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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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REPOSIÇÃO

Vindas da Ásia e de países da ex-URSS, peças falsas aumentam o consumo e provocam acidentes

Piratas invadem motor e suspensão

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Acostumados aos CDs pirateados, os brasileiros estão enfrentando -muitas vezes sem saber- uma outra onda de falsificação. Desta vez são as autopeças, que causam prejuízos de US$ 20 bilhões a cada ano aos fabricantes.
Atraídos por preços bem mais baixos, os motoristas podem gastar até 20% mais combustível, deixar o carro com uma potência 20% inferior ou sofrer acidentes.
"Muitas vezes culpam o motorista por um acidente, mas a causa é uma peça falsificada", avalia Pedro Mochetti, diretor-geral da ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação). Ele exemplifica com um rolamento: a peça aquece, funde e, em uma curva, o motorista perde o controle do veículo. Some-se a isso a baixa qualidade das estradas.
Mas as consequências dependem de qual peça falsificada equipa o carro. Uma lâmpada com potência alterada -as ilegais são mais potentes que o permitido- pode colocar fogo no carro. "A corrente é mais forte do que aquela que o carro suporta", explica João Paulo Borgonove, gerente nacional de vendas da Philips.

Catalisador
Um milímetro pode não parecer nada, mas, no caso das lâmpadas, causa até acidentes. O facho de luz é emitido por meio de um jogo de espelho. Fora de seu lugar, ele pode jogar a luz nos olhos de quem vem no sentido oposto ou no acostamento, perdendo completamente sua função.
A diferença de preço acaba rápido. Uma lâmpada original custa, em média, R$ 10. As asiáticas -China, Índia e Coréia do Sul são os principais fornecedores- saem por R$ 4. Mas a original dura, segundo Borgonove, 700 horas, enquanto as falsificadas ficam acesas por apenas quatro horas.
Também sente no bolso quem usa catalisador falso. Segundo Carlos Eduardo Moreira, gerente de marketing da Umicore, o gasto de combustível aumenta até 20%, e a potência cai na mesma proporção. "Sem o catalisador, o carro fica sem a sonda lambda. Ela mede o oxigênio que sai pelo escapamento e "diz" que a injeção eletrônica tem de se ajustar."
Moreira conta que poucos consumidores conhecem um catalisador, o que facilita a disseminação das peças falsificadas. As lojas de reposição pagam R$ 30 pelo item usado, que é encaminhado para reciclagem. Acabam caindo em fábricas de fundo de quintal. Elas deixam a carcaça vazia ou colocam palha de aço no interior.
Desde 1991, 13 milhões de veículos saíram de fábrica com catalisador. Calcula-se que 3,5 milhões rodem sem o item, aumentando a poluição. "Por ano, são trocados 300 mil, mas nem 10% são originais", conta Moreira.

Parece, mas não é
Outro problema no mercado de reposição são embalagens semelhantes às originais. É o que acontece, por exemplo, com as palhetas da Bosch. "Além disso, a qualidade do produto é bastante inferior. Nós usamos borracha importada no original", afirma Carlos Barbosa, gerente de vendas para reposição da empresa.
No caso dos catalisadores, o "parece, mas não é" é mais difícil de ser identificado. "A aparência [do falsificado, oco] é de original. O nome do fabricante continua lá", alerta o gerente da Umicore.


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