CINEMA

Linha de Passe

Metrópole protagoniza estudo sobre relações

Sérgio Rizzo

O acervo de longas representativos da vida contemporânea em São Paulo -que inclui "São Paulo S.A." (1965), de Luiz Sergio Person, "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), de Rogério Sganzerla, e "O Invasor" (2002), de Beto Brant- ganha outra notável contribuição, de matriz mais poética e humanista, com "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, parceiros também na realização de "Terra Estrangeira" (1995) e "O Último Dia" (1999).

É a São Paulo dos anos 2000 que se impõe como a principal personagem, a metrópole dos motoboys e do Corinthians a caminho do rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro -dados importantes para a família de protagonistas que acompanhamos durante alguns meses, antes e depois do aniversário de 18 anos de Dario (Vinícius de Oliveira, de "Central do Brasil" e "Abril Despedaçado", ambos de Walter Salles).

Além do aspecto simbólico da maioridade, a data é importante porque sinaliza o fim do sonho de ser selecionado em alguma peneira de um clube de futebol profissional. Dario não quer abandoná-lo. Enquanto ele se prende aos últimos fios de esperança, acompanhamos também os dramas de sua mãe (Sandra Corveloni, prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes 2008), que trabalha como empregada doméstica, e de seus irmãos (João Baldasserini, José Geraldo Rodrigues e Kaique de Jesus Santos).

A figura ausente do pai (ou dos pais) e a natureza "invisível" de personagens da metrópole são alguns dos elementos que se combinam para transformar "Linha de Passe" em um estudo, fundado no trabalho dos atores, das desgastadas relações humanas em espaço de brutalização cotidiana. Não recomendado para menores de 14 anos.