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Pesquisadores veem baixo risco de zika em agosto e criticam ideia de adiar Jogos

Três pesquisadores na área de saúde enviaram uma carta à revista britânica "The Lancet", uma das principais do mundo na área médica, contestando carta escrita por 150 cientistas e endereçada à OMS (Organização Mundial da Saúde) pedindo o adiamento dos Jogos Olímpicos do Rio em razão do risco de contrair o vírus zika.

A carta, divulgada na semana passada, aumentou a polêmica em torno da ameaça da doença aos atletas que forem ao Rio para os Jogos. Na esteira de sua publicação, o jogador de basquete espanhol Pau Gasol, do Chicago Bulls, por exemplo, disse que considerava não disputar a Olimpíada.

"Se você não estiver grávida e decidir evitar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro por medo de contrair zika, pode encontrar um motivo melhor; há muitos outros", dizem os pesquisadores Eduardo Massad, Francisco Coutinho –ambos da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo)–, e Annelies Wilder-Smith, da Lee Kong School of Medicine, de Cingapura, segundo informação veiculada pela Agência Fapesp.

Massad é membro da Rede de Pesquisa sobre Zika Vírus em São Paulo (Rede Zika), apoiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Marcelo Sayão/Efe
BRA01. RIO DE JANEIRO (BRASIL), 14/08/2015.- Fotografía de archivo del 11 de agosto de 2014 de la Marina da Glória y la Bahía de Guanabara donde se llevarán a cabo las competiciones de vela de los Juegos Olímpicos Rio 2016. El Comité Organizador de los Juegos Olímpicos de Río de Janeiro 2016 utiliza diversos tipos de bacterias para limpiar las aguas del puerto deportivo de la Marina da Gloria, en el que se disputarán las pruebas de vela, confirmaron hoy fuentes oficiales. "Es una de las maneras más innovadoras de frenar la polución del agua, dejando que la naturaleza se encargue de su limpieza", dijeron a Efe fuentes del Comité Organizador del evento deportivo. EFE/Marcelo Sayão ORG XMIT: BRA01
Vista aérea da Marina da Glória, no Rio

Segundo a agência, no texto, que ainda será avaliado pelo periódico, os especialistas em modelagem matemática e epidemiologia comparam o risco de infecção pelo vírus zika durante a Olimpíada, em agosto, com o risco de contrair dengue, que é considerado baixo no período de inverno.

"Nós calculamos o risco individual de infecção pelo vírus da dengue durante a Olimpíada, que é de 0,0005 [5 casos a cada 10 mil pessoas]. O risco individual de contrair zika é de 0,00003 [em torno de três casos a cada 100 mil visitantes]. Se são aguardados em torno de 500 mil turistas, teríamos aproximadamente 15 pessoas infectadas, sendo dez casos assintomáticos e cinco com sintomas", afirmou o pesquisador à Agência Fapesp.

Segundo Massad, o cálculo tem como base o número estimado de casos de zika no Brasil em 2015, que seria entre 500 mil e 1,5 milhão.

"Se a distribuição dos casos de zika ao longo dos meses for igual à da dengue –e não tem por que ser diferente, pois a doença é transmitida pelo mesmo mosquito e é o vetor que determina a sazonalidade–, podemos afirmar que o risco de contrair zika em agosto é de 1/15 que o de contrair dengue", disse Massad.

No texto enviado à "The Lancet", os cientistas afirmam que há aproximadamente dez vezes mais risco de uma mulher ser estuprada no Rio de Janeiro ou de um homem morrer após levar um tiro. "Claro que tudo isso são estimativas muito cruas e, embora o risco seja muito baixo, nós recomendamos que as grávidas não venham para os jogos. Mas não é o caso de adiar ou transferir o evento", opinou Massad.

A pesquisadora Débora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília), uma das 150 signatárias da carta enviada à OMS, discorda.

"Não sabemos sequer a taxa de ataque do zika na população, por exemplo. Como a notificação compulsória dos casos de infecção pelo vírus só passou a existir em janeiro de 2016 no Brasil, tampouco sabemos a história da doença, crucial para poder traçar estimativa de risco futuro. Ou seja, esses números precisam ser acompanhados do alerta da dúvida", avaliou.

À Agência Fapesp ela disse ainda que não são apenas as gestantes que estão em risco, mas todas as mulheres em idade reprodutiva, os homens que se relacionam com essas mulheres e seus planos reprodutivos conjuntos.

"A mais nova recomendação da OMS, por exemplo, sugere que homens com sintomas de zika aguardem seis meses antes de planejar uma gravidez com uma parceira. É sobre a reprodução de uma população que estamos falando. Infelizmente, nos parecem vários bons motivos para decidir evitar os Jogos Olímpicos do Rio", concluiu.

MINISTRO VÊ EXAGERO

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, voltou a rebater nesta quinta-feira (2) a carta divulgada por 150 cientistas que recomendam adiar ou transferir a Olimpíada devido ao surto do vírus zika. Para o ministro, a recomendação é um "exagero".

"Acho que é um exagero, um excesso de zelo. O zika está em 60 países e atinge 1,3 bilhão de pessoas. Não são as Olimpíadas que vão aumentar ou diminuir a propagação do vírus", disse Barros após o evento em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações sobre a liberação de R$ 65 milhões para pesquisas sobre o zika. 

Segundo Barros, a posição da diretora da OMS, Margaret Chan, de comparecer à Olimpíada indica que o evento é seguro e que o período é de baixa transmissão do vírus. "É uma demonstração pessoal de apoio às medidas que tomamos". 

Apesar da posição do Ministério, a avaliação dentro do governo é de que é preciso mais esclarecimentos sobre o tema na tentativa de evitar um impacto negativo na imagem do evento. Nos próximos dias, o ministro deve se reunir com embaixadores e jornalistas estrangeiros para esclarecer o caso.

Na carta divulgada à OMS, os cientistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam "antiética" a manutenção dos Jogos no Rio. Entre os signatários estão Philip Rubin, consultor científico da Casa Branca, médicos e especialistas em ética médica de instituições como as universidades de Oxford, no Reino Unido, e Harvard e Yale, nos Estados Unidos. 

Os especialistas alertam que, apesar dos esforços para detê-lo, o número de infectados aumentou recentemente no Rio.

Para Barros, não há risco. "Todas as medidas necessárias para controle de endemias foram tomadas. Não há nenhum risco maior para quem frequentar as Olimpíadas", disse.

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