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Hoje vovó, 'garota de Ipanema' levará tocha olímpica no bairro carioca

É fogo esta mulher. Aos 17 anos, já arrasava quarteirão, precisamente o da rua Montenegro, em Ipanema, no Rio.

Cabelos negros, olhos azuis, 87 cm de quadril e de busto, 60 cm de cintura e 54 kg distribuídos por um corpo de 1,71 m que deixaria de queixo caído Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, assíduos frequentadores do bar Veloso, nos idos de 1962.

O tempo, sempre tão implacável com os pobres mortais, parece ter sido mais complacente com a musa da bossa nova: 54 anos depois, ela ganhou 4 kg, 15 cm de cintura e 8 cm de quadril e de busto (os 250 ml de silicone em cada seio garantiram a manutenção das proporções).

O rosto, é claro, levou algumas picadas de Botox, a altura recuou 1 cm, mas a eterna garota de Ipanema, agora "blondie", continua carregando a chama. Em 5 de agosto, abertura da Rio-2016, é ela que vai desfilar, num doce balanço, com a tocha olímpica pelas ruas do bairro que ficou conhecido no mundo todo.

Bailarina, dançarina de "aerojazz", aos 70 anos de idade, Helô Pinheiro esbanja energia. Nas duas horas e meia deste ensaio para a Folha, pulou, fez caras e bocas, brincou e, com a cuca fresquinha de uma menina, relembrou fatos de sua trajetória.

"Aos quatro anos, sofria de bronquite asmática", conta, sotaque carioca indisfarçável, apesar de desde 1975 morar no paulistano bairro de Alto de Pinheiros. "O médico recomendou que a gente se mudasse para perto do mar", diz Heloisa Eneida de Menezes Paes Pinto, nascida no subúrbio carioca do Grajaú.

A pequena Helô tinha dez anos quando a família se mudou para o número 22 da rua Montenegro, quase esquina com a Vieira Souto. Pertinho dali, na atual rua Vinicius de Moraes, ficava o Veloso, ponto de encontro de músicos, escritores, de onde, alguns anos mais tarde, seria possível avistar a garota em seu passeio a caminho do mar.

Não raro, despojada, de calça saint-tropez, camisa de manga longa dobrada, laço estrategicamente amarrado para esconder o umbigo, ia comprar cigarros, "Continental, de filtro vermelho", para a mãe, dona Eneida.

Milan Alram
Helo Pinheiro em 1960, foto de Milan Alram. ILUSTRISSIMA. NAO USAR ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Helô Pinheiro em 1960, na praia que lhe deu fama mundial

FESTA DA ABERTURA

Helô Pinheiro conta que, ao participar do revezamento da tocha, irá reviver os momentos que lhe garantiram fama. O convite partiu de Eduardo Paes (PMDB). Diz o prefeito do Rio: "'Garota de Ipanema' é a canção que projetou a música popular brasileira no mundo inteiro. Então, nada mais justo que a própria garota de Ipanema, Helô Pinheiro, musa inspiradora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, conduza a chama olímpica pela orla da praia no bairro que dá nome à música".

A possível participação na festa de abertura das Olimpíadas não está descartada.

O fã-clube será acionado para engrossar a plateia que assistirá ao revezamento da tocha. Os quatro filhos e as duas netinhas, assim como o marido de 50 anos de casamento, também estarão lá.

E, é claro, os holofotes da imprensa internacional –Helô vem sendo assediada por repórteres de redes de TV da Alemanha, do Japão e da França, ansiosos por conhecer o mito que imortalizou o bairro da zona sul carioca.

Um coral entoará os versos que tornaram a canção a segunda mais gravada do mundo, só atrás de "Yesterday", clássico dos Beatles.

"Quero levantar a tocha sem tremer", diz, em tom de brincadeira. "Estou vibrando com a expectativa. Estamos passando por um momento tão delicado, né? Espero que, assim como o Cristo, a gente receba o mundo de braços abertos." Oxalá!

Naqueles 200 m do trajeto até a orla, o mundo inteirinho, ao menos o de Ipanema, espera Helô Pinheiro, se encha (mais uma vez) de graça.

Tocha olímpica

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