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Exército diz que pode punir militar por morte de onça após revezamento da tocha

A morte da onça-pintada Juma, que foi exibida durante passagem do revezamento da tocha olímpica por Manaus, nesta segunda-feira (20), será averiguada pelo Exército.

Em nota, o CMA (Comando Militar da Amazônia) informou que o CIGS (Comando de Instrução de Guerra na Selva) determinou abertura de processo administrativo para analisar o ocorrido.

De acordo com coronel Evelyn, chefe de comunicação social do CMA, a sindicância pode gerar sanções e impedimentos contra o militar que estava a cargo de guardar Juma.

O prazo inicial é de que haja uma conclusão em 30 dias. Se não houver, em até outros 30. "Nossa consternação é enorme", disse o coronel. Ele disse que Juma estava no batalhão havia cerca de nove anos.

Juma morreu no final da manhã desta segunda, depois de escapar de sua jaula de proteção no zoológico do CIGS, no bairro São Jorge, na zona oeste da capital do Amazonas. O centro estava fechado, sem visitação pública, como em todas as segundas-feiras.

Jair Araújo/D24
 Onça-pintada Juma é morta com um tiro após evento da Tocha Olímpica, em Manaus. Ao menos dez militares faziam a segurança da onça-pintada Juma (Foto: Jair Araújo/D24)
Onça-pintada Juma é morta com um tiro após evento da Tocha Olímpica, em Manaus. Ao menos dez militares faziam a segurança da onça-pintada Juma (Foto: Jair Araújo/D24)

Primeiro, um tratador foi tentar resgatá-la e houve disparo de tranquilizante. O projétil não a acalmou e ela partiu em direção a um militar. Segundo o CMA, "como procedimento de segurança, visando proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores", foi desferido um tiro com pistola, que foi fatal.

O corpo do animal ainda está no zoológico, à espera dos procedimentos para enterrá-lo. "Foi uma fatalidade, sem ligação com o evento da tocha. [O óbito] poderia ter sido ontem, como poderia ter sido hoje", acrescentou o coronel.

Na manhã desta terça-feira (21), o CIGS estava aberto e funcionava normalmente –o comando cobra R$ 5 por visitação. Um pessoa consultada pela Folha disse que não tinha autorização para falar sobre o sacrifício da onça, que o somente o CMA se pronunciará.

Uma outra onça, chamada Simba, também foi apresentada dentro do CIGS durante o revezamento da tocha, mas em uma área interna.

O coronel afirmou ainda não ter sido notificado pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), que disse que o Exército não tinha permissão para apresentar duas onças no revezamento da tocha –apenas uma e, no caso, Simba.

Em nota, o Ipaam disse que não foi feita nenhuma solicitação pela autorização da presença de Juma na passagem da tocha.

"Se for determinado que não se deve mais usar [animais em eventos], não vamos mais usar. Ainda não recebemos notificação do Ipaam. Mas é para isso que estamos fazendo a sindicância", concluiu o coronel, em referência à apuração do caso e procedimentos.

Segundo reportagem do site "Amazônia Real", o Ipaam, órgão estadual responsável pelo meio ambiente, afirmou que, se o CMA for punido ao final da investigação, poderá ser multado de R$ 3.000 até R$ 300 mil por "descumprimento de autorização previsto no decreto federal nº 6.514/2008 [que dispõe sobre sanções a crimes ambientais]″.

Ainda segundo o site, a onça-pintada, maior felino do continente americano, teve uma redução populacional de 30% nos últimos 27 anos no Brasil. Na Amazônia, neste mesmo período, foi observado um declínio de ao menos 10% da espécie na região.

Os números foram divulgados no estudo "Avaliação do risco de extinção da onça-pintada (Panthera onca) do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade), em 2013, e publicado pela Amazônia Real.

Ao "Amazônia Real", Mário Reis, superintendente do Ibama, disse que é preciso ter cautela para expor animais silvestres em eventos populares.

"Desfile militar é uma coisa, é diferente, os animais são preparados, tem uma distância de segurança mínima. Agora eventos como esse [da Tocha Olímpica] é preciso analisar. Nós não temos como analisar as circunstâncias desse abate, estamos aguardando um relatório do Exército sobre o caso", disse.

Juma foi exibida durante passagem do revezamento da tocha olímpica por Manaus porque a ideia era ressaltar, por meio da figura da onça, a riqueza ambiental do Amazonas. A onça também é um dos símbolos da CIGS.

Um abaixo-assinado foi criado na internet para pedir a punição dos responsáveis pela morte de Juma.

O jornalista MARCEL MERGUIZO viaja a Manaus a convite do Bradesco

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