CINEMA

O Segredo do Grão

Longa mergulha na vida íntima de operário árabe

Alessandro Giannini

Em "O Segredo do Grão", o cineasta tunisiano Abdellatif Kechiche, conhecido no circuito de mostras e festivais pelo ótimo "A Esquiva" (2003), mergulha na vida íntima e familiar de um operário árabe do estaleiro do porto de Sète, na França.

Slimane (Habib Boufares) é despedido do emprego e, para continuar ativo aos 60 e poucos anos, decide investir em um restaurante flutuante especializado em cuscuz. Na realização do projeto, conta com o empenho da jovem enteada e a ajuda da ex-mulher.

Essa história toda serve como veículo para a discussão de diversos temas, que vão da identidade até a fidelidade, passando pela tolerância e o desapego.

Trata-se de um filme extenso e de tempos longos, nada parecido com o que se vê no grosso do cinema, da televisão e da internet hoje em dia. Uma vez que nos acostumamos com isso, no entanto, a experiência de assisti-lo adquire outra dimensão.

O mais curioso é como Kechiche coloca a sua câmera a serviço da curiosidade do espectador. Ele acompanha indiscriminadamente tanto o protagonista quanto se mistura nos diferentes núcleos que gravitam ao seu redor. É uma colcha de retalhos que, costurada pela mão do cineasta, ganha o sentido da vida.

Censura: 14 anos.