São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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CAPA

SEGUNDA MÃO DE PRIMEIRA

Brechós são centros de resistência à cultura do descartável, oásis de estilo e opções para renovar o guarda-roupa de maneira econômica

LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE

Consumir de maneira consciente é um dos mantras deste começo de século 21. Um jeito de passar do discurso ao gesto é comprar coisas usadas, contribuindo para aumentar a vida útil dos objetos. Por essas e outras, o comércio de segunda mão, especialmente de roupas, vem ganhando força e sendo estimulado em todo o mundo.
Em São Paulo, cidade que respira moda e tem as lojas
mais modernas do país, existem mais de 50 brechós, espalhados por todas as regiões. E tem para todos os estilos: dos mais básicos, passando pelos modernos até chegar aos de luxo, com grifes e mais grifes.
Além de combater a cultura do descartável, quem compra em brechó economiza. Dá para achar camisa por R$ 5 e vestido de festa por R$ 60, para ficar em alguns exemplos. Os preços das roupas de grife (para quem se importa) também despencam quando elas trocam um closet pela arara da segunda mão. Jeans "premium", que na loja custa R$ 1.000, no brechó vale R$ 300. Um vestido Armani sai por R$ 899, quando na loja custava três vezes mais.
Mas para se dar bem em um brechó é preciso ter paciência e olho. Em muitos, as roupas não estão previamente editadas, nem separadas por modelo e cor. Nesse caso, tem que vasculhar bem. Também não é todo brechó que lava e passa as peças antes de colocá-las à venda. Outra coisa comum é encontrar roupas com pequenos defeitos como falta de botão, zíper quebrado, manchas. Aí trata-se de pesar se vale a pena comprar mesmo assim e arcar com o conserto ou a adaptação. Na maioria das vezes, vale.
Outro problema é a numeração. A maioria dos brechós visitados pela reportagem não tem opções para mulheres que vestem além do 44. Em alguns, a parte de sapatos só contempla quem calça de 36 a 38. Em outros, é o inverso, quem calça 35 encontra mais modelos. Em quase todos as peças são únicas, daí a maioria não fazer trocas.
Para quem quer marcas conhecidas, a dica: nem sempre compensa pagar o preço pedido pelos brechós especializados em grifes. Dependendo do valor, compensa mais ir à ponta de estoque da marca, onde a roupa é nova e custa menos.

Questão de estilo
Brechó também é refúgio de estilo e originalidade, um jeito de fugir do massacre das tendências ditadas pela indústria. Se a cada temporada reaparecem peças iguais às de décadas passadas, por que já não ir direto à fonte e comprar as roupas realmente antiguinhas e não só com cara de retrô?
O estilista Marcelo Sommer, 40, é freqüentador assíduo de brechós. Para ele, esse tipo de loja é ótimo para encontrar roupas de festas e fazer pesquisa de moda. "A moda antes experimentava tecidos legais, outras tramas e cores. Hoje tudo é igual e sem graça. Sempre que quero uma novidade vou ver coisa velha", diz.
A convite do Vitrine, Sommer visitou os brechós Passado Presente e Juisi by Licquor, em São Paulo, e deu orientações na hora de comprar.
Ele recomenda que as mulheres recorram a um brechó quando precisarem comprar vestido de casamento ou festa de gala. "Tem muita opção", diz. Se a idéia é andar na moda, mas gastar pouco, também é possível se dar bem. "As araras estão cheias de vestidos amplos, que são tendência." Saias com anágua, twin-sets, tricôs, chemises, vestidos de helanca e pretinhos são peças que o estilista sugere comprar.
Sommer também dá um último conselho de estilo: privilegiar o clássico e não a manga bufante anos 80, claro: "O legal é não parecer que você está com roupa de brechó. Tudo que é muito caricato fica melhor em festa à fantasia".


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