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DIA DO CONSUMIDOR
Foram à luta e ganharam
Consumidor já é ouvido por empresas quando reclama, mas precisa recorrer à Justiça para resolver problemas
MALU TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois anos atrás, a maior dificuldade enfrentada pelo consumidor insatisfeito era ser ouvido. Hoje, o atendimento melhorou, você até consegue falar
com um ser humano pelo número do SAC. Mas resolver a situação diretamente com as empresas ainda é raríssimo.
Cansadas de bater boca com
atendentes, mais pessoas descontentes vão à Justiça para resolver os impasses. Vão e ganham -pouco, mas ganham.
Depois de ter o telefone cortado sem aviso, a analista de negócios Caroline Merten, 30, entrou com uma ação contra a Telemar no Juizado Especial Cível, antigo Juizado de Pequenas Causas. A empresa dizia
que a consumidora devia duas
faturas (uma de 2005 e outra de
2007), e ela reclamava por não
ter sido avisada antes, além de
ter uma carta da empresa dizendo que não havia débitos.
Acabou ganhando indenização
de R$ 1.800 por ter perdido dois
dias de trabalho, já que usava o
telefone doméstico para isso.
"Hoje, não bato mais boca.
Vou direto ao juizado de pequenas causas. É a única maneira
de a gente ser ouvido. As empresas fazem o que querem.
Quem sabe a coisa melhora, se
todo mundo processar esses
serviços", diz Caroline.
É possível recorrer aos juizados especiais cíveis quando a
indenização pleiteada for de até
40 salários mínimos. Se a indenização for de até 20 salários,
não é preciso ter um advogado
na primeira fase do processo.
A produtora cultural Juliana
Costa, 24, também optou por
esse caminho. Ela processou a
TIM porque, por uma falha de
cobrança da operadora, seu nome foi parar no SPC (Serviço de
Proteção ao Crédito). No fim,
conseguiu um acordo com a
empresa, e ganhou R$ 1.200.
O advogado André Regen, 34,
fez um acordo com a Alitalia na
última semana. A companhia
aérea deve indenizá-lo em
R$ 2.500, por tê-lo deixado sem
a mala, durante três dias, numa
visita a Israel, em julho do ano
passado.
Regen já havia sido indenizado por outras companhias aéreas. Ele diz ter processado
TAM, Gol e Ocean Air por ter
perdido horas esperando voos
durante a crise aérea. Segundo
o advogado, ele ligava para as
empresas antes de ir para o aeroporto, perguntando se o voo
sairia no horário marcado e os
atendentes confirmavam.
"Geralmente eu dou uma
oportunidade para as empresas
resolverem o meu problema,
mas eu não vou ficar pedindo
"pelo amor de Deus'", diz Regen, que contrata um colega para se defender na Justiça.
O administrador Francisco
Pinheiro, 48, conseguiu vitória,
em primeira instância, para
obrigar o plano de saúde Bradesco a custear os remédios para o tratamento de câncer da
sua mãe de 85 anos.
Para o advogado e professor
Arthur Rollo, especializado em
direitos difusos e coletivos, se a
empresa não resolve o problema, a melhor opção é entrar na
Justiça. O que desanima muita
gente, segundo ele, é a demora
do processo judicial.
De acordo Rollo, há uma tendência de os juízes estipularem
um valor baixo para indenizações de dano moral, com o objetivo de desestimular uma corrida à Justiça.
"Muitas pessoas dizem "Isso
dá muito trabalho, vai demorar", mas se nós não incomodarmos, as empresas não vão ter
nenhum motivo para mudar o
comportamento", diz Regen.
Apesar das reclamações, os
órgãos de defesa do consumidor consideram que o atendimento das empresas melhorou
nos últimos anos, principalmente após a lei do SAC, que
entrou em vigor em dezembro
de 2008. Mas ainda está longe
de ser satisfatório. A expectativa era que as empresas passassem a resolver elas próprias os
problemas, o que não está ocorrendo, de acordo com Roberto
Pfeiffer, diretor-executivo do
Procon-SP.
"As empresas ainda demoram, não são pró-ativas. Poderiam solucionar os problemas
de forma mais rápida. Se a empresa criou o problema para o
consumidor, cabe a ela resolver", diz Pfeiffer.
O Procon-SP atendeu 533
mil reclamações no ano passado. Os problemas se concentram em quatro setores: telefonia (fixa e móvel), serviços financeiros (cartões de crédito,
principalmente), energia elétrica e aparelhos celulares.
O órgão quer agora diminuir
esse número de atendimentos.
As empresas campeãs de reclamações foram chamadas pelo
Procon-SP, para estabelecerem
metas de redução dos problemas. Para Pfeiffer, se as empresas melhorarem o treinamento
dos funcionários, dando a eles
maior poder de resolução, o número de reclamações junto aos
órgãos de defesa do consumidor e processos na Justiça diminuirá.
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