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ALVO FÁCIL
Começa hoje, Dia do Consumidor, campanha
mundial que analisa abusos da publicidade
de alimentos dirigida ao público infantil
No Brasil,
entidades pedem
regulamentação
do marketing que
induz a criança a
comermal
CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL
LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
A publicidade de alimentos
não-saudáveis dirigida a crianças é o foco da ação mundial
lançada hoje, Dia do Consumidor, pela Consumers International. A organização reúne
220 entidades de defesa em 115
países, Brasil incluído.
A campanha, intitulada
"Junk Food Generation" (algo
como Geração da Comida Não-Saudável), tem como base a
análise de peças publicitárias e
alimentos para crianças. Ela
pretende, em nível mundial,
acabar com o marketing da
chamada junk food.
No Brasil, o que as entidades
participantes pedem é a regulamentação da publicidade dirigida ao alvo mais vulnerável do
mercado de consumo: o público infantil, de forma a atender
as determinações do Código de
Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O relatório brasileiro que integra a campanha analisa comerciais, promoções e rótulos
de produtos. O trabalho foi feito pelo Fórum Nacional das
Entidades Civis de Defesa do
Consumidor, com colaboração
do Idec (Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor).
Os critérios para a seleção
dos objetos de análise foram os
mesmos em todos os países: alimentos com altos níveis de
açúcar, gorduras ou sal (segundo parâmetros da Food Standards Agency do Reino Unido);
produzidos ou distribuídos por
alguma das multinacionais
Nestlé, Pepsico, Coca-Cola,
Mars, Kellog's, Yum, McDonald's e Burger King; e que
usam estratégias de comunicação dirigidas às crianças.
O estudo mostra que comerciais de alimentos veiculados
no país se valem de brindes,
imagens fantasiosas, super-heróis e desenhos animados para
fisgar o consumidor pequeno.
O uso desses artifícios seria
considerado abusivo caso a
proposta de regulação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), congelada há
mais de um ano, estivesse em
vigor. O artigo 6º da proposta
de regulação diz: "É vedado utilizar figuras, desenhos, personalidades e personagens que
sejam cativos ou admirados por
esse público".
Resistências
Uma das conclusões do relatório brasileiro é a de que iniciativas de regulamentação
"encontram sérias resistências
do setor empresarial, especialmente empresas de publicidade, de alimentos e meios de comunicação". Outra é que as entidades de defesa do consumidor agirão, neste ano, para a
aprovação de um regulamento
apropriado pela Anvisa.
"Todas as questões abordadas no projeto de regulamentação são desrespeitados na prática", diz Marcos Pó, 36, assessor técnico do Idec, que considera a proposta da Anvisa
"boa", mas pouco rígida em alguns pontos. Ele diz que, com
base na pesquisa, a entidade
promoverá eventos sobre o tema e um movimento de conscientização ao longo do ano.
Em vários países, é o próprio
mercado publicitário quem administra essas restrições. No
Brasil, o Conar (Conselho de
Auto-Regulamentação Publicitária) é quem teria esse papel. O
órgão reconhece, em seu Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária, que a
criança tem "menor capacidade de discernimento", mas as
interdições são genéricas. Procurado pela reportagem, o Conar não quis se manifestar sobre o assunto.
É muito fácil induzir uma
criança a acreditar que algumas
fantasias usadas nos comerciais são verdadeiras, segundo o
diretor de atendimento do Procon-SP, Evandro Zuliani. "Não
somos favoráveis à extinção
dessa publicidade, mas há uma
necessidade de regulamentar
melhor", afirma.
A análise de comerciais, embalagens e promoções de alimentos direcionados às crianças contou com a colaboração
do projeto Criança&Consumo,
do Instituto Alana, e da disciplina de Nutrologia Pediátrica
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
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