Preços da loja Marc Jacobs em SP contrariam discurso do estilista

Depois de 15 minutos por ali, você já começa a achar razoável um pretinho básico porR$ 1.900. Se não tem verba para encarar faz melhor em dar o fora

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em sua passagem estrepitosa por São Paulo, onde visitou na semana passada sua primeira loja na América do Sul, o estilista americano Marc Jacobs disse à Folha que "é uma ideia muito velha achar que alta moda significa altos preços". Disse também que "a moda, ela mesma, não tem a ver necessariamente com o que é caro".
Que esse papo sirva de consolo às incautas que entram na loja dele e, ao notar os produtos expostos em pedestais como peças raras, e sem preços à mostra-quem se importa?-, já visualizam a palavra "proibitivo" escrita na parede, em letras gigantes. A loja fica, claro, naquele quarteirão da pesada da Haddock Lobo onde já estão Dior, Tiffany e Emporio Armani. Há uma entrada independente e outra pela NK Store, multigrife milionária à qual está umbilicalmente ligada. Meu look "vida real" causou certa espécie nas moças que atendem, à entrada. A saída, como de hábito, foi fazer cara de fastio e tentar passar por milionária excêntrica.
Deve ter colado, porque elas me deixaram em paz, limitando-se a indicar que a Marc Jacobs está no térreo e a Marc by Marc Jacobs, mais "esportiva", em cima. Fiquei lá pensando em que perua feliz eu poderia ter sido, não fosse obrigada a trabalhar um mês para fazer, afinal, menos do que custa uma bolsa de seda bordada com flores metalizadas.
Em que pese esse pequeno detalhe, eu certamente acharia um uso para aquele vestidinho de coquetel prateado de uma seda parecendo papel, incrível (R$ 9.000); para as carteiras de couro roxo, amarelo-ouro, verde-água (R$ 3.000); ou para a jaquetinha de paetê de meia manga (R$ 3.390). Sem falar do pretinho básico de veludo molhado, cujo preço, R$ 1.900, você começa a achar bastante razoável depois de 15 minutos na loja. A esse sinal, quem não tem verba para encarar faz melhor em dar o fora.
Marc Jacobs é gênio. O humor com que reinventa os ícones do luxo, do poder e da decadência é só dele. Ademais, tenho que tirar o chapéu para um homem que recebe seus convidados grã-finos de saia, chiquérrimo. Mas, infelizmente, na falta de grana para comprar o que ele faz, vou ter que ficar com o que ele fala.