A menos de 200 dias do início dos Jogos Olímpicos, a reforma do Centro Olímpico de Hipismo, no Complexo Esportivo de Deodoro, é tocada sem um projeto executivo totalmente concluído.
As planilhas, que deveriam estar prontas em dezembro de 2014, ou seja, há 13 meses, estão sendo concluídas à medida que a construção do centro avança. A obra olímpica está em atraso.
A falta de projetos foi um dos motivos apontados pela carioca Ibeg Engenharia, que teve o contrato da reforma rescindido na semana passada, para o descumprimento do cronograma acordado.
A Prefeitura do Rio reconhece que parte das planilhas não foi entregue. Contudo, afirma que a empreiteira não conseguiu executar sequer as obras com projetos já disponíveis. Diz ainda que não há risco de atraso na entrega para a Olimpíada, que começa em 5 de agosto.
OBRAS DO HIPISMO ESTÃO ATRASADAS
A lacuna represou repasses da Caixa Econômica Federal. A expectativa era que o banco já tivesse repassado R$ 123 milhões para a reforma do Centro de Hipismo, que tem custo total de R$ 157 milhões. Apenas R$ 37 milhões foram transferidos.
Parte se deve ao tímido avanço da reforma. Mas o sistema de acompanhamento de obras do banco informa que há pendências na apresentação de documentação técnica de engenharia.
Sem as planilhas detalhadas para verificar a sua execução no canteiro de obras, a Caixa não libera os recursos.
A confecção dos projetos básico e executivo eram responsabilidade do consórcio Vigliecca Marobal, contratado em 2013. Por R$ 31 milhões, ele deveria ter entregado os documentos em dezembro de 2014.
De acordo com a Prefeitura do Rio, o prazo não foi cumprido e o escritório Engineering foi contratado para terminar o serviço.
A administração do município afirma também que a Ibeg "se comprometeu a sanar eventuais ausências ou falhas nos projetos existentes". A empreiteira, por sua vez, diz que seu contrato não previa tal atribuição.
Contratada em julho para tocar a obra, a Ibeg desde o início enviou cartas para a prefeitura cobrando a apresentação dos projetos.
Em alguns comunicados, a empresa pede a suspensão da contagem de prazo e ameaça até comunicar órgãos de controle, como o TCU (Tribunal de Contas da União).
Um dos ofícios vêm acompanhado de avaliação de duas consultorias sobre o projeto da Vila dos Tratadores, local onde ficam os tratadores dos cavalos que participarão das competições.
Na análise dessas consultorias, o desenho é apresentado como tendo "sérios problemas de concepção".
Os avaliadores sugerem à Ibeg que o prédio não fosse construído com o projeto pois ele apresentaria "graves patologias na estrutura, devendo então o mesmo ser totalmente refeito".
Uma outra empreiteira foi subcontratada para erguer a Vila dos Tratadores.
A reportagem da Folha revelou no sábado (dia 23) que o comitê organizador da Rio-2016 cobrou a prefeitura sobre a demora na definição do projeto executivo e início da montagem das arquibancadas em todo o Complexo Esportivo de Deodoro, localizado na região norte da cidade.
Desde o início da preparação dos Jogos, Deodoro, onde fica o Centro de Hipismo, é a maior preocupação dos organizadores. Inicialmente de responsabilidade do governo federal, foi repassado ao Estado e, depois, ao município. A indefinição atrasou o início das obras.
HIPISMO EM 3 PARTES
Há três tipos de provas de hipismo na Olimpíada.
No adestramento, sob o som de música, o cavaleiro deve conduzir o animal em movimentos como passos e trotes. É conhecido como o "balé do hipismo.
Nos saltos, o competidor deve completar um percurso que tem de oito a 12 obstáculos. Nessa disputa, pesam a agilidade e a precisão.
Por fim, há o CCE (concurso completo de equitação). Inclui adestramento, saltos e cross country, que reúne obstáculos inspirados na vida rural, como pequenos lagos.
OUTRO LADO
A Empresa Olímpica Municipal (EOM) afirmou, em nota, que o atraso na entrega de todos os projetos executivos da reforma do Centro Olímpico de Hipismo, no Complexo de Deodoro, não afetou a execução da obra.
Segundo a prefeitura, as planilhas disponíveis permitiam a evolução das frentes de trabalho. Ela atribuiu à Ibeg Engenharia, que teve o contrato rescindido na semana passada, o atraso na obra.
"A Prefeitura reitera que, nesse momento, com os projetos liberados, a empresa construtora estava apta a executar as obras", diz a nota.
E continua: "A Ibeg foi expressamente orientada a melhorar o seu planejamento e executar as atividades de maneira simultânea nas frentes de obra liberadas, e não em série. Essa orientação não foi cumprida".
A empresa municipal afirma ainda que a empreiteira "se comprometeu a sanar eventuais ausências ou falhas nos projetos existentes".
Em cartas enviadas à prefeitura, a Ibeg afirmou que o município é o responsável por entregar o projeto. Diz que seu contrato não prevê a elaboração das planilhas.
'100% APROVADOS'
O consórcio Vigliecca Marobal afirmou, também em nota, que "os projetos de arquitetura, de autoria do Vigliecca & Associados, foram entregues em sua totalidade, dentro do prazo e dos critérios de qualidade e foram 100% aprovados".
O consórcio afirma ainda que o projeto da Vila dos Tratadores não é de sua responsabilidade.