CINEMA

O Aborto dos Outros

Estreante rejeita imparcialidade documental

Ricardo Calil

"O Aborto dos Outros", longa de estréia de Carla Gallo, não deixa dúvidas quanto a sua posição sobre o tema que aborda: é contra a criminalização das mulheres e a favor de uma revisão da lei brasileira. Ou seja, trata-se de um filme que passa por cima do mito da imparcialidade do documentário, o que é um ponto de partida bastante positivo.

A diretora utiliza duas estratégias básicas para defender seu olhar para a questão. Na maior parte do filme, registra mulheres antes, durante e depois de diversas situações de aborto: realizados legalmente, em hospitais públicos (em casos de estupro e de má-formação congênita), ou ilegalmente, em operações clandestinas.

Nos momentos em que se filia à escola documental do cinema direto (que defende a mínima interferência possível da equipe na realidade retratada), o filme é de uma contundência rara.

No final, Gallo colhe depoimentos de médicos contrários à criminalização. Embora ocupe pouco tempo de projeção, essa parte enfraquece o conjunto. Tanto a tragédia pessoal que é um aborto quanto a irracionalidade com que a questão é tratada no Brasil já estavam plenamente demonstradas por tudo que veio antes no filme -sem que fosse necessário recorrer ao discurso organizado. Não recomendado para menores de 14 anos.