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Brasa dormida



Onda de frio na cidade. Osvaldo abriu o armário da suíte. O fiel casaco de couro o esperava no cabide. A mulher dele se chamava Anise. E deu o estrilo.
- Esse lixo você não veste mais.
- Como assim?
A peça de indumentária tinha sido comprada em Bariloche. Aí por volta de 1975.
- Não dá mais, Osvaldo. Totalmente fora de moda.
- Quer saber o que não dá mais, Anise?
O relacionamento entre os dois andava mais gasto do que sola de carteiro.
- O seu mau humor. A sua chatice.
O gesto de Anise foi impulsivo.
- Dá aqui esse casaco.
A tesourinha de unhas. A raiva de um casamento em crise.
- Operação Navalha. Corto essa porcaria em pedaços.
Um gesto firme de Osvaldo impediu o desperdício. A tesourinha caiu no chão. Roupas se embolaram no carpete. O sexo rolou em ritmo de dança argentina. Depois, na churrascaria Tiempos Viejos, um filé na brasa selou a reconciliação do casal.
Em alguns casais, o amor é como um tango. Sai de moda, mas não envelhece jamais.
 voltaire.souza@bol.com.br


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