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'Estamos sem material humano', diz Hortência sobre seleção feminina

Maior pontuadora da história da seleção brasileira feminina de basquete, Hortência, 56, não está nada empolgada com o time que vai disputar a Rio-2016.

Sabatinada por Camila Mattoso, Éder Fantoni, repórteres do caderno "Esporte", e Edgard Alves, colunista da Folha, nesta terça-feira (19), ela disse que todo este período olímpico foi desperdiçado e é difícil pensar em medalha.

"Não teve uma preparação lá atrás para que essas meninas chegassem muito bem. Estamos sem material humano", disse.

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A falta de uma categoria de base forte faz Hortência até defender a naturalização de jogadoras para a seleção, principalmente na armação, setor mais carente do time.

Ela chegou a entrar em contato com atletas de fora do país, quando trabalhava na CBB (Confederação Brasileira de Basquete), entre 2009 e 2013.

"As pessoas reclamam, mas o mundo todo faz isso", afirmou, sem citar nomes.

Hoje, a principal armadora do Brasil é Adrianinha, 37, que, segundo Hortência, está com problemas no tendão e não sabe se estará 100% pronta para jogar a Olimpíada.

Na sabatina, a ex-jogadora ainda disse que esperava mais da gestão de Carlos Nunes, que está à frente da confederação que administra o basquete desde 2009.

Diego Padgurschi/Folhapress
Hortência participa de sabatina na Folha
Hortência participa de sabatina na Folha

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SELEÇÃO FEMININA NA RIO-2016
"Não é fácil responder, ainda mais eu que vesti a camisa da seleção por 20 anos. Infelizmente, não tenho boas expectativas com relação à seleção feminina, diferentemente da masculina. A equipe está passando por um processo bem difícil e torço para que eu esteja errada, mas infelizmente não acredito em medalha".

PROBLEMAS NO TIME
"Temos um problema na armação. Pivô até seguramos um pouquinho. Na armação temos a Adrianinha que tem um problema no tendão e não sabemos se ela vai conseguir jogar. Ela jogou um jogo pelo América de Recife e jogou no sacrifício. Mas, em uma Olimpíada, não é tão simples assim. Vai ser a última olimpíada dela".

JOGADORA NATURALIZADA
"Lembro que quando eu estava na confederação, eu queria que eles naturalizassem uma armadora, porque ia chegar agora e teríamos esse problema. Não foi aceito porque teriam que arcar com os custos e não tinham essa verba. As pessoas reclamam, mas o mundo inteiro faz isso. Na Espanha todo mundo é naturalizado. Na Austrália, a melhor jogadora é americana. Fui pesquisar na época, dei alguns nomes, mas não foram aceitos. Agora estão tendo esse problema".

EVOLUÇÃO DO TIME
"Não teve uma preparação lá atrás para que essas meninas chegassem muito bem. Estamos sem material humano. Isso tem que começar na sub-15, sub-16. A federação está passando por um momento difícil de gestão e financeiro. Custa caro preparar uma equipe para qualquer competição".

PERSPECTIVAS DE MELHORA
"Vejo a longo prazo. Poderia começar nessa Olimpíada, usar técnico jovem, jogadoras mais novas. Mas não aproveitaram essa oportunidade. Infelizmente perdemos uma grande chance, tanto de oportunidade com patrocinadores como com o próprio Ministério [do Esporte]".

LIDERANÇA NA SELEÇÃO
"Hoje não tem. Teria que ser a Iziane, a Érika, ou a própria Clarissa, as três melhores jogadoras. A Adrianinha não sei se vai aguentar jogar. Mas seriam esses quatro nomes. Eu acho que a Clarissa hoje está em um bom momento, está na WNBA. Espero que ela faça essa liderança dentro da quadra".

TÉCNICO ANTÔNIO CARLOS BARBOSA NA SELEÇÃO
"Uma pessoa me ligou perguntando o que eu achava. Óbvio que o nome do Barbosa sempre vem à mente, mas eu não colocaria ele como treinador. Ele está acima disso. A experiência dele como gestor e técnico seguraria muito bem essa onda que aconteceu no basquete feminino. Ele tinha que estar na seleção, mas como um coordenador técnico, suportando uma geração para daqui dez, 15 anos. Mas o nome dele foi unânime. O time está em boas mãos, mas eu colocaria ele como coordenador".

Basquete

GESTÃO DE CARLOS NUNES, PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO
"Esperava muito mais. Não teve uma gestão muito profissional. A gestão do basquetebol sofre há algum tempo. Não tenho nada pessoal com ele, falo da área profissional.

ERROS E SOLUÇÕES
"A área que mais sofre é a área técnica. É a que menos tem culpa no negócio. As meninas estão aí, os treinadores estão aí, os médicos, os fisioterapeutas, mas tem que ter dinheiro para fazer um planejamento a médio e longo prazo. Planejamento a curto prazo não vai dar certo nunca. Investir na base é o óbvio, mas o maior investimento que hoje deveria ter no basquetebol brasileiro é na área de gestão. O profissionalismo da gestão da confederação. Colocar quem sabe fazer para o basquete voltar a ter credibilidade. Porque não adianta colocar o dinheiro em algo que você não acredita. O basquete precisa que as pessoas acreditem nele".

EXEMPLO A SER SEGUIDO
"Hoje tem algumas confederações em que a área empresarial fala bem. O rúgbi, o judô, o vôlei sempre foi, apesar de ter tido problema agora. O voleibol conquistou um patrocínio de muitos milhões porque conquistou resultado. O handebol está fazendo um bom trabalho, foi campeão mundial no feminino. Deixando a desejar tem o atletismo, o basquete...".

SELEÇÃO MASCULINA DE BASQUETE
"Acho que tem time para medalha. O [técnico Rubén] Magnano está preocupado porque os atletas que estão na NBA não vão jogar muito tempo antes [da Olimpíada]. Mas vejo esses meninos muito bem. Não vamos ter o [Thiago] Splitter [lesionado], mas mesmo assim é uma grande equipe. Estamos na expectativa de como vai ser a preparação deles. Quero acompanhar de perto, porque acho esses meninos uma realidade".

PREOCUPAÇÃO COM A OLIMPÍADA
"Nos outros países também tinha algo que preocupava. Em Barcelona tinha o ETA [Pátria Basca e Liberdade], que estava ameaçando, na China, o ar superpoluído. Enfim, sempre tem um problema. Não existe país perfeito que não tenha nada que preocupe os organizadores. O zika preocupa, a poluição da baía de Guanabara também, mas as pessoas não vão deixar de vir e há preparação para que isso não aconteça".

TOCHA
"Eu vou carregar, sim. Vou participar no dia da abertura, no dia 5 de agosto".

FILHO NA OLIMPÍADA
"Vai ser muito difícil, mas a gente torce para que o João Victor esteja lá [está praticamente garantido no hipismo]. A gente sabe que ele não vai ganhar medalha, porque o atleta no adestramento é o cavalo, e não o cavaleiro. Os campeões têm mais idade. Projetamos medalha para daqui uns dez anos.

FILHO NO BASQUETE
Não gostaria que ele fosse jogador de basquete. Coitado, já pensou a cobrança?".

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