São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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Pai dá o carro, mas cobra diploma

CESAR AUGUSTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há pais que não se contentam em prover o primeiro afago, a primeira bronca, o primeiro brinquedo, a primeira mesada. Conscientes do ainda limitado orçamento de filhos recém-chegados à maioridade, acabam fornecendo também o primeiro carro.
Mas nem tudo é meiguice nessa relação. A psicóloga Mônica Cristina Mendes, pós-graduada em psicologia hospitalar e administração de recursos humanos, explica que, nesses casos, é preciso alguns cuidados. "Quem presenteia deve deixar clara a sua expectativa em relação a quem recebe."
Assim, um pai pode dar um veículo para o filho de 18 anos pelo simples fato de não ter tido o seu ou um marido pode presentear a mulher para salvar o casamento. "Não vejo problema, mas tudo tem de estar bem negociado, senão um pode sair desapontado."
No caso do filho, a psicóloga lembra que é bom vincular o carro a algum objetivo a ser alcançado, como entrar na faculdade. "Essa é uma boa forma de mostrá-lo que as coisas são difíceis na vida e demandam esforço para serem conquistadas", argumenta.

Toma lá, dá cá
Foi exatamente isso que fez o advogado Raul Haidar, 60. Ele deu um automóvel para cada uma de suas três filhas, quando elas tiraram a carteira de habilitação, mas exigiu a aprovação no vestibular em troca. "Adoro comprar carros e presenteei as três quando entraram na faculdade."
O terapeuta Gustavo Fagundes, 27, teve a mesma sorte. Ganhou um Ford Escort de seu pai ao completar 18 anos, época em que fazia um intercâmbio na Inglaterra. "Corri para tirar a carteira de motorista, pois as aulas começavam naquele mês e eu estava ansioso para ir de carro", lembra.
As circunstâncias em que a representante comercial Marta de Almeida, 28, ganhou seu carro foram diferentes. Casada há dois anos, recebeu um Fiat Mille EP do marido há dois meses. Ela só admitia tirar carteira quando tivesse seu próprio veículo para poder passear com o filho. "Quando vi aquele carrinho lindo na minha porta, tive um ataque. Subi no capô e beijei o vidro do Mille."
Para ter seu Fiat Palio ELX prata zero-quilômetro, a estudante de odontologia Danielle Modanezi, 22, de Laranjal Paulista (174 km a noroeste de São Paulo), pagou apenas R$ 60. Em abril do ano passado, ela comprou uma rifa.
Com o número esquecido na gaveta, ela diz que não esperava ganhar um dos seus modelos favoritos. "Quando me ligaram, achei que fosse trote, mas, no dia em que ele chegou, quase tive uma parada cardíaca."



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