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Levantadora da seleção de vôlei se empenha para ser a maestrina do tri

Para realizar o sonho de ser a maestrina do tricampeonato olímpico nos Jogos do Rio, a levantadora da seleção brasileira feminina de vôlei Dani Lins, 31, trabalha duro no centro de treinamento da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), em Saquarema.

Ainda nas primeiras horas do dia, lá está a pernambucana, praticando levantadas em posições definidas por Zé Roberto, técnico da seleção.

Intercala altura e velocidade das jogadas com o intuito de, durante os Jogos Olímpicos, em agosto, deixar o bloqueio adversário sem saber de onde virão as pancadas em direção ao piso laranja.

A repetição é para que os movimentos saiam com naturalidade e precisão quando o lugar mais alto no pódio estiver em jogo.

Vida de atleta - Dani Lins

Tal qual o maestro de uma orquestra, é o levantador quem cria o ambiente para os "músicos" brilharem. "É ela quem dita a batida de todos os ritmos", explica o técnico.

Em tese, todas as jogadas passam —ou deveriam passar— por suas mãos. O trabalho do levantador é comparável ao do meia no futebol, que dá um passe na certeza de que o atacante estará correndo na mesma direção.

Com uma finta de corpo, Dani manda, muitas vezes de costas e sem olhar, a bola para o sentido oposto ao que se espera, deixando o atacante livre para soltar o braço. Distribuir as bolas é essencial para não sobrecarregar um integrante específico e reduzir sua capacidade de pontuar.

"Se vejo que o ritmo está muito acelerado, eu vou lá e tento diminuir um pouco. Se está muito devagar, dou uma apimentada", afirma Dani.

Bola no chão, mérito, em parte, de quem levanta. Um erro da "maestrina" e ninguém vira o ponto.

Não é raro ver em quadra dois jogadores fazendo o movimento de cortada ao mesmo tempo, de forma proposital —por isso a necessidade de jogar por música.

"Dani sempre teve um dos melhores gestos técnicos do mundo", afirma Zé Roberto.

O treinador se refere à forma como ela toca na bola com os dedos, à velocidade que imprime às jogadas e à precisão com que coloca suas companheiras de equipe na cara do gol —no caso, da rede.

EX-ATACANTE

Essas habilidades, valiosas no vôlei de alto rendimento, foram descobertas nos idos de 1998, quando Dani arriscava as primeiras cortadas como atacante, no colégio em que estudava em Recife.

O técnico a trocou de posição quando percebeu que seu futuro como levantadora poderia ser mais promissor.

A atleta foi convocada foi para a seleção pela primeira vez em 2009. Fora do time brasileiro, atua pelo Osasco, time que teve quatro convocadas para os Jogos —Adenízia, Camila Brait e Thaissa.

Os Jogos do Rio serão sua segunda Olimpíada na posição. Em Londres-2012, contudo, não foi titular.

O time fazia apresentações ruins até a semifinal contra a Rússia, quando venceu após salvar seis match points. Dani foi apontada como uma das jogadoras que ajudou o Brasil na reação após sair do banco.

A torcida, que no quarto set entoou o grito de "o campeão voltou", deu um gás extra às meninas do Brasil.

Na semana passada, um canal de esportes a cabo reprisou a partida contra a Rússia. "Mesmo sabendo o resultado, eu ainda ficava nervosa", diz a levantadora.

BUSCA DA PERFEIÇÃO

O treino diário com bola é seguido de musculação, principalmente para as pernas, que irão garantir o melhor posicionamento em quadra no menor tempo possível.

"O Zé fala para gente ficar sempre com a perna forte e rápida. Estamos treinando pesado para ficarmos bem coletivamente", diz.

Dani trabalha para garantir a presença no topo do pódio pela terceira vez e também para gravar de forma definitiva seu nome no hall das maiores levantadores que o país já teve, ao lado de Fernanda Venturini e Fofão. É a favorita para ser titular.

Fofão era conhecida pela serenidade. Venturini, pela seriedade. Dani quer ser lembrada como uma atleta habilidosa, descontraída e capacitada a liderar a equipe.

Ela divide com a capitã Fabiana Claudino, bicampeã olímpica (2008 e 2012), o trabalho de orientação das jogadoras mais jovens.

"Dependendo do momento, se está muito tenso para alguma jogadora, eu me aproximo e falo alguma coisinha para ela se soltar, dar uma risada", afirma.

"Se a gente percebe que o Zé brigou com alguém e a jogadora ficou tensa, eu falo 'Fabi, a gente tem que chamar a fulaninha pro jogo'".

Dani ainda não está sentindo a pressão de disputar os Jogos em casa. No entanto, sabe que haverá cobranças por uma atuação "perfeita".

"Vamos fazer de tudo para estar no pódio e ser tricampeãs, mas vai existir pressão, sim, e estamos nos preparando para isso. Sabemos que o brasileiro encara tudo como futebol e que a cobrança é muito grande", afirma.

PASSEIOS E SERIADOS

Para quem observa de fora, a rotina de Dani Lins no centro de treinamento da seleção brasileira parece monótona.

As atividades são basicamente dividas em treinos pela manhã, academia, pilates, almoço, descanso ou período livre, lanche, treino no fim da tarde, jantar e cama.

Sempre que pode, ela dá um pulo no centro de Saquarema para passeio e compras.

Quando não tem companhia, usa o tempo livre para assistir a séries de TV, hábito que desenvolveu com seu marido, também jogador de vôlei e central da seleção masculina, Sidney Júnior, o Sidão.

"Estou assistindo agora 'Vikings', que é meio parecido com 'Game of Thrones'. O Sidão já está na quinta temporada e eu quero acompanhar, mas vai demorar para chegar lá", disse ela, que acompanha também "Prision Break" e "Dexter".

Dani diz que tem certa dificuldade de ficar parada. Agitada, conta que recebeu de uma amiga a indicação de um aplicativo de celular que sugere 20 minutos de meditação diária. Nunca conseguiu cumprir a proposta.

"Um dia eu tentei [meditar], mas quando percebi estava de olhos fechados pensando no que eu iria fazer mais tarde naquele dia. Eu não desligo", admite.

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