Hatches de Nissan e Ford estão entre os melhores mais pela inércia dos rivais

FABIANO SEVERO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Tiida e Focus nunca foram campeões de audiência. Ainda que, há pelo menos um ano e meio, estejam entre os melhores hatches médios do país. Até aí, nada: o mercado não tem muita coisa boa a oferecer.
Seus concorrentes estão obsoletos. O Golf 4 brasileiro há muito ganhou uma sexta geração na Europa. Lá, Peugeot 307 já virou 308, Fiat Stilo se transformou em Bravo, e Vectra GT deu lugar ao Opel Astra. Nosso Astra é peça de museu...
Por que, então, Tiida e Focus não deslancham? A resposta para o Nissan é fácil. A marca, apesar de grande no Japão, é pequena no Brasil. O design, mesmo com o ar fluido da nova grade frontal, mantém um quê de carro ultrapassado.
Para piorar, um ano atrás, não oferecia motor "flex" quando quase todos os rivais já bebiam álcool, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis.
Esse problema o Focus também sofreu. Seu motor 2.0 Duratec só roda com gasolina -o bicombustível virá (tarde) na próxima semana.
O propulsor Sigma 1.6 chega para ajudar um carro que já nasceu bonito, sofisticado e... argentino. Está aí o grande senão do Focus. Nada contra a Argentina, mas os carros da Ford feitos em Pacheco sempre tiveram manutenção cara e pouca peça em estoque aqui.
A sina começou nos anos 90 com o Escort Guarujá, passou para o Escort Zetec e condenou a primeira geração do Focus. Não por acaso eles são pouco valorizados na revenda.
Tecnicamente, o Tiida é mais simples que o Focus. No lugar de eixo de torção e freio a tambor traseiros, o Ford traz suspensão independente e freio a disco atrás (opcional).
O motor 1.8 16V (até 126 cv) da Nissan, porém, dá um banho de elasticidade, tem mais torque para ultrapassagens e roda quase 14 quilômetros com um único litro de gasolina, aponta o teste Folha-Mauá.
Sem falar na sexta marcha do câmbio manual. Deixa o giro baixinho enquanto o isolamento acústico se preocupa com o silêncio na cabine.
A Ford vende o Sigma como a última cereja do bolo de chocolate -amargo. Tudo bem, palmas para o bloco, o cabeçote e os pistões de alumínio, além do peso pena (apenas 76 kg).

Panela velha
E na prática? Era o motor que Fiesta e Ka pediram a Deus. No Focus, é um motorzinho de até 115 cv que não faz milagre. Salvo o silêncio e a baixa vibração ao rodar, tem desempenho apenas razoável.
Para se ter ideia, o antigo Focus com motor Rocam 1.6 8V (112 cv) era melhor em tudo. Tudo, sem exceção: aceleração, retomada e consumo, segundo medições feitas em 2007.
De 0 a 100 km/h (com álcool), o antigo precisava de 11,6s, quase 2s mais rápido que o novo Focus. O Tiida completa a prova em 10,4s.
Até no prazer ao dirigir o antigo Ford ganha. O novo é bom, mas o velho era ótimo. Ainda assim, o modelo atual tem a melhor direção do segmento. É precisa. Nem pesada nem leve.
Já a direção do Tiida parece a do Opala Comodoro SL/E 1988. Tão leve que dá dó dos batentes. Cada estacionada é um chiado do sistema elétrico -e não hidráulico.
Em tempo: a direção do Nissan é progressiva e mais dura em altas velocidades. Mesmo assim, não dá segurança (bem mais que a do Chevrolet).
O Tiida capricha no espaço interno. Se você superar o design e chegar até os bancos, não sairá de lá. Os dianteiros são largos no encosto e no assento, coisa de utilitário bom.
Os bancos de trás são ainda melhores. Podem ser reclinados e corrediços em 24 cm. É a conta para empurrá-lo para frente e ampliar o porta-malas de 289 l para 463 l.
De uma forma ou de outra, a cabeça não baterá no teto, 5 cm mais alto que o do Ford.
Não se pode dizer o mesmo do Focus. A linha de teto que faz dele o hatch mais belo e harmonioso do país também sacrifica o espaço vertical.
O Focus equipado com ar-condicionado, direção hidráulica e trio elétricos parte de R$ 49,9 mil. O Tiida "S" -versão de entrada- caiu de preço e agora custa R$ 1.000 a menos (R$ 48.990). É pouco, mas praticamente paga o IPVA 2010.