São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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Maria Inês Dolci [defesa do consumidor]:

BEM-VINDOS, AIRBAG E FREIOS ABS


O consumidor brasileiro não está seguro porque o desrespeito às normas de trânsito é regra, não exceção


NÃO COSTUMO escrever na primeira pessoa. Nem me referir, aqui, às atividades da entidade da qual sou coordenadora institucional, a ProTeste. Peço licença, contudo, para comemorar uma vitória de nossa equipe: a sanção presidencial ao projeto de lei que torna airbags frontais obrigatórios. E a forte possibilidade de que os freios ABS (que evitam, entre outras coisas, derrapagens) também sejam obrigatórios em 2010.
Há três anos, também em março, nosso seminário de defesa do consumidor perguntava: "Automóveis: o consumidor está seguro?". Já sabíamos a resposta, formulada para provocar o debate. Dentre outras ações, fizemos um "crash test" (teste de impacto), comprovando a tese de que o brasileiro tem um carro inseguro, enquanto são exportados modelos mais seguros.
Recentemente, li que acidentes de trânsito matam 35 mil brasileiros por ano e ferem 500 mil pessoas- sendo que 100 mil destas sofrem lesões permanentes. Tudo isso a um custo anual de R$ 5 bilhões para o Sistema Único de Saúde.
O consumidor brasileiro não está seguro porque o desrespeito às normas de trânsito é regra, não exceção. Motoristas bebem e dirigem. Não somos motoristas nem pedestres educados.
Essa situação exige ações rigorosas e investimento em educação para o trânsito (coisa rara), a fim de que crianças e adolescentes se tornem, um dia, motoristas e pedestres que respeitam as normas e a sinalização de trânsito.
Mas não podemos minimizar a importância do ABS e dos airbags. A maioria de nossas ruas e estradas tem péssima conservação. São esburacadas, com desníveis na pista e outras ameaças aos incautos. Duvida? Dê uma volta em São Paulo, em qualquer rua ou avenida.
Estradas também são tratadas com tanto desmazelo que muitas delas seriam mais adequadas a filmes de terror.
Ao contrário de outros países, aqui não se julgam, de imediato, delitos de trânsito. Entram na longa e interminável fila de ações judiciais.
Não é possível, então, que nos carros brasileiros airbags e freio ABS sejam opcionais. Vida e integridade física não são opcionais.
O freio ABS, que considero o item mais importante para a segurança no trânsito, também jogará a favor dos pedestres, vítimas dessa guerra desigual entre homens e bólidos a 120 km/h. Seria ainda melhor se as novas medidas entrassem em vigor mais rapidamente.
Muitos são contra a obrigatoriedade desses itens nos veículos, alegando que encarecerão os preços dos automóveis. Toda evolução tecnológica a serviço da segurança e da qualidade de vida tem um preço. A questão é: vale ou não a pena pagar mais por isso? Não há dúvidas de que a resposta é sim.
E, considerando a importância desses itens, seria possível barateá-los por meio de uma inteligente política tributária e de fabricação.
Bem-vindos, airbag e freios ABS!


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