São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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DÚVIDAS ÉTICAS
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Papel reciclado é sempre bom para o ambiente?

CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Depende do processo usado na reciclagem. "Não dá para generalizar, seria leviano dizer que um polui mais e o outro menos. Cada tipo de papel tem um processo diferente de fabricação", diz Maria Luiza D'Almeida, 55, responsável pelo laboratório de papel e celulose do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
A reciclagem pode ser prejudicial quando o papel usado é transformado novamente em papel branco, segundo Francides Gomes, 41, professor do departamento de ciências florestais da Esalq-USP. Ele afirma que o melhor é transformar o papel de escritório em embalagens. Segundo um trabalho de revisão da literatura técnica sobre reciclagem de papel, feito por Gomes, a produção de papel branco reciclado gera seis vezes mais efluentes que a de papel virgem. "Não estamos dizendo, de modo algum, que reciclar papel não é bom, mas que existem diferentes tipos de papel", afirma.
"O grande problema é o branqueamento", diz Luciano Basto, doutor em energia e pesquisador da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós Graduação em Engenharia) da UFRJ. Se o consumidor não tivesse essa preferência pelo papel mais alvo, diz Basto, todos os aspectos da reciclagem seriam favoráveis. Ele afirma que o reciclado economiza de 1,37 MWh a 3,51 MWh de energia por tonelada de papel produzido. Para Gil Anderi, professor do departamento de engenharia química da Poli-USP, o papel reciclado é mais vantajoso, no geral. "Considerando todo o ciclo de vida, o desempenho é superior ao do papel branco virgem", diz.
Mas, em uma das etapas de certos processos de reciclagem ("destintamento"), a tinta separada do papel por produtos químicos pode conter metais pesados. "E depois, o que fazer com essa tinta? Devemos nos preocupar também com os produtos usados nas impressões", diz Gomes.
Tramita no Congresso uma lei que obriga as editoras a usarem 30% de papel reciclado em suas publicações. A regra divide especialistas. "Esse projeto é bom, porque cria um mercado para esse tipo de material", diz Basto. Gomes é mais cético. "A pergunta é: vai ter papel para essa demanda?
Se essa lei passar, vai ser um tiro no pé. O país vai ter que voltar a importar aparas", diz.


*pedido do leitor
Pergunta enviada por Luana Botelho , de São Paulo, SP



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