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Na Jamaica, Bolt é garoto-propaganda do governo e terror dos vizinhos

"Quem é mais famoso na Jamaica hoje: você ou Bob Marley?". Usain Bolt não perde um segundo para cravar que Marley, músico morto em 1981 e que elevou o reggae a um patamar internacional, é um ícone jamaicano difícil de ser superado.

Só que quem anda atualmente por Kingston, a caótica capital jamaicana de pouco mais de um milhão de habitantes, pode discordar. Entre um museu e algumas estátuas espalhadas em pontos estratégicos, a imagem de Marley é bem menos presente do que a do velocista de 29 anos, seis ouros olímpicos e os recordes dos 100 m e 200 m.

A figura de Bolt, hoje, representa para a Jamaica mais do que o nome do país novamente em evidência mundial. Pode ser até questão de saúde.

Neste sábado (23), por exemplo, no mesmo dia em que o astro recebeu jornalistas brasileiros para uma entrevista entre as filmagens de um comercial, centenas de crianças foram até uma praça na região central de Kingston para serem vacinadas.

O garoto-propaganda é Usain Bolt, o que, segundo o governo, fez com que dobrasse a adesão de crianças vacinadas, que sonham ser igual ao ídolo. O mote do projeto: "receba a vacina em busca do ouro".

"Quero estar no meu país, ajudar o meu país. Não tem motivo de não estar aqui", disse Bolt, que mora e treina em Kingston.

Sua casa está em Norbrook, bairro de classe alta afastado cerca de 12 km do centro da capital. Ali Bolt sonha, quando encerrar a carreira, provavelmente em 2017, construir uma pista para corrida de motos, sua paixão ligada à velocidade, além de correr e de carros.

Os vizinhos, entre moradas que têm até heliportos, não devem gostar quando sabem do desejo, pois atualmente os barulhos de motos e de festas na casa de Bolt já são suficientes para as reclamações.

Em maio de 2015, a mulher do cantor jamaicano de hip-hop Sean Paul fez escândalo nas redes sociais do barulhento vizinho.

Nos últimos meses, porém, Bolt foi visto com uma namorada, anônima, com quem diz agora preferir ir ao único cinema de Kingston, o Palace, e a restaurantes. "[risos] Amando? Tenho uma namorada, nesses momentos é melhor a discrição", diz.

DINHEIRO

Bolt treina na Universidade de West Indies, em uma pista nova e, segundo ele, que não deve nada a qualquer equipamento do mundo. Outros velocistas jamaicanos, como Asafa Powell, 33, ouro em Pequim-2008 com Bolt no revezamento 4x100 m, e a bicampeã olímpica dos 100 m Shelly-Ann Fraser-Price, 29, trabalham na rival Universidade de Tecnologia.

Dois quilômetros separam as universidades, mas ambas investem no atletismo bancadas por patrocinadores dos atletas, como a Puma, que está com Bolt desde 2003 e o paga cerca de US$ 10 milhões por ano.

"Quantos patrocinadores já tive?", a pergunta pega Bolt de surpresa e ele aciona Gina Ford, sua agente comercial.

"Dezessete", ela crava. Hoje são nove, incluindo o banco brasileiro Original, que vai desembolsar cerca de R$ 10 milhões pelo acordo que vai até a Rio-2016, em agosto.

Segundo a Forbes, Bolt recebeu US$ 21 milhões em 2015, dinheiro que é todo administrado por uma empresa. O velocista admite não ter ideia de suas propriedades e dinheiro. O que ele sabe mesmo é correr, nas pistas e com seus carros de estimação. Quando não está no volante, somente alguns de seus amigos, aqueles estilo "parças" como os que Neymar tem, podem guiar.

Marcel Rizzo/Folhapress
Usain Bolt durante gravação de vídeo para patrocinador
Usain Bolt durante gravação de vídeo para patrocinador

BAIXAR TEMPO DOS 200 M É O OBJETIVO DE BOLT NA RIO-2016

Detentor dos recordes dos 100 m (9s58) e dos 200 m (19s19), ambos de 2009, Bolt está obcecado em derrubar a segunda marca.

É seu principal objetivo na Rio-2016. "O sonho seria baixar para 18 segundos, mas é algo bem difícil. Baixar é possível, é o trabalho duro que estamos fazendo", disse Bolt.

Os Jogos do Rio serão, provavelmente, os seus últimos. Bolt não tem mais cravado a questão da aposentadoria, mas já havia afirmado anteriormente que seu limite seria o Mundial de 2017, em Londres. Pararia beirando os 31 anos.

"Poderia pensar em correr novamente uma Olimpíada caso me machucasse agora. Mas se for superado por alguém, por exemplo, não teria motivo. Estaria apenas indo abaixo na carreira", disse Bolt, deixando claro que pretende parar no auge.

Mesmo aposentado, Bolt deve continuar faturando. Recentemente, por exemplo, ele fechou contrato com uma empresa aérea japonesa, a partir do fim da Rio-2016, para ser o garoto-propaganda até Tóquio, em 2020.
Em Kingston, abriu um bar, o Tracks and Records, que é uma franquia. Tudo remete ao velocista: logo na entrada, há painéis com os recordes dos 100 m (9s58) e dos 200 m (19s19).

Para se conectar ao wifi, é preciso colocar a senha, que é o nome do bar e tempo recorde dos 100 m. Em um sábado à noite, a fila para entrar no bar, em um shopping movimentado na cidade, dobra o quarteirão.

Ele avalia que o jamaicano Yohan Blake, 26, possa ser seu substituto como o rei das provas de velocidade no atletismo.

E já sabe algumas coisas que estará fazendo quando parar, vendo Blake correr.

"Tomar uma Guinness [marca de cerveja] na Irlanda, pular de para-quedas e fazer tour por grandes cidades, que ainda não tive tempo", cravou o velocista.

O jornalista MARCEL RIZZO viaja a convite da Nissan.

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