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CAPA
SEGUNDA MÃO DE PRIMEIRA
Brechós são centros de resistência à cultura do descartável, oásis de estilo e opções
para renovar o guarda-roupa de maneira econômica
LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
Consumir de maneira consciente é um dos mantras deste
começo de século 21. Um jeito
de passar do discurso ao gesto é
comprar coisas usadas, contribuindo para aumentar a vida
útil dos objetos. Por essas e outras, o comércio de segunda
mão, especialmente de roupas,
vem ganhando força e sendo
estimulado em todo o mundo.
Em São Paulo, cidade que
respira moda e tem as lojas
mais modernas do país, existem mais de 50 brechós, espalhados por todas as regiões. E
tem para todos os estilos: dos
mais básicos, passando pelos
modernos até chegar aos de luxo, com grifes e mais grifes.
Além de combater a cultura
do descartável, quem compra
em brechó economiza. Dá para
achar camisa por R$ 5 e vestido
de festa por R$ 60, para ficar
em alguns exemplos. Os preços
das roupas de grife (para quem
se importa) também despencam quando elas trocam um
closet pela arara da segunda
mão. Jeans "premium", que na
loja custa R$ 1.000, no brechó
vale R$ 300. Um vestido Armani sai por R$ 899, quando na loja custava três vezes mais.
Mas para se dar bem em um
brechó é preciso ter paciência e
olho. Em muitos, as roupas não
estão previamente editadas,
nem separadas por modelo e
cor. Nesse caso, tem que vasculhar bem. Também não é todo
brechó que lava e passa as peças
antes de colocá-las à venda. Outra coisa comum é encontrar
roupas com pequenos defeitos
como falta de botão, zíper quebrado, manchas. Aí trata-se de
pesar se vale a pena comprar
mesmo assim e arcar com o
conserto ou a adaptação. Na
maioria das vezes, vale.
Outro problema é a numeração. A maioria dos brechós visitados pela reportagem não tem
opções para mulheres que vestem além do 44. Em alguns, a
parte de sapatos só contempla
quem calça de 36 a 38. Em outros, é o inverso, quem calça 35
encontra mais modelos. Em
quase todos as peças são únicas,
daí a maioria não fazer trocas.
Para quem quer marcas conhecidas, a dica: nem sempre
compensa pagar o preço pedido
pelos brechós especializados
em grifes. Dependendo do valor, compensa mais ir à ponta
de estoque da marca, onde a
roupa é nova e custa menos.
Questão de estilo
Brechó também é refúgio de
estilo e originalidade, um jeito
de fugir do massacre das tendências ditadas pela indústria.
Se a cada temporada reaparecem peças iguais às de décadas
passadas, por que já não ir direto à fonte e comprar as roupas
realmente antiguinhas e não só
com cara de retrô?
O estilista Marcelo Sommer,
40, é freqüentador assíduo de
brechós. Para ele, esse tipo de
loja é ótimo para encontrar
roupas de festas e fazer pesquisa de moda. "A moda antes experimentava tecidos legais, outras tramas e cores. Hoje tudo é
igual e sem graça. Sempre que
quero uma novidade vou ver
coisa velha", diz.
A convite do Vitrine, Sommer visitou os brechós Passado
Presente e Juisi by Licquor, em
São Paulo, e deu orientações na
hora de comprar.
Ele recomenda que as mulheres recorram a um brechó
quando precisarem comprar
vestido de casamento ou festa
de gala. "Tem muita opção",
diz. Se a idéia é andar na moda,
mas gastar pouco, também é
possível se dar bem. "As araras
estão cheias de vestidos amplos, que são tendência." Saias
com anágua, twin-sets, tricôs,
chemises, vestidos de helanca e
pretinhos são peças que o estilista sugere comprar.
Sommer também dá um último conselho de estilo: privilegiar o clássico e não a manga
bufante anos 80, claro: "O legal
é não parecer que você está
com roupa de brechó. Tudo
que é muito caricato fica melhor em festa à fantasia".
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