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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
CLEDORVINO BELINI
Fiat lançarácinco carros e uma picape em 2008
Presidente da Fiat quer uma fatia no bolo de sedãs e picapes médios
Leo Caobelli/Folha Imagem
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"Se eu [a Fiat] for líder em todos os
segmentos, meu Deus do céu, eu mato
todos os concorrentes. A Volkswagen só
liderou tanto tempo porque era um
mercado de apenas quatro marcas. Hoje
são mais de 13. É normal cada um liderar
em um determinado segmento." |
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cledorvino Belini está há 35 anos no grupo Fiat e, segundo os cálculos de seu BlackBerry, ainda faltam sete para a sua aposentadoria. Não faz mal. Ele está sorrindo à toa com a liderança da Fiat em 2007 e a chance de crescer mais 17% até dezembro, sem medo da crise americana e do gargalo na fábrica de Betim (MG)
Com camisa de algodão cinza, gola vermelha e logotipos do
novo Stilo, Cledorvino Belini,
58, nem parecia trajado como
um dos "Capitães da Indústria". "Realmente não me considero um deles."
Estava à vontade, como qualquer presidente de qualquer
empresa líder no seu setor. Mas
confessa que a concorrência é
forte. "Isso, no meu rosto
[aponta para um pequeno curativo], foi uma porrada do concorrente. Mas eu bati também."
Na quarta entrevista da série,
Belini conta à Folha que o marketing mudou a imagem da
Fiat e os investimentos no "Big
Brother Brasil", da Rede Globo,
e no São Paulo Fashion Week
dão bons frutos. Não sem antes
pedir licença para colocar um
terno alinhado e uma gravata
para posar para a foto ao lado.
FOLHA - A Fiat foi líder em 2007, produziu 700 mil carros e atingiu 26% de participação no mercado. Mas dados da
Fenabrave (federação dos revendedores) apontam que a empresa perdeu a
liderança para Volkswagen por dois
pontos percentuais na primeira quinzena de janeiro. Por quê?
CLEDORVINO BELINI - Calma lá.
Vamos atualizar esses dados
[tira do bolso um BlackBerry].
Pela posição de hoje (dia 22)
acumulada, temos 29.569 veículos emplacados e a Volkswagen, 29.448. Isso não diz nada.
Temos férias, promoções...
FOLHA - E qual será o crescimento para
este ano?
BELINI - Nossas projeções estão
alinhadas com as da Anfavea
(associação das montadoras) e
devem ficar entre 15% e 17%. O
crédito seletivo e o aumento do
IOF [Imposto sobre Operações
Financeiras] não deixarão a indústria crescer mais de 20%. Se
crescermos 15%, teremos 3,5
milhões de carros em 2010.
FOLHA - Esse é o gargalo da indústria
projetado pela Anfavea?
BELINI - Não. A Anfavea se engana, pois onde existe mercado
existe investimento. Eles fazem os cálculos do investimento na década de 90, que foi de
US$ 30 bilhões. Mas capacidade não fica estável. Eu sempre
digo: "Que venha o mercado".
FOLHA - Qual é a capacidade da fábrica
de Córdoba, na Argentina?
BELINI - Entre Brasil e Argentina, temos um milhão de unidades. A fábrica de lá está ociosa e
começará a operar este ano.
FOLHA - Qual o segredo da Fiat?
BELINI - O segredo é interpretar
o que o consumidor quer.
FOLHA - Mesmo com o Mille, um projeto de quase 25 anos?
BELINI - Sim. Ele evoluiu tecnologicamente. É o mais econômico e tem a melhor relação
peso/potência do Brasil.
FOLHA - Quanto a Fiat Brasil representa para o grupo?
BELINI - Em volume, nossas
700 mil unidades são cerca de
28% do total. Em faturamento,
deve ser em torno de 15%.
FOLHA - A liderança vem com o fortalecimento das vendas para pessoas jurídicas? A Fiat é líder com 36% em automóveis e 28% em comerciais leves, segundo dados da Fenabrave.
BELINI - Não senhor. Não passamos de 30%. Nós estamos
muito próximo das três grandes marcas (Volks, Ford e GM).
FOLHA - A Palio Weekend caiu 40% nos
últimos cinco anos. Por quê?
BELINI - Concorrência, lançamentos, veículos novos... Todo
produto tem uma curva.
FOLHA - Mas o Palio cresceu 68%...
BELINI - Ele já foi reestilizado.
FOLHA - A Weekend também...
BELINI - (silêncio) São ciclos de
produto. Só isso.
FOLHA - E a nova Weekend, chega
quando?
BELINI - (risos) Eu não darei de
mão beijada para o rival.
FOLHA - A Fiat está satisfeita com a
quinta posição do Stilo?
BELINI - Sim. Ele mantém a participação no segmento em 16%.
FOLHA - O Stilo sofria com a falta do
câmbio automático?
BELINI - Percebemos essa deficiência e agora lançamos a versão com câmbio Dualogic.
FOLHA - E quanto isso vai aumentar em
vendas?
BELINI - Se você perguntar para
o meu diretor comercial, ele vai
falar 50% (risos). Se você perguntar para o meu diretor industrial, ele vai falar 3%... Acho
que algo em torno de 15%.
FOLHA - Isso já é suficiente para o Stilo
subir da quarta para a segunda posição
entre os médios.
BELINI - Não estamos preocupados. Queremos liderança de
resultados. Chega de prejuízos.
FOLHA - O Bravo vai melhorar esses resultados?
BELINI - Não temos previsão.
FOLHA - E o projeto da picape em parceira com a Tata?
BELINI - Vamos produzir no segundo semestre em Córdoba,
mas com design e motores feitos aqui, em Sete Lagos (MG).
FOLHA - O acordo com a Tata vai permitir ter um carro de US$ 2.500 da Fiat?
BELINI - Para ter conteúdos de
segurança e os de emissões, teria de custar mais. O caminho é
a nanotecnologia, com materiais leves e resistentes.
FOLHA - Se a Fiat investe tanto em tecnologia, por que tem dificuldade em
vender carros sofisticados no Brasil?
BELINI - (silêncio) É uma boa
pergunta. A Fiat deu mais destaque aos compactos, que são o
grosso do mercado.
FOLHA - E o Linea, chega quando?
BELINI - Não definimos. Ele vai
preencher a vaga do Marea, que
parou de ser feito em agosto.
FOLHA - Será no primeiro semestre?
BELINI - Não.
FOLHA - Quantos lançamentos a Fiat
terá em 2008?
BELINI - Seis.
FOLHA - O Fiat 500 tem chance?
BELINI - É um nicho de mercado muito particular. Um produto sofisticado, caro. Assim
como o Mini, o Beetle.
FOLHA - Ele chegaria por quanto? O Mini custa R$ 140 mil.
BELINI - (risos) É. Mas vendeu
quantos no ano passado? Dois
(faz o gesto com a mão).
FOLHA - Por falar em nicho, o FCC pode
ser lançado?
BELINI - (risos) Acho que meu
chefe me demitiria na hora. É
um carro-conceito, que empresta linhas para os de série.
Os faróis são os do Siena novo.
FOLHA - Como medir o retorno de
ações como "Big Brother Brasil" e São
Paulo Fashion Week?
BELINI - O Fashion Week mostra que a empresa está ligada no
design, na modernidade. O "Big
Brother" é para produto. É a
oportunidade de mostrar o que
os anúncios não conseguem.
FOLHA - O sr. iria para a Fiat Itália?
BELINI - Não. A minha sensibilidade é Brasil. Estou no grupo
há 35 anos e gerencio a Fiat
América Latina e África do Sul.
FOLHA - E a aposentadoria?
BELINI - Pelas minhas contas,
ainda faltam sete anos (risos).
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