Megadrogaria apela para "bem-estar", mas não oferece muito mais que uma farmácia normal

"Drugstores" à americana escondem remédios e abarrotam as gôndolas de diversão paliativa para tédio e melancolia

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando a rede de farmácias Onofre abriu suas megalojas na avenida Paulista, o coração dos consumistas fora de hora acelerou. Claro, nem o mais necessitado esperava encontrar nelas os itens anunciados na parede: "harmonia", "paz", "equilíbrio", "energia!".
Mas, sob o pé-direito alto e o palavrório, não poderia haver ali, enfim, uma boa "drugstore" à americana? Daquelas que escondem os remédios atrás do balcão e abarrotam as gôndolas com todo o tipo de diversão paliativa para tédio e começo de melancolia? Que vendem presilhas coloridas, esfoliantes exóticos e massageadores de pés, além de ficarem no caminho de casa e não fecharem nunca?
Com um café às moscas no fundo e uma sala de "quick massage" parcialmente escondida atrás de um canteiro de seixos e bambus (que deve ter vindo junto no kit "bem-estar"), a filial da Paulista com a Bela Cintra bate na trave, quando muito. Sim, a fachada bonitinha é um alento, se comparada à concorrência, que consegue piorar o cenário já deprimente das avenidas mais feias da cidade com sua luz gelada e suas promoções de tarjas-pretas. Mas, transposta a porta alta e coberta de palavras-conceito, a oferta não é mais farta nem muito diferente do que a de uma drogaria "normal".
Curioso é que a seleção não sustenta o "conceito". No setor bem-estar, a loja carece tanto de produtos sérios, como os cosméticos da Weleda, quanto de variações originais ou, pelo menos, mais charmosas do trivial sensorial: aromatizadores, sabonetes, óleos, velas, massageadores. Também falta imaginação nas gôndolas de bebê, produtos de manicure e acessórios para cabelo; essa última oferece meia dúzia de opções, incluindo quantidades industriais de um mesmo elástico com contas. Se você leva dez, ganha uma nécessaire, outro clássico do consumo da madrugada que a loja não vende.
Nem paraíso do bem-estar, nem primor de abastecimento, a Onofre tem uma perfumaria bacana, com grifes de moda de A a Z, e um setor de maquiagem sacudido, com "consultoras de estética" que testam produtos Dior nas clientes. Com poucas linhas, e caras, não é nenhuma Sephora, aquele supermercado fino da maquiagem que um dia, se Deus quiser, alguém abre aqui. Mas, depois de um dia ruim, quem dispensaria o "make-up" gratuito?