras) e devem ficar entre 15% e 17%. O crédito seletivo e o aumento do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] não deixarão a indústria crescer mais de 20%. Se crescermos 15%, teremos 3,5 milhões de carros em 2010.

FOLHA - Esse é o gargalo da indústria projetado pela Anfavea?
BELINI
- Não. A Anfavea se engana, pois onde existe mercado existe investimento. Eles fazem os cálculos do investimento na década de 90, que foi de US$ 30 bilhões. Mas capacidade não fica estável. Eu sempre digo: "Que venha o mercado".

FOLHA - Qual é a capacidade da fábrica de Córdoba, na Argentina?
BELINI
- Entre Brasil e Argentina, temos um milhão de unidades. A fábrica de lá está ociosa e começará a operar este ano.

FOLHA - Qual o segredo da Fiat?
BELINI
- O segredo é interpretar o que o consumidor quer.

FOLHA - Mesmo com o Mille, um projeto de quase 25 anos?
BELINI
- Sim. Ele evoluiu tecnologicamente. É o mais econômico e tem a melhor relação peso/potência do Brasil.

FOLHA - Quanto a Fiat Brasil representa para o grupo?
BELINI
- Em volume, nossas 700 mil unidades são cerca de 28% do total. Em faturamento, deve ser em torno de 15%.

FOLHA - A liderança vem com o fortalecimento das vendas para pessoas jurídicas? A Fiat é líder com 36% em automóveis e 28% em comerciais leves, segundo dados da Fenabrave.
BELINI
- Não senhor. Não passamos de 30%. Nós estamos muito próximo das três grandes marcas (Volks, Ford e GM).

FOLHA - A Palio Weekend caiu 40% nos últimos cinco anos. Por quê?
BELINI
- Concorrência, lançamentos, veículos novos... Todo produto tem uma curva.

FOLHA - Mas o Palio cresceu 68%...
BELINI
- Ele já foi reestilizado.

FOLHA - A Weekend também...
BELINI
- (silêncio) São ciclos de produto. Só isso.

FOLHA - E a nova Weekend, chega quando?
BELINI
- (risos) Eu não darei de mão beijada para o rival.

FOLHA - A Fiat está satisfeita com a quinta posição do Stilo?
BELINI
- Sim. Ele mantém a participação no segmento em 16%.

FOLHA - O Stilo sofria com a falta do câmbio automático?
BELINI
- Percebemos essa deficiência e agora lançamos a versão com câmbio Dualogic.

FOLHA - E quanto isso vai aumentar em vendas?
BELINI
- Se você perguntar para o meu diretor comercial, ele vai falar 50% (risos). Se você perguntar para o meu diretor industrial, ele vai falar 3%... Acho que algo em torno de 15%.

FOLHA - Isso já é suficiente para o Stilo subir da quarta para a segunda posição entre os médios.
BELINI
- Não estamos preocupados. Queremos liderança de resultados. Chega de prejuízos.

FOLHA - O Bravo vai melhorar esses resultados?
BELINI
- Não temos previsão.

FOLHA - E o projeto da picape em parceira com a Tata?
BELINI
- Vamos produzir no segundo semestre em Córdoba, mas com design e motores feitos aqui, em Sete Lagos (MG).

FOLHA - O acordo com a Tata vai permitir ter um carro de US$ 2.500 da Fiat?
BELINI
- Para ter conteúdos de segurança e os de emissões, teria de custar mais. O caminho é a nanotecnologia, com materiais leves e resistentes.

FOLHA - Se a Fiat investe tanto em tecnologia, por que tem dificuldade em vender carros sofisticados no Brasil?
BELINI
- (silêncio) É uma boa pergunta. A Fiat deu mais destaque aos compactos, que são o grosso do mercado.

FOLHA - E o Linea, chega quando?
BELINI
- Não definimos. Ele vai preencher a vaga do Marea, que parou de ser feito em agosto.

FOLHA - Será no primeiro semestre?
BELINI
- Não.

FOLHA - Quantos lançamentos a Fiat terá em 2008?
BELINI
- Seis.

FOLHA - O Fiat 500 tem chance?
BELINI
- É um nicho de mercado muito particular. Um produto sofisticado, caro. Assim como o Mini, o Beetle.

FOLHA - Ele chegaria por quanto? O Mini custa R$ 140 mil.
BELINI
- (risos) É. Mas vendeu quantos no ano passado? Dois (faz o gesto com a mão).

FOLHA - Por falar em nicho, o FCC pode ser lançado?
BELINI
- (risos) Acho que meu chefe me demitiria na hora. É um carro-conceito, que empresta linhas para os de série. Os faróis são os do Siena novo.

FOLHA - Como medir o retorno de ações como "Big Brother Brasil" e São Paulo Fashion Week?
BELINI
- O Fashion Week mostra que a empresa está ligada no design, na modernidade. O "Big Brother" é para produto. É a oportunidade de mostrar o que os anúncios não conseguem.

FOLHA - O sr. iria para a Fiat Itália?
BELINI
- Não. A minha sensibilidade é Brasil. Estou no grupo há 35 anos e gerencio a Fiat América Latina e África do Sul.

FOLHA - E a aposentadoria?
BELINI
- Pelas minhas contas, ainda faltam sete anos (risos).


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